Procuro palavras espalhadas,
encontro coisas como telhas
no outono, no inverno
que inverte o meu sono.
Procuro livre o meu arbítrio
encontro livros vazios,
átrios inocentes comovendo
flores em jardins de casas nuas.
Procuro invertebrado o ócio,
meu osso de coisas novas,
rude e temperado
como prova de desespero:
- Onde mais eu quero,
vela atiçada, nuvem que verte mágoas
de um dia de sol?
- Onde mais eu peço,
na pele de castiçal, pescar meu riso
esticado na ponta de um anzol?
Palavras que planto, colho planos
em rascunhos de um voo.
Procuro, no martírio de mim,
fatos, objetos rarefeitos
na atmosfera sóbria do fim,
tálamo de silêncio vil.
Procuro no alambrado do tempo
o verso, aconselho estribilhos
entre o parênteses da vida.
Me convida para ser vento
Pois palavras são como pedras,
imóveis, imaturas
na inércia da exclamação
despida de verbo...
Meu tablado sem texto,
máscaras na tablatura
de interpretar intempéries,
febres, crisântemos, colibris...
Minha ode, onde a preguiça espreita,
onde não se pode vestir a rua,
louvar o cisne vagabundo,
nem cuspir vagalumes no passado.
Palavras,
apêndices, imãs
que me prendem, travam minha língua
e o escasso modo de dizer
o que escrevo sem meandro.
Palavras,
léguas distantes
que alcanço no porvir da tarde,
no estalar de dedos,
no segredo de confessar silêncios.