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segunda-feira, 21 de abril de 2008

Fogão a lenha

Fogão a lenha numa praça central
Cercado pelas paredes de prédios altos.
Uma panela de barro, a brasa ardendo,
Uma mulher cosendo a roupa rasgada.
Faróis abrindo e fechando,
A madeira trepidando,
A cumbuca de água fresca
Com um pouco do suor dos transeuntes.
Uma barulheira total, gente sentada nos bares.
Do lado de fora, um pileque num trago de cachaça
E a conversa se dá em torno dos mascates.
O feijão borbulhando,
Um cheiro de fumaça misturado com o tempero
Se funde com as paredes manchadas
Transformando-se num incenso pelo âmbar queimado.
Uma menina escancara um sorriso
Pelo presente de uma boneca em farrapos.
A madame ostenta sua grandeza através
De uma bolsa lustrosa.
Um velho carvalho protege do sol escaldante
E, na cozinha de chão batido,
O silêncio rumina uma verdade que já está bem distante.
Uma buzina abusada remove a emoção,
Telhado de palha, teto de nuvens cinzentas,
Que espalha e expande nossa saudade.

Taramelas trancam-nos do medo,
Alpercatas calçam-nos do segredo
De andar conforme o caminho.
O bolo de fubá, o quiabo e o maxixe,
E a doceira é meiga e selvagem nessa selva de pedras.
Luvas e calos, mãos e trovejos na essência madura.
O fogão cozinha o pão, assa o contentamento
Como um forno de barro, primeira estripulia
Que marcou um jeito de ser, de fazer e sentir
De um menino que a malinesa da vida não pôde deixar de polir.
A velha preta, Dona Quelé, já lavou os seus pés
E ensinou-o a lavar também,
Avó de ébano, filha da áfrica que se misturou
Com o cândido do sorriso
E que agora se faz preciso nessa peleja de vida:
Fogão de barro, asfalto e desmedida.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Lampejos

Estamos indo de volta pra casa
Estamos na espera
Um cansaço, um olhar divagando vagamente
Estamos no ócio da peleja que já é sobeja,
Que já é somente passageira enquanto amanhã
Está ainda mais perto.
Estamos indo...
Um alívio, de repente um aperto
Estamos no cerco de nós mesmos,
Estamos cansados.
Estamos indo de volta para casa
Uma parada, mais chegada,
Uma mulher amparada, uma barriga pesada,
Estamos indo...
Uma paisagem distante, uma emoção devaneada,
Uma canção compartilhada e guardada num traje despojado,
Uma mansão bem pintada e ladrilhos ornando a entrada dos homens,
Estamos indo...
Um carro suspenso, uma oferta.
Outro passando enquanto
A vida passa através dos vidros,
Os olhos esmerados,
Lavados pela lágrima que somente lava a poeira da rua,
Estamos indo.
Estamos indo de volta para casa,
Um farol fechado, vermelho nas mãos,
Uma senhora suando, as pernas desabando,
Estamos indo.
Uma menina tagarelando, Gabriele sorrindo,
Uma mãe confortada pela cria divina,
Estamos indo.
Estamos indo de volta para casa,
Uma freada, um pinheiro, um ipê roxeado
E o roxo do castigo de comprar a escolha,
A bolha e a folha que não são transparentes.
Estamos indo de volta para casa,
Uma porta, um silêncio,
O que importa do momento,
O corpo encostado,
A vida atrelada às exigências do tempo,
Às quimeras de que precisamos sempre vencer.
Estamos indo de volta para casa,
Pois é preciso viver.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Manhã de Abril

Na manhã de Abril,
Meu dia abriu-se num estio
Com uma lembrança que aconchega e acalma.
Uma mensagem enviada e revelada
Por um calor febril de horas céleres,
Horas que o tempo não apaga,
Nem a fumaça do encontro se acaba,
Nem se esvai pelo cansaço da beleza.
Na manhã de Abril,
O toque mais sutil na pele
Foi a causa do arrepio,
Foi o beijo que em deslize invadiu,
O sabor que ainda vejo quando meus olhos estão fechados.
Sendo vã essa caminhada,
Sendo longa a estrada,
Meu coração é atroz e vive em função dessa loucura desenfreada.
Mas ouço uma canção que traz calma,
Que faz um riso estender-se em minha face:
Sou louco sim. Sou pouco em mim.
Mas sou desmanchado nessa certeza de que vale a pena me perder,
De que vale a pena não entender o que se passa
Entre o motivo da lágrima derramada
E a circunstância de estar leve voando entre nuvens
Imaginando, apenas, que agora é mais importante
Por, simplesmente, saber amar.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Inexplicável

Não tenho nome para nossa relação,
Nem tenho razão alguma.
Não sei dizer por que minha loucura é apenas
Estar em constante procura,
Nem tenho certeza alguma.
Não posso saber por que meu corpo pede o teu,
Nem sei o motivo pelo qual minha boca se sacia com a tua.
Não sei por que minha paz é estar com o meu corpo
Preguiçoso deitado sobre o teu,
Nem tenho vontade de me levantar.
Não sei por que não te esqueço,
Nem sei se te mereço.
Não sei por que sempre me chamas de teu garoto,
Nem por que fico com um sorriso meio maroto
Com os lábios semi-serrados olhando em teus olhos
Algum segredo que eu não saiba descobrir.
Não sei por que sempre me fujo de mim,
Nem por que sempre me encontro em ti.
Não sei por que sempre me inundo na imensidão de teus enigmas,
E me perco quase toda vez no labirinto dos teus mistérios.
Talvez, a resposta esteja na saudade que sempre deixamos para o outro,
Mas ainda assim, não sei por que me fazes tão feliz.
Uma coisa eu sei: o amor não pede explicação.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A bolsa de chuva

Minha bolsa de chuva somente em noite turva carrega uva
Noite como um céu coberto com um véu esbranquiçado.
Ah! Lá onde o carteiro faz suas entregas há um mar...
Um mar de gente esperando contente o que tenho para entregar:
Uma gota bem geladinha de água fresca e limpa...
Sabe para quê?
Ora! Para refrescar.

E as uvas? Não diga que também há luvas?
Há luvas sim. Luvas em louvor das mãos cansadas
Mãos que carregam minhas alças pesadas,
Minhas calças rasgadas...
Uvas...

Pois é. Eu visto calças...
Calças calcinadas de um tom marrom.

Eu carrego um pouco do que visto,
E visto um pouco do que faço
E espalho por onde ando
Sem intenção em pesar,
Mas peso feito chuva fraca que não acaba.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Desalinho

Se você me encontrar acocorado em algum lugar
Não se esqueça de chegar bem de mansinho
Para não me assustar.
Outras coisas acontecem em redor,
O vento passa devagar e desalinha os cabelos brancos,
A noite alveja minha criança que esperneia o coração.

Se você souber dizer o que acontece,
Diga logo sem ter medo,
Pois acordo cedo e vejo uma prece em seu olhar.

Já vesti minhas lembranças,
Já esqueci minhas andanças,
E agora estou entregue ao que a vida sempre nos traz.

Já pintei uma aquarela,
Já espantei a sentinela
Que me espreitava através da euforia tão tenaz.

E, nesse verso em desalinho,
Sou menino aqui no ninho
Que somente quer ter paz.

Se você me encontrar, diga ao menos um olá,
Mas não me apresse em demasia,
Pois já cansei dessa folia
De não saber me descansar.

Balise

Para cada sonho de existir
Sendo o trunfo da canção
Versejando a razão que bate em nosso peito.
Há o véu de bons momentos,
Singelos gravetos dessa vida
Ajuntados com muito capricho
Para cercar nossa saudade.
Quando o tempo parecer apenas um fio,
Apenas um rio de muitas águas
Que banha nossa vontade,
Que preenche o coração de bons amigos,
Nossa vida será de grande valia
A cada hora que o verbo nos lembrar.
E, a cada instante que o verso se derramar
Em canteiros de pura poesia
Durando apenas enquanto a mão se estende
Regando com encanto, o quanto pode ser
Do que o sorriso pode explicar,
Tu serás a palavra e o sentimento,
O sabor e a afeição,
A razão do que o momento
Pode oferecer aos olhos da imaginação.

A noite de meu bem

A noite, em sussurro, chegou diante de mim,
Postou-se como pedra muda, fez-se de surda
E cobriu-me com seu véu de saudade.
Sinto-me pobre de amor, dono da dor que me preenche
Sinto-me perdido na vontade perene
Que me escraviza e suaviza meu medo.
A noite serena, melancólica e chorosa
Realiza meu desejo de sorte,
Preenche minha angústia com um toque de querer somente você,
De querer ser eternamente dono do amor
Que emana desse coração seu.

domingo, 6 de abril de 2008

Faces do acaso

São tantas faces, essas faces minhas.
Tão soltas à toa por estas linhas
Que nem lembro mais o que quero escrever.
Nem lembro daquelas que ainda hei de ver.

São tantas em volta pelo caminho
Que às vezes me esqueço que estou sozinho
E me encho de sorrisos de faces ausentes
E ausento-me da tristeza de outras gentes.

São tantos olhares, um tanto efêmeros,
Outras tantas palavras diferidas em gênero,
Como são tantas as frases proferidas
Nos caminhos cruzados de nossas vidas.

São tantos instantes surgidos do nada.
Pessoas diversas da nossa estrada.
E agora o que faço com esse impasse?
De onde vêm? Para onde vão todas essas faces?

Fidúcia

Toda pronúncia é o prenúncio da alma,
Calma e transparente
Que é diligente, que é da gente.
A renúncia pelo zelo,
A astúcia pelo elo,
Singelo jeito do falar,
Apenas igual o ouvido entende
Que tende do usual ao formal.
A fidúcia já era antes rústica
E agora, bela e prateada na língua
De quem condena a origem da verdade,
Serve de forma para moldar o imoldável:
A palavra serve para vestir a nossa necessidade.

O Tênis

O tênis de Denis
É igual sapato de pato.
Com um cadarço em laço
Deixa os dedos pra fora,
E é bem nessa hora
Que o menino é fino.
Com a cabeça erguida
Sai pela avenida
E oferece um sorriso
A quem achar que é preciso.

Folhas e Versos

O menino caminha apontando aqui e acolá
Procurando gravetos no chão.
Recolhe folhinhas que o outono derrubou
Com o vento que sopra fino e quase frio.
A saudade se abate na gente,
Rumores de um tempo esquecido,
Tambores da verdade ressoam n`alma sem pressa.
Apenas as perninhas bambas tropeçam
Numa alegria quase pura que dura para sempre.
Um remorso de vontade bate no coração
Palpitando uma canção remota,
Uma estação que leva para longe, longe, longe...
O presente está nas mãos:
Folhas verdes, amareladas e rajadas,
Uma para cada cidadão do mundo,
Para cada instante vivido,
Cada olhar perdido entre o que já passou
E o que ainda está por vir.

Gelo

Enfeitar a pele, cobrir o rosto com ornamentos,
Beleza, sutil jeito de camuflar nossa verdade.
Ícones do nosso medo, de sermos somente um acordar,
Despenteado, bocejo e adormecer.
Somos encanto em desencanto, um canto de nós esquecido,
Um dia vencido quando desvencilhamos nossa força.
Tentamos nos encontrar em cada face alheia,
Em cada rumo que não nos pertence.
Tentamos sair cobrindo nossa ira com um sorriso,
Malacafento, é verdade, mas dá para ludibriar nossa busca pelo perfeito.
Não esvaziamos nosso corpo do cansaço,
Não desviamos nosso caminho do fútil, inútil devoção ao tempo,
A preencher cada segundo com nada, ou tudo.
A regra é não perdê-lo, desperdiçá-lo.
Cobrir nossa vaidade, ser alguém na vida,
Esquecer a saudade, achar uma saída:
Esquecemos que caminhamos sempre para o fim.

Laço

Procuro
um olhar perdido
Que me encontre.
Um aperto,
um abraço,
Perder-me n`algum laço
E num súbito encanto
Que,
por ventura,
Despertar
Meu coração
esquecido.

Flor Poeta

Insana é essa calma refletida em mim,
Pestana do meu mundo
Acusando meu embevecimento sem fim.
Tu, oh poetisa de quase espanto,
Quase enquanto o encanto te envolve
E resolve nosso medo de existir.
Apaziguas a dor,
Co-existe somente n`alma esquecida
Enquanto nossa vida
É apenas ser e sentir,
Ser assim como tu,
Como a poesia.

Márcio Ahimsa

O Anjo

O anjo branco, branco como
A fécula da raiz que comemos,
Está parado com suas asas de cisne
No coração dessa Cidade.
Quem foi que disse que anjos
Não existem?
Existem sim.
O anjo humano que faz os humanos
Pararem diante da sua representação.
Ficam com cara de bobo
Admirando as compridas asas
Abertas nas costas largas.
Uma música melosa toca e penetra
No coração da gente,
Deixando a alma comovida
Como criança dengosa;
Até os pombos arrulham
Um pouco de emoção.
Uma criança pergunta: - Mãe, aqui é o céu?
O silêncio responde pela mãe.
Mas a criança acha que é...
E o anjo também.

Márcio Ahimsa

O Vôo das Borboletas

Em algum momento andaremos com os nossos olhos baixos
Visualizando o quanto é áspero o chão que pisamos
E ouviremos os berros de alguém dizer que não
Sabemos olhar o lado real que um dobrão de ouro
Pode comprar.
E alguns de nós nos seduziremos e compraremos a felicidade
Numa cadeira de escritório a ouvir os ditames do chefe.
Mas alguns de nós sofreremos por não nos encaixarmos
Nesses valores de dobrão de ouro e pintaremos
O nosso futuro com os sonhos esperançosos de um vôo de
Borboleta.

Márcio Ahimsa

Onde Estou?

Onde estou senão em cada lugar,
Em cada canto,
Em cada solidão que a vida teima em regar,
Em cada riso que o amor resolve plantar,
Em cada lágrima que resolve escorrer para dizer
O quanto sou fraco.
Onde estou senão na abundância,
Na pujança mais destacada de eu correndo com afinco,
Com destemida vontade de chegar a lugar algum.
Noites nuas clareando meus pensamentos,
Meus dilemas lembrando minha distância de mim.
Tempos de silêncio assaltam a razão para completar
A lacuna que é alimento da solidão.
Onde estou senão no vazio,
No medo corroendo a vida como verme voraz,
No segredo que teima em se revelar
Através de um olhar perdido na multidão
De ninguém.

Márcio Ahimsa

Rasa Ilusão

Tudo quero mais ou menos quanto o tempo me pode oferecer.
Tudo espero, ao passo que a vida voa, e sou afeito ao amor.
Nesse esmero, aprecio a verdade que encobre teu âmago
Como princípio de meu fim,
Como requinte que vai de encontro a ti.
Sou anjo sem asas que caminha em direção do vento
Esperando que me sopre em tua direção.
E essa ilusão de cessar minha busca,
De ofuscar minha lembrança,
Somente alcança o instante que não quero perder.
Simplesmente quero sofrer o suficiente para pagar
O direito de que me aceite, em deleite, me permita amar apenas
Com o tremor que me assombra,
Com o apaziguar dessa dor sentida,
Dessa permitida razão de ser eternamente teu.

Márcio Ahimsa

Reminiscências...

Qual é o tamanho da sua dor?
Talvez não saiba dizer se o dia está tranqüilo
E a vida seja boa ou ruim.
Há um garoto dentro de mim querendo fugir,
Querendo colher suas lágrimas e misturá-las com tintas de aquarela
Para desenhar fragmentos da alma.
A gente escolhe um rumo, a gente recolhe o sumo
E fabrica nossa ciranda nas melhores gargalhadas,
Mas a dor é outra coisa que corrói nosso peito
E que parece não ter jeito nem cura.
Somente procura sair quando nos lembramos de um abraço
Que valeu mais a pena que qualquer coisa.
A gente peleja, a gente sente um aperto que quer mais sufocar que resolver
E não há nada que acalme, senão o sentimento saciado,
A certeza, quase sempre incerta, do amor regado,
Da saudade que bate no coração de quem está sempre em nosso pensamento.
E fala: - Sinto tanto a sua falta.
É melhor que vencer, simplesmente, sorrir abobalhado como quem não
Sabe por quê.
A descrença é necessária, a saudade é necessária, a dor é necessária,
Pois que nada vale a pena se a pequenez da alma não é misturada
Com um pouco de solidão, de sofrimento, que é alimento
De dias felizes.

Márcio Ahimsa

Sorriso...

Sorriso meigo inconteste impregnado no peito.
Sugiro o perigo com que me roubas
o olhar apreciativo de teu caminhar.
Mas o sorriso é assim: gratuito e livre
e essa liberdade gratuita
converte qualquer passarinho em águia.
Mas voar um vôo pleno
com a certeza arraigada na alma
é mais convidativo...
E eu procuro
essa simples colisão
de minhas idéias despropositadas
com a sua singela maneira
de sorrir.

Reflexo

A gente corre, sustenta um porre, e vai.
A gente se anula, agente inútil, esvai-se.
Todo dia, madrugada em alerta, sonolência,
Os pés dormentes caminham o corpo para o chuveiro.
Todo aperto operário, todo desmazelo com o elo,
Quebrantada a alma, suspiro incessante.
A gente corrói as pernas, as mãos, a face.
A gente age inconsciente, somente.
A gente quer ser sonho, quer ser amanhã,
Um orvalho suavizando a dor que brota no âmago,
Que outrora era somente dançar ciranda,
Jogar dados com o destino, ser fino.
O menino olha pela janela, vê a doideira pelo vidro,
Que reflete o outro mundo.
- Mãe, as pessoas estão brincando de pega-pega?
A gente não pega, a gente não nega, a gente sonega
O direito da vida, de viver, de ser.

Márcio Ahimsa

Versando a Verdade

Nas asas do dia,
Apenas o vão momento de amar,
Apenas o tormento de estar.
Nas esmeraldas da noite,
Sombras esquecidas,
Tormentas da vida,
Saliência da sorte.
Amarras que o fel sustenta
E traça rumo ao horizonte longícuo,
Profícuo sabor da verdade.

Márcio Ahimsa

Bolhas de Sabão

Quero ser criança do futuro e sair sozinho
Caminhando em cima do muro com uma rosa sem espinho
Ser um filhote no ninho, um dia, um sol.
Sentir é simplesmente sentir.
Ser, viver e crescer, são fugas das brincadeiras,
São horas desperdiçadas, horas avoadas, fenecimento do rol.

Na noite enluarada, quero me despir,
Quero meu corpo dançando ao som de um assovio.
Num vento quase frio, me agasalhar.
Atirar-me devagar para quem sabe tecer um sorriso,
Pois eu preciso, sou indeciso, liso.

Ainda é molecagem de menino,
Matreiro no berço que balança a vida por entre o véu, o léu.
Quero uma criança em minha roda de ciranda, pega-pega,
Ioiô, pião, amarelinha e varinha de condão.
Quero ser fino com um sapato sem cadarço,
Sendo um laço, eu faço, eu aço.

A teimosia toma conta de mim,
Pois meu fim é estar longe daqui, simplesmente, voando, voando...
Mãe, quero ser igual ao Pequeno Príncipe,
Namorar uma rosa e ser dono do meu mundo.
Quero um sentimento profundo, eu me inundo.
Uma prosa sobre um doce de goiaba,
Um chapéu sem aba, uma taba, um índio, um cocá.
Pipoca poca na panela, flanela e ela magrela correndo.

Menina e boneca com uma caneca na mão, um tapete no chão
Meleca, peteca, sapeca é Rebeca que não come berinjela.
E eu não rejeito um queijo, um beijo e feijão.
Mas é sair do vento, e tudo desaba,
O menino já está bem cansado, trim-trim-trim.
Já estou bem longe de mim.

Márcio Ahimsa

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