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domingo, 8 de dezembro de 2013

As aspas da desimportância

Eu tenho mais fé do que esperança.
A palavra é que move o mundo
como lagartixa
que desafia a gravidade
e prega suas pegadas
na verticalidade da existência.

Ouvi que se sustenta
a honradez na palavra.

Cunhá-la no papel é coisa desútil,
como diz Manoel,
o poeta, e o que me criou
com sua língua de falar
com sapos.

O medo de anfíbios e da escuridão
foi sempre mais real
que a teoria da relatividade
de Einstein:
“imaginar é mais importante que saber”.

Não tenho apego com heróis.
Sempre me acheguei
mais aos figurantes
de banco de praça
do que com medalhões
de preencher vazios...

Ainda assim gosto de rachar
a lenha com um machado:
a brasa acesa é que me fascina mais.

Citações sobre o nada

O que muda, o centeio do amanhecer,
pessoas correm,
tropeçam no invisível
e um “bom dia” alheio
nem responde.

Correm para onde? Para que?
Pergunta minha ignorância.
Desusam a existência
numa roupa
de vender jornais.

O relógio, a buzina,
despertam memórias
de onde não se sabe onde...
O cão ladrando o nada
é mais real
que meu contracheque
validando
as flores de plástico
que enfeitam meu jardim
de sem tempo.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Matéria

Matéria:
palma, assunto, parto.
Esfera que recobre o invisível,
seiva e cobre.

Teia de fios de arame,
tela de cicatriz,
rio partindo o olhar
que a moldura não esconde,
nem mostra.

Matéria:
veia aberta, verte
as ruas de minha alma,
amém, antes
que eu queira morrer
me vem à tona.

Sobretudo,
a veste que me doma,
sobre mim, Netuno
com seus cachos
de água derramando
a mente dos abstratos.

Ergo a língua, soletro:
ma-té-ria.
Mater, êxito de vida
e morte, maternal
abundância de tudo e nada,
breu que acende
a luz dos pirilampos.

Matéria,
existir denuncia
o que é breve:
floco de neve se dissolve
em evo.

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