tag:blogger.com,1999:blog-67325457457892012912024-02-19T00:07:45.058-03:00Tecer PalavrasMárcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.comBlogger870125tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-17527386521275579532021-11-20T02:34:00.005-03:002021-11-20T02:44:33.498-03:00Isso é coisa de ontemAs panelas, os prédios no apagar das luzes,
coração partido.
A bravata, a greve por centavo
de gente que nunca trabalha,
desobediência, patrulha, desobediência, soldados
e as mãos atadas ao tédio
de mazelas sem remédio.
Um lírio brota no passeio central
e as rugas, cobertas por um véu branco,
escondem a beleza que dormiu numa calçada sob a
égide lunar e não há mais nada que se possa
fazer.
É preciso um náufrago de mil e oitocentos e
alguma coisa para alcançar as léguas íntimas de
mim, onde posso vestir, de velas, a noite sem
fim de minha vida,
e de outono, as folhas secas de minha árvore
que não germina nunca, apenas o grafite de seu
carvão, num esboço desse rascunho, desse poeta que não sou.
Ainda assim teimo como teima o limo nas pedras,
como a urtiga que, apesar de verde,
arde na pele.
Teimo em palavras que não dizem, mas queimam na alma,
não a dos outros,
mas a minha, por não saber verde o que a tudo
dizem,
mas opacas, sem cor
se decompondo num tempo que não existiu,
ainda.
Mas espreita no horizonte como arrebol pre-
nunciando no branco
das nuvens,
as gaivotas da nossa vida.
Hoje, esse tempo célere,
de se chegar rápido a lugar algum,
de informar e que não forma,
de se saber o que não sabe,
de julgar sem nenhum juízo
de valor e de princípio,
esse tempo de anzol
que pesca sem saber da isca,
tempo de solidão guardada
numa caixa de fósforo
que leva a mensagem
do agora,
é apenas o resumo de que a tudo molda,
e em estado de pedra
seguimos, como seguem os lagartos,
com seus olhos caolhos,
para a sobrevivência,
enquanto eles se entregam em pertencimento,
cultivamos nossa distância infinita.
É preciso que haja menos
para obtermos mais...
É preciso descobrir mais perto do que longe,
esse longe quase tátil,
onde esconde na digital,
a identidade do que nos torna,
dia a dia, indiferentes.
É preciso amar quem não se conhece como a
quem conhecemos,
amar em prece de velas acesas,
como na refeição de amigos sobre a mesa,
é preciso, urgente, que encontremos nosso real
caminho,
como os pássaros que retornam para o ninho
e que, dali, todos os dias, alçam voo
para o desconhecido com a certeza
da direção certa.
A porta está aberta, agora.
E todas as direções são um convite para o novo tempo.
Eis-me aqui, ergo minha cabeça, assento meu
chapéu de cidadão do mundo,
distribuo um sorriso ao primeiro que passa e,
sem pensar que haja
inconsequência,
atino-me num abraço e guardo,
sem remorso,
toda humanidade que, há muito, desconhecia e
sigo...
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-27670152913769191622021-03-17T20:44:00.002-03:002021-03-17T20:44:07.900-03:00AgradecimentoComo não agradecer infinitamente
a prece alcançada?
Prece vestida de um quase desespero
quando o vento não alcança mais as velhas folhas que fanam sem cair.
Retirada de uma fé ressuscitada
do último respirar antes de fechar os olhos.
Agradeço, pois, como um novo começo que restaura
o mármore umedecido.
Agradeço com louvor de trombetas de anjo
com seu bronze reluzente de eternidades.
Agradeço com graça e em graça de alcance
como a fotossíntese do verde
logrando ao êxito da vida de esperança.
Agradeço com a ênfase da gratidão merecida de quem não desiste,
pela parceria de quem nos ama,
pela confiança de quem não nos conhece,
pela benção de amanhecer
e cultivar um novo dia,
toda luta e todo caminho,
o caminhar, a rosa, o espinho
que nos faz cuidar de ter cuidado com a beleza,
de ter respeito pelo que nos pertence ainda não visto,
mas que não nos escapa das mãos.
Obrigado, meu Deus!
Eu venci o mundo,
calquei com a pedra e afundei, profundo,
minha falta de fé no abismo e submergir pássaro no infinito.
Estou livre...Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-10831345329672629432021-03-17T20:43:00.004-03:002021-03-17T20:43:34.189-03:00A evolução dos bichosHouve um tempo que tudo era máscara,
o de um sorriso tentando esconder o que o olhar desmentia.
Nesse lugar onde não morava ninguém,
nem acolhia ninguém,
nem se sentia remorso
pela falta de abraço,
como quando um jogo empata,
essa telepatia de saber tudo
sobre quem a nós não se conhece,
e ainda jorra, bruto, considerações
sobre quem somos no reconhecer do outro.
hoje, de fato, usamos máscara:
que alguém me convide
para a evolução da espécie.
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-19075794921884365922021-03-17T20:43:00.000-03:002021-03-17T20:43:05.017-03:00Do quererDo imenso
quero apenas eu, propenso,
roendo unha
como testemunha,
na minha comunhão
com o mundo,
tão simples como dizer "não".
Quero acender um incenso
pela falta de bom senso
que aprendi no escuro
de uma vela acesa no futuro.
Quero a utopia
de Milton Nascimento
que acende a noite fria
e me engrandece como fermento
na multidão.Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-50589900562011667682021-03-17T20:41:00.002-03:002021-03-17T20:41:33.454-03:00Presente contínuoA poesia é uma ira
e não rima com nada
senão absurdo
que não é o som que um mudo vê
nem a imagem que o cego escuta
nem o tato que o nariz sente
nem o cheiro
dos olhos de uma flor
derramado em lágrimas.
A poesia é um verbo
contínuo que está
em tudo isso junto e invertido.Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-58578163950561438312016-06-17T19:10:00.005-03:002016-06-17T19:10:43.841-03:00Se o amor...Se o amor que achou era infinito, guarda no seu peito o grito, acaso achar alguém,<br />
outro sorriso que contém no esmalte de um olhar. <br />
Se o amor que achou não terminasse, então figuras de um álbum incompleto<br />
resvalassem sobre o teto<br />
de vidro que se quebra o colorido de um Natal. <br />
Então não fosse separado<br />
o jogo, o braço não aceito, <br />
o embaraço feito uma carta <br />
de baralho embrulhada<br />
em jornal. <br />
O quanto a pressa aperta o passo, o prato limpo, <br />
a mesa composta de ninguém, <br />
na lareira do cômodo<br />
possesso de estar bem. <br />
Eu sei, fui mais feliz<br />
e quem me diz se isso tudo é natural. <br />
Se eu me perder pela alameda, um labirinto feito de papel. <br />
Eu vi qualquer notícia, <br />
a preguiça dispensada de motel, então quando tudo estiver certo, não há mais morte que me arranque desse céu. Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-83700452172767590992016-06-16T15:47:00.001-03:002016-06-16T15:47:04.884-03:00DesconexoSe eu não estou por aqui, <br />
em qualquer lugar eu durmo. <br />
Me assumo num planeta<br />
numa quadra de basquete<br />
sem notar pelo placar.<br />
Se eu não fosse mutante<br />
e usasse alto falante<br />
entraria num disquete <br />
para coagular, com plaquetas,<br />
meus canteiros de girassóis<br />
que não tem lugar pra morar.<br />
Se eu, de repente, me escondo<br />
numa rua repleta de gente e vazio<br />
é que vou fazer uma viagem<br />
para o escombro deixado de seu riso lacônico de despedida<br />
e não vou me achar numa breve pausa, entre o delírio e a náusea. <br />
Se eu não tenho casa<br />
não vou mais de uma vez <br />
ser anfitrião, <br />
não vou me esconder debaixo da asa de uma mariposa. <br />
Talvez eu me dilua na atmosfera de um lírio<br />
e me condense num átomo<br />
escondido atrás da orelha de um livro. <br />
<br />
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-26141117616871801262016-05-20T14:22:00.002-03:002016-05-20T14:22:55.763-03:00Poema de plásticoDepois do frio que não termina<br />
e a dura superfície azul<br />
a dissolver-se em firmamento<br />
depois da intempérie do tempo<br />
<br />
Há no espaço imaterial<br />
um grito de qualquer centelha<br />
Há entre duas pernas o que falo<br />
fundir mais e menos completo<br />
<br />
E o coração feito carne<br />
feito de amor imprudente<br />
depois que a íris desintegra<br />
<br />
Há cores no cinza, quintal<br />
que dilui a beleza simples<br />
no plasma de um olhar de vidroMárcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-33592330233108228232016-04-07T15:22:00.000-03:002016-04-07T15:22:14.305-03:00Flores de papelHavia um quintal<br />
de cercado de bambu<br />
e quem não tinha lápis<br />
desenhava com tatu<br />
escavando esse chão<br />
forrado de jornal<br />
pintando o sete <br />
com a minha mão<br />
um analfabeto procurando a vez<br />
de fabricar o seu xadrez<br />
em que acomete<br />
em sempre ser feliz<br />
havia nesse mato<br />
além dos olhos um belo jardim<br />
que era alguém de fato<br />
mais azul<br />
do que um pequeno céu.<br />
Era uma flor menina<br />
dentre todas a mais bela<br />
com uma pétala bem amarela<br />
feita do crepom<br />
macio de um papel<br />
também era lilás<br />
e era roxa como um cartaz<br />
feita de cartolina<br />
ela sabia como é que se faz<br />
e não tem jeito<br />
no campo é que eu vou me achar<br />
colher no peito<br />
um belo buquê<br />
para no mundo espalhar <br />
o melhor que há de você<br />
e que agora está dentro de mim<br />
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-59679373576267857582016-01-25T00:30:00.001-02:002016-01-25T00:30:05.733-02:00A prostitutaFechou a porta do quarto. Estava exausta demais daquela noite sem verão. Arrecadou o suficiente para pagar metade do aluguel da kitnetch alugada no centro velho da cidade. Elisabeth não tinha filho como a maioria das mulheres que viviam nas ruas para ganhar a vida no ofício de mulher da vida, como dizem alguns. Ela dizia: eu sou puta, simplesmente. Tão simplesmente como a vida é. Não sou da vida, sou da morte, que é quem me terá para sempre em seu leito. Ficava deitada olhando para o teto, fumando um cigarro, tentando esvaziar a mente. Não sentia culpa de vender seu corpo. "Não vendo o corpo, alugo. Meu corpo é meu e da terra". Dormia até meio dia mais ou menos, levantava-se logo, preparava o almoço e depois saia para andar pela cidade. Não gostava de reclusão. Solidão apenas de amor e para descansar. Fora isso preferia a companhia sem nome da multidão de gente que atropelava o instante no ir e vir das ruas. Nunca lembrava de um cliente, por mais atencioso que fosse. Medida de se desvencilhar de envolvimento. Medo de sofrer. Não falava de amor. Quando ainda jovem, se apaixonara por um rapaz. Foi o único amor. Mas este morrera de uma doença súbita e fatal. Desde então largou mão. Sonhou uma vida juntos, casar, ter filhos, ser feliz. Jurou não amar mais ninguém e cumpriu. Elisabeth era de todos os homens e nunca pertencia a ninguém. No início da noite, de batom vermelho, o ponto na rua ladeada de árvores e não era mais quem um dia sonhou um amor, era meretriz, ela era atriz para encenar mais um capítulo de sua história. Despojava homens de suas casas e esvaziava o sêmem que implorava para escorrer por entre suas pernas. Mas ela permitia apenas que sentissem seu gosto de embalagem, pois o presente, o essencial de sua carne, nunca seria de ninguém.Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-64057866934463221072016-01-07T20:57:00.000-02:002016-01-07T20:57:12.136-02:00Amor de pecadoAmor é amor quando peca<br />
para não se acabar dor<br />
e foge sem razão agreste<br />
<br />
Amor se acaba sem fim<br />
<br />
perto de quem se quer e ama<br />
não se entrega em desamor<br />
<br />
e finda em brasa na cama<br />
<br />
Não sente a roupa que veste<br />
<br />
pois tem o coração puro<br />
transbordando seu jasmim<br />
<br />
amor se vê no escuro<br />
<br />
Amor é um beijo distante<br />
lembra um livro na estante<br />
sede de uma boca seca<br />
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-85253033093340419282016-01-07T17:12:00.003-02:002016-01-07T17:12:46.126-02:00Funcionárioabaixo do chapéu ao sol<br />
mora um rosto cansado<br />
os olhos baixos, escuros<br />
<br />
buscando sombra e abunda<br />
dor, delírio, desamor<br />
<br />
abaixo do uniforme<br />
a pele em marron canela<br />
<br />
esfoliando seu tempo<br />
suas horas gastas em custas<br />
de vida, sonho ou morte<br />
<br />
os pés calcando no chão<br />
a peleja, voltar isento<br />
<br />
deixar na pele o cimento<br />
a nódoa de viver gris<br />
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-53752429501333555562016-01-07T16:42:00.002-02:002016-01-07T16:42:15.479-02:00AdormecerUm nobre descobre<br />
em sua insurreição<br />
que também é pobre<br />
um ressuscitado <br />
nas letras de um poema<br />
<br />
Morre então o sábio<br />
vive visceral<br />
a sabedoria <br />
de água que socorre<br />
a sede e o rio corre<br />
<br />
abaixo de lenços<br />
de lençóis freáticos<br />
um vir à tona<br />
<br />
e a sílaba átona<br />
adormecer fria e só<br />
numa sepulturaMárcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-73698595091234313862016-01-07T16:32:00.002-02:002016-01-07T16:35:31.538-02:00Os morrosNão há nada que detém<br />
a rua com seus muros próprios<br />
atrás de um vermelho cru<br />
na esperança de uma janela<br />
<br />
que receba acenos, morte<br />
de passagem, funerais<br />
<br />
homens com a vista curta<br />
e seus jornais embrulhando<br />
o cotidiano com notícias<br />
<br />
diante do morro, a sorte<br />
de espichar os olhos nús<br />
<br />
e sumir fotografia<br />
dentro de um buraco escuro<br />
<br />
os cães ladrando a vida<br />
depois que essa noite caiMárcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-38263054185762856502016-01-07T00:32:00.003-02:002016-01-07T00:32:32.272-02:00Dentro de casao olhar pra fora da casa<br />
buscava sempre um aviso<br />
<br />
uma cisma no entardecer<br />
voz de andorinhas no céu<br />
<br />
achei o cuspe endurecido<br />
numa goma de mascar azul<br />
desbotada de sabor e fel<br />
<br />
e o risco de um disco pobre<br />
enriquecendo depois<br />
do jantar uma canção<br />
<br />
a voz de meu pai dobrando<br />
a esquina de dois em dois<br />
<br />
um pra lá e outro na porta<br />
pé de anunciar respeitoMárcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-40452382575798175772015-11-03T15:30:00.002-02:002015-11-03T15:30:50.280-02:00Mina d'águaNasce água<br />
agora mina sua mágoa<br />
derrete estantes<br />
em geladeiras de antes <br />
e depois correr<br />
a serra abaixo para morrer<br />
verbo com verbo<br />
rima pobre<br />
um ato nobre<br />
um traço soberbo<br />
que a soberania<br />
na traduz <br />
na fé que me cria<br />
em epílogos e luz<br />
Água agora<br />
sacia-me na sua tangente<br />
tinginda de transparente<br />
minha alma encharcada<br />
de ir embora<br />
para cada<br />
margem branca<br />
de seu barroMárcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-44786553922545934182015-11-03T12:04:00.001-02:002015-11-03T12:09:23.477-02:00Poema em póPoema, <br />
para que poema<br />
para sucumbir<br />
a palavra azul<br />
na estação sul<br />
<br />
Poema, <br />
para alimentar<br />
silabas poéticas<br />
cinco verbos nus<br />
num truque voraz<br />
<br />
Poema<br />
que fica de quatro<br />
para ocupar partes<br />
de um atentado<br />
ao pudor do vício<br />
<br />
Poema<br />
que enterra vivos<br />
páginas e livros <br />
na estante, cujo<br />
belo está no sujo<br />
<br />
Poema<br />
poeira, à luz <br />
da tela e pena<br />
escreve poeira<br />
no puz do dilema<br />
<br />
Poema<br />
que invoco pobre<br />
que rogo sem fé<br />
e derramo inútil<br />
copo de café<br />
<br />
Poema<br />
puro ou com leite<br />
pedaço de pão<br />
caído nesse chão<br />
de abrigar doente<br />
<br />
Poema <br />
velho e sem dente<br />
de mastigar rugas<br />
na cara da gente<br />
e chorar vermelho<br />
<br />
Poema<br />
de caco e telha<br />
de rastro de lesma<br />
marcando seu tempo<br />
com risco e gosma<br />
<br />
Poema<br />
que descamba vil<br />
na puta que pariu<br />
o outro filho seu<br />
que não eu na sorte<br />
<br />
Poema<br />
de esticar a morte<br />
na vala de ontem <br />
onde dorme enfim<br />
seus versos pretéritosMárcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-24159028509481689832015-10-24T17:08:00.001-02:002015-10-24T17:08:34.870-02:00Carta para o céuOs opostos não se atraem,<br />
se repelem<br />
tanto que um quer se fundir no outro<br />
ao ponto de que o outro<br />
não tenha a mínima chance de o ser<br />
em sua integralidade.<br />
<br />
Entre iguais,<br />
dois corpos não habitam o mesmo espaço,<br />
mas cada um reconhece<br />
o espaço alheio<br />
e é essa mecânica invisível<br />
que move toda coisa do universo.<br />
<br />
Não é um manifesto disso<br />
ou daquilo<br />
mas um clamor ao respeito<br />
de que cada um tenha direito<br />
a sonhar<br />
antes de colocar a cabeça<br />
dentro de um travesseiro<br />
e morrer sufocado de dor<br />
e lágrimas.<br />
<br />
<br />
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-70576930954055830542015-10-24T17:06:00.001-02:002015-10-24T17:06:00.826-02:00RecadoMinha filha, <br />
a vida é triste e pequena<br />
e eu navego nos seus temas<br />
dia após o outro<br />
como um pirata<br />
raspando seu casco <br />
de borracha <br />
pela negritude<br />
de sua pele de asfalto.<br />
<br />
Peço que tenha paciência<br />
para além <br />
dos seus alentos,<br />
que o sonho é feito de esperar<br />
que a tarde venha<br />
mais devagar<br />
que um trem urbano<br />
sob os trilhos <br />
de um endereço <br />
que não sabe se quer voltar.<br />
<br />
Peço que não se atrase<br />
em demorar seu riso<br />
pela labareda viva que emerge<br />
de cada margem<br />
esquerda e plácida<br />
de uma travessia.<br />
<br />
Há entre os dois lados<br />
da ponte uma eterna <br />
queda para a indecisão.<br />
Não se quede<br />
para labirintos<br />
que não saberá onde está a saída,<br />
nem se prive de conhecer o desconhecido.<br />
Mas antes, ouça muito bem<br />
esse silencio gritando dentro de você.<br />
É nele que mora<br />
a porta e o segredo de tudo.<br />
<br />
Ame mais que eu amei,<br />
mais que um dia possa amar<br />
e quando tiver dúvidas,<br />
as tenha,<br />
mas não se estabeleça nelas<br />
como uma pedra <br />
fincada no subterfúgio.<br />
Antes, examine-as e as coloque<br />
na pauta da solução<br />
que, com certeza, <br />
achará para guiar seu coração.<br />
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-6039175216915308712015-10-24T13:08:00.001-02:002015-10-24T13:08:59.778-02:00O pôr do solVermelho como um pôr do sol<br />
que se extrai das montanhas<br />
que se esconde nas entranhas<br />
da terra, <br />
atrás de um rio<br />
eu me sou.<br />
<br />
No espelho de seu amarelo<br />
na labareda <br />
de sujar o céu <br />
como risco de giz<br />
no chão azul de uma criança<br />
eu me vou.<br />
<br />
Compõe-me no eco de sua cor<br />
a se desvendar <br />
como uma ternura que não dói na dor<br />
e beleza inanimada<br />
pela morte de sua luz<br />
que se desmaterializa<br />
no breu de um poema.<br />
<br />
Não há nada mais belo,<br />
nada mais cru ou inato<br />
que esse mato <br />
de coelho de páscoa<br />
escondido num ovo.<br />
<br />
Eu quero esse grito novo<br />
de plantar um susto<br />
toda vez que corro atrás<br />
de seu rastro<br />
de átomo incandescente.<br />
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-31898550594385308852015-10-24T12:50:00.001-02:002015-10-24T12:50:09.808-02:00TempestadeCresce no estio de mim<br />
tempestades<br />
cresce flor de capim<br />
sua saudade<br />
voar passarinho<br />
para longe do telhado<br />
e não dormir antes<br />
de sonhar<br />
<br />
Cresce sobre o meu fim<br />
descoberta<br />
um olhar para fora<br />
da janela aberta<br />
e molhar meus olhos<br />
com sua chuva de jasmim<br />
<br />
Cresce nesse sim<br />
um sino que balança<br />
na cumeeira<br />
exalando o seu carmim<br />
para o endereço do vento<br />
onde não há mais dor<br />
<br />
E quando haver cetim<br />
na travessia do meu céu<br />
cortar a nuvem <br />
com meus olhos <br />
de comer infinitos<br />
eu vou estar, enfim,<br />
sorrindo como o branco<br />
de uma porcelana.<br />
<br />
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-20629181706973615642015-10-24T12:29:00.001-02:002015-10-24T12:29:35.014-02:00A ressurreição do poemaAinda quando eu me for<br />
há de morar minha casa<br />
de onde volto, nó na asa<br />
subir no mundo e só<br />
me decompor um sonho<br />
<br />
Ainda se me voltar<br />
para o casulo de antes<br />
morrer nosso instante <br />
um dia depois de voar<br />
sujar a cor do mundo<br />
<br />
com sete sílabas azuis<br />
desse prisma que ressoa<br />
sua cova de diamantes<br />
respingar veludo e tinta<br />
e metamorfosear <br />
Márcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-78922339879907651282015-09-01T03:28:00.000-03:002015-09-01T03:28:02.617-03:00BelaBela bela<br />
com seu sabor salgado<br />
doce lábio<br />
que me faz alado<br />
desenha silhuetas<br />
em minha pele<br />
e tesa é minha liberdade<br />
de aconchegar<br />
os seus sussurrosMárcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-73721370746573457792015-09-01T03:25:00.002-03:002015-09-01T03:25:47.746-03:00Olhar de noiteOlhar feito do ébano da noite<br />
que me açoita a temperança<br />
me incute a cisma e o tremor<br />
Olhar que atravessa a parede da minha alma<br />
e devassa as cordas do meu coraçãoMárcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6732545745789201291.post-55147534769385993042015-08-22T00:12:00.002-03:002015-08-22T00:12:41.404-03:00Céu descobertoCubro-me de tudo<br />
que restou do céu<br />
e me basto de vislumbrar<br />
uma cortina de edifícios<br />
cortando o horizonte<br />
onde voam as almas<br />
dos pássaros<br />
que desenhei na infânciaMárcio Ahimsahttp://www.blogger.com/profile/13672288685774456598noreply@blogger.com1