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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Apanágio

Pelas estradas abertas que soerguem os dias
Não posso mais que caminhar.
Que tenho de sonhos tão abertos?
Que tenho de alma nua, com nua é a lua que me guia?
Que esses passos conduzam a alguma solidão,
Pois esta, que me guia pela noite, que me alivia de vanguardas,
É que me trás a morte da miséria, da mesquinhez.
Pois que agora, sem sombra nem ramos caídos,
Sem ferrugem nem cal carcomida,
Dessas veias abertas por onde corre meu sangue,
Por onde corre o vermelho dos meus dias,
É que se faz a aurora da vida.
E ela vem sorrindo num olhar de garoto,
Vem apreciar as coisas tortas que o acaso não mostrou
E regar uma horta de amores,
E jogar no brejo o dissabor de não tentar, sequer, descobrir.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O menino do sorriso estrela

Sabe, quando ele joga as horas fora,
Segue mesmo desengonçado pela rua afora,
Cantarolando em assobio uma canção maior.
Tem toda fé, tem toda gana, tem a semana para brincar.
Mas ele não quer fazer chorar,
Não quer deixar saudade de te abraçar.
Pois que venha agora, vem sim senhora,
Vem trazer consigo esse seu palhaço,
Vem fazer careta para ficar no laço
Que um dia se fez entre seu abraço.
Mas não é tempo de lágrima derramar,
Pois o quintal já está sem cercado,
Já está longe de te abandonar.
Quando esse menino corre pela tarde inteira,
Ele só quer é ficar cansado, para te pedir licença,
Para ensaiar uns passos, e entrar na dança de sua presença.
Então vem, vem que o mundo vai girar,
Vem fazer desse cometa uma viajem para passear.
E virar estrela de um céu de sonhos,
E fazer sorrir quando se cala a voz,
Pois o tom da alegria só está em nós.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Dó, ré, mi, fá, girassol, lá, si eu ficar aqui ouvindo essa canção.


Bom, conforme o convite da minha amiga Sam para participar dessa brincadeira, aceito, mas acho que não vou escolher apenas um artista.

1- Escolher um cantor, dupla, como quiser
2- A cada pergunta feita responder com uma música
3- Nomear outros blogueiros para repassar o desafio
.
.
.
1-És homem ou mulher?
Caçador de mim
(Milton Nascimento)
2-Descreve-te.
Ando devagar porque já tive pressa. Levo esse sorriso porque já chorei demais.
(Almir Sáter)

3-O que é que as pessoas pensam de ti?
Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria era provar para todo mundo que eu não precisava provar nada para ninguém.
(Legião Urbana)

4-Como descreves o teu último relacionamento?
Educação sentimental
(Kid Abelha)

5-Descreve o atual estado da tua relação.
Sete cidades

Já me acostumei com a tua voz, com teu rosto e teu olhar...
Quando não estás aqui, sinto falta de mim mesmo.
(Legião Urbana)

6-Onde querias estar agora?
Deixa chover
(Guilherme Arantes)

7-O que pensas a respeito do amor?

Mistérios
...um vento bateu dentro de mim, que eu não tive jeito de segurar...
(Milton Nascimento)

8-Como é a tua vida?Travessia
(Milton Nascimento)

9-O que pedirias se pudesses ter um desejo?

Temporada das flores

Que saudade agora me aguardem,Chegaram as tardes de sol a pino,Pelas ruas, flores e amigos,Me encontram vestindo meu melhor sorriso...
(Leoni)

10-Escreve uma frase sábia –
Às vezes tenho de me quebrar em mil fragmentos para me sentir inteiro e poder sorrir um sorriso livre.
Repasso para Mai, Vivian, Chris, Tata e qualquer outro que queira participar, e se estes que citei já tiverem feito ou não quiserem, sem problema, desconsiderem.

Campo dos pirilampos

Aí foi que se deu: se aninhou num algodão doce e não quis mais sair...
Dia desses, o macacão já estava curto, espiando as formigas e tingindo o cabelo
Da menina de azul, tava que estava arteiro,
Pirilampeando atrás do vento, piscando uma luzinha
Contente por um sorriso que conseguiu colher.
E foi que conseguiu, desajeitado, desembrulhar o papel de bala de amendoim,
Sorriu que só uns dentes escancarados, falhados na frente, janelinha mesmo
Que se mantém aberta para receber visita de bem querer.
Nossa! Olha só, já está até subindo em árvores atrás das borboletas!
E está parado, observando o balançar das folhas, ouvindo os colibris
Beijando flores coloridas, ele sente vontade, menino amado,
De voar, de viajar pelos caminhos que as nuvens escondem.
Agora bate palmas para uma cigarra que canta uma canção
De entardecer, dessas que desenham horizontes pelas bordas do dia,
Que alimentam os olhos de alegria por ter amanhecido
Pensando, pensando, e, tão logo, anuncia a hora de dormir
E sonhar com os olhos abertos, com a alma repleta
De pirilampos, de borboletas,
E sentir um gosto de amora e pêssego na boca...
Agora é mesmo o algodão doce que se desmantela pela sua boca,
Pelo seu corpo miúdo, derramando, derramando...
E ainda quer desenhar atmosferas de sonhos, e ainda quer ser real,
Quer gritar com seus pulmões, em dó, ré, mi, fá, sol, lá e si,
Quer jogar dados com o destino e sair por aí distribuindo mais sorrisos,
E plantando mais girassóis, e colhendo possibilidades.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Dessas coisas que não sabemos por que

Dessas coisas que a gente não sabe, que não entende, que, numa ebulição de quereres, de sentires, cai sobre nós como uma chuva fina, demorada, doce... Era sim, um menino, era meio tímido, crescido, bem verdade isso, mas não tanto, médio, e se dizia ser do tamanho do mundo, pois, segundo sua crença, acreditava e acredita que nosso tamanho depende de até onde a vista alcança, coisa essa que lera de algum poeta. Não se sabe quem, nem onde, nem quando, mas lera nalgum cartaz explícito, desses que, naquele dia, naquela hora, bate como um martelo na cabeça, eureca, e Tum... Foi. Agora, sobre o estribilho das coisas leves, leva a ferro e fogo isso, ah, como leva. Ainda mais quando essas coisas leves são vindas do amor, do sorriso, do olhar bestificado, da gargalhada imprevista, como graveto que balança ao sussurro do vento. Lera também isso.

Acresce que, esse menino tivera muita dor, tivera que estancar as lágrimas que derramara por caminhos esburacados, pois seus pés não agüentavam os calos, suas mãos não agüentavam carregar seu próprio peso, nem o peso de não saber por que, nem onde, quando, iria findar seus dias, suas horas, porém, vivo, esperançoso, deu que acabou aqui e acolá, dando um jeito na terra batida, e vindo bater nessas cercanias de ilusões e poesias em desmedida que, vez ou outra, rabisca em rascunhos de sorrisos e lufadas de vento. Leve, assim mesmo, despreocupado com o tempo, com se vai chover ou fazer sol, apenas caminhar. Todavia, em dias de sol, tenta desenhar caminhos, em dias de chuva, tenta beber a vida saltando em poças de água e gargalhando.

Coisa agora, que mexe fundo, é que tem sentido umas coisas estranhas, um tilintar de sinos, um gorjeio de pássaros, bater de asas de colibri e borboletas no estômago, coisa de passar o tempo sem saber que ele existe. Dizem que é por causa dos girassóis plantados em seu jardim. Mas é mais que isso. É que a guardiã, a rosa de cinco pétalas, de cinco cores, vermelha, branca, amarela verde, azul e lilás está aberta. Ela guarda a porta do seu coração, e há algo entrando, há algo fazendo morada, dessas que demoram a sair, às vezes nem sai. Mas ele prometeu que vai deixar entrar, vai deixar se acomodar levemente, se sentir guardado, em casa. E pediu para não sentir medo, pois ele está aqui. E assim, sorriso de lata na boca, ele fica a desenhar caminhos guiado pela luz das estrelas. Fica e espreitar bem de perto, o desenho que está se fazendo dia após dia, de um caminhar diferente, de um andar junto, de mãos dadas, com as canções sussurrando em seus ouvidos, alguma prece de amor, alguma vontade de não terminar, apenas permanecer, como permanece o sol após o amanhecer, como permanece a lua após o anoitecer. Um recado: não precisa pressa, ele avisou que espera, e, quando sentir medo outra vez, lembra que vocês são apenas 1, apesar do 5, 6, e 7 por diante.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Poema do infinito (ao meu avô)

Chegou...
Estava ali, acomodado como um ovo bem guardado,
quente e esperneante, vindo, assim, meio de repente.
Mas antes, se desenhou por beijos e abraços, por caminhar junto,
de pernas e braços, talvez um bico, uma cegonha,
mas a história estava sendo escrita.
Chegou...
O machado, a lenha, os pés calçados com alpercatas,
o jumento levando e trazendo o pão,
e a viagem para o futuro.
Suas mãos trouxeram estradas, trouxeram alguns pequenos rabiscos,
trouxeram de seu corpo, seu coração, alguns outros
que também se desenharam, meninos e meninas,
que também sorriram, choraram, e lapidaram a pedra.
Chegou...
Sorriu, fez um aceno e partiu, fez uma reserva de bem querer
e deixou aqui guardado em muitos cantinhos Tum, Tum, Tum.
Seu sorriso espalhado pelo vento, seu tempo cantando uma canção:
se fiquei esperando meu amor passar,
mas não passou, passou foi suas passadas rápidas,
foi quando sua visita era a mais aguardado do ano,
seus brinquedos, presentes de longe, misturados com saudade,
com abraços e sorrisos trazidos de lá, aqui.
Agora está aí, sorrindo com as estrelas,
nascendo para o infinito, sendo o infinito.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Desembrulho

Correr manso, olhos que refletem abandono
com o que há de engano, com o que há de urgente.
Um pacote aberto revela o verniz do presente
que tão caprichosamente se pintou pelos dedos
de quem ama e oferece em gratidão.
Agora, desembrulho perene, revela
miçangas com luz de estrelas,
revela texto e textura,
acura sorrisos e faz ser preciso abraçar.
O abandono fica por conta dos sonhos
que ainda não surgiram nesses pensamentos,
pois aqui já desenrolei esse fio
que me tece em realidade.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Minha Casa

Vejam só, estou aqui, minha casa e meus amigos, quantos e tantos...
Agora sinto um ar dentro de mim, um ar de tantos versos,
Tantos céus abertos por tantos horizontes, minhas fontes,
Meus medos, meu aconchego.
De repente, uma corrente, um elo, nossos sonhos estão voando por aí,
Meus sorrisos espalhados por essas mãos que escrevem,
Que rabiscam suas fugas, suas saídas, suas preces, suas vidas.
E eu aqui, do meu canto, tímido, sem espanto,
Acompanhando essas linhas, acompanhando o vento fluir...
Eu, sim, estou aqui, estou ainda mais aqui, passeando os olhos
Por beijos, por abraços, por fúrias e indignações, por canções
E imagens que dizem de cada um, um pouco.
E, aproveito a deixa, para agradecer-lhes todos,
Para dizer que é bom estar aqui, é bom sentir um ar enchendo e esvaziando
Os pulmões, sentir que esse tempo que me banha o corpo,
É meu escopo de ser eu, de ser assim, uma quase ternura,
Uma quase procura de me achar.
As horas deitam sobre mim e me fazem dono do infinito
E eu me deito sobre as estrelas e vejo a imensidão
E eu trago nas mãos bilhetes de bons amigos,
E nos bolsos canções que ecoam por dentro da minha caixa de música:
Tum, Tum, Tum, Tum, Tum, 33.
Um pouco de mim em seus olhos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Bem mais que perto

Ah, o solavanco foi aqui, estava quieto, eu, e despreocupado...
Sim, mas agora, ou seja, de repente, tudo é avassalador,
Tudo é algo imprevisível, invisível que se mostra
Para além sorrisos, 5, 6, 7... Quantas vezes forem possíveis,
E somos, sentimos... Ah, como sentimos.
Uma proximidade de espera, uma espera que urge,
Que submerge e vem, vem, vem.
E quando queremos ir? Não vamos, ficamos, tanto, tanto...
Só quando os olhos pendem, aí, alguém tem que ceder.
Às vezes cedo eu, à vezes você, e às vezes temos de contar até 5.
Mas é assim, sonho sonhado junto. Há instantes que bate um frio,
Um medo, mas já me acostumei,
E quando não está aqui, sinto falta. Ah como sinto.
E eu sei que eu quero você bem mais que perto
Para me inundar em seus olhos e sorri.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ei...

Ei... Shhhhhhhh...
Foi assim, calmo, silenciosamente – ah, essa calçada!
Passei aqui tantas vezes, e nem notei, mas ficou quieta,
Nem vi quando a bicicleta passou resvalando em mim...
Ei... O vento balançou seu vestido estampado,
Seu corpo está dançando...
Agora é, hum, talvez seja um dia daqueles
Em que acordo sorrindo... Olho pela janela e saúdo o dia
Com um abraço, com esse sorrir seu que está refletindo aqui,
Coração aberto.
Ah, você foi ao banco pagar umas contas, eu também irei,
Mais tarde... Agora não, agora quero escrever uns rabiscos.
Olha, veja que já se passaram duas semanas, mas nem parece,
Aliás, nada parece, pois é como uma prece que se atende,
Sem ser feita, ou é muito feita mesmo, com o coração...
Sim, como dizemos mesmo, deixar as horas cuidar de nós,
Cuidar do que virá, pois nem quero saber, quero apenas ficar...
Eu espero... Você espera?

sábado, 17 de janeiro de 2009

Campos de morango

Acresce que é assim...
Lufadas, ora imprevistas, ora constantes, no rosto, de vento.
Vem meio assim, cabisbaixo, meu umbigo sentindo cócegas – há, há...
Mas é quieto, sim, não é quieto, aliás, sou, era, fui, acho que serei,
Maneira morna, calma, como água de riacho, córrego quase seco,
Descendo abaixo de mim, penhasco...
Mas aí, esse asco cobre de calor, faz-me corredeira abrupta,
Tanto que me aborreço – esse preço pago, caro, aliás, por ser tábua
Que desgasta a lâmina da faca quase afiada.
Acresce, que se eu não quiser, não serei, ou serei? Ah, bobagem...
Outro tanto, a imagem plácida de tranqüilidade é mais ordeira,
Faz cútis sempre... No fim, deixo para trás as quimeras, vou.
Depois, que nada dura, nada é campo de morangos silvestres, sempre,
E assim, o leste que abriga as manhãs, abriga meus dias...
Só que, como ponteiro de relógio, gira a hora, gira a vida, tudo gira,
E as lufadas voltam – filosofo deixando dormir a razão,
Como disse a uma amiga, e desperto acordando meus sonhos.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Caminho do sol

Vejo um caminho de sol
Sorrir-me adiante,
Vejo em semblante,
Olhos brilhando verão, rol.
Vejo um sorriso de sol,
Vejo meu olhar irradiante,
Vejo um aconchego de lençol,
E uma canção confortante.
Agora, ante este sol embriagante
Sou flecha sem destino
Que atinge meu dia menino
Que me leva em desatino
Para ser meu farol
Ser meu destino
Nesse caminho de sol...
E sorrir manhãs orvalhadas,
E sonhar sonhos distantes
Com as noites estreladas
Com os melhores instantes.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Vazio...

Meu coração absurdo
Não veio ao mundo
Para merecer nada...
Para desejar sóis,
Pois os sorrisos me alcançam,
Mas parecem querer partir.
Desculpem-me girassóis,
Se eu não os fiz sorrir.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Prisioneiro da ilusão

Ele caminhou e dançou prisioneiro voraz.
Foi bolha de sabão, sorriu luz manhã,
Chegou repleto, inquieto e vastidão.
Sai assim, irreverência, é volátil, tato sagrado das solidões.
A bolsa, a sua bolsa de chuva carrega suas uvas de um viver vinho,
Sai em desalinho, sorrindo, caindo pés, barrancos e tropeços,
Chapéu de palha assoviando endereços
Pelas bordas do sentir, mero esmero, totem da fé, salutar...

Vai prisioneiro... Vai estradeiro, menestrel
Sobre o viés da ausência que silencia a voz.
A palavra jaz como rocha sedimentar,
Jaz oposta, jaz ocre e ferrugem,
Jaz obsoleta, espoleta e penugem de ganso...
Seu melhor faz arreio de si, quina e cabeça...

Espantalho mordaz faz aqui sua sina, faz aqui menina
Boneca, sorrateira manhã, cálida, calcinada...
Esse corpo se morre, se morre a pele, se morre as unhas,
Mas morre mais a esperança quando morre a certeza...
Seus dias auroras fazem nascer âmagos, âmbar verão.

Tem mais norte ao longe, tem mais sonhos
Que as mãos buscam com a sede das horas,
Que perecem inertes pelos pés, que marcam os passos,
Cada um, cada pó levantado, deixando para trás
A cinza dos malogros, e assentando no coração
A beleza que um dia colhera de sorrisos
Que arrancara com as mesmas palavras mudas,
Os mesmos gestos mudos, agora, mundo, vá-se,

Sem arreio, sem estribo, sem montaria, sem noite,
Sem dia, sem o bornal para guardar as lembranças,
Sem o canivete para cortar as dores,
Pois agora, está tudo ali, pele e coração,
Juntos, como água e sal diluindo o seu cansaço.

Nota de acolhimento

A quem cruza caminhos,
sendo uma rosa ou não
sem espinhos,
carece aqui, minha nota:
se trazes nas mãos
um olhar encantador,
um sorriso que prende
e uma beleza na alma
que ninguém aprende,
e tão somente,
assim, sem eira nem beira,
sente o tamanho do mundo.
Então eu digo,
permaneças aqui,
ou deixes teus laços
em mim.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Peregrino

O gênio ali, derramando seu sem nexo
com o pensamento apoiando essas mãos frias.
tinha aquém, nessa sombra, a obtusidade dos pesares
que a boca louca, com uma roupa de musa,
despira os olhos baixos – peregrino, sentimento
arcado, largo moquém assando a carne quente
de seu corpo: fuga e presa, prisão...
Leve, leve o caminhar coxo, leve o rosto pardo,
cárcere malogrado em dias de chuva.
As goteiras pingam saudades, ausências,
clemências entorpecidas pelas vozes, ecos da virtude
desgastada, arranhada com unhas de gato, mato alto,
machado dobrando a espinha de seus dorsais:
ali plantados os estribos que galgaram sua dor,
que sorveram tua ignorância e o fizeram anjo
desses que caminham absortos pela rua,
sem dar bom dia, mas desejam muito,
sobretudo que seja dia sem sombra.
Peregrino que veste as ruas e sonha amores impossíveis...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Joio

Estava joio, tentando ser viçoso nesse trigal, explosão.
Como quem não fala, arrastando chinelas pelo chão, capim-palha na mão,
Âmbar-fumo embebeda a razão, desmesura...
Daninha, erva intempestiva, estiva a dor, corta, sorve.
Assim, há quem fale mais, há quem tente mais – outras vezes,
Perceber que há um mato se movendo por trás da curiosidade,
Eu joio, perambulando meus preâmbulos,
Catando gravetos aqui e acolá,
Para montar meu ninho, num acolher entre espinhos,
Que ferem mais a alma que a pele escancarada – marrom,
Desbotando sal e suor, mais e mais vezes, encolho,
Murcho, eu, joio e broto não vindouro.
São tantos castiçais, tantos rodopiam sobre mim – meus ais gemidos,
Minha boca seca, minha palavra não se assanha,
Meu verbo reverbera ao contrário, soletrando:
A.M.A
Eu tão somente não sei, joio, estarei espera...
Chapéu na mão segurando essa carcaça que vai,
Além desse tempo, além dessas nuvens que acompanham
Essas paisagens eólicas, varrendo capins, despindo joios em fins de mim.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Cinco

Amanhece manhã, pardais cutucam os tímpanos, gorjeio.
Minha boca é espera, meu corpo desassossego,
E as paredes do quarto sussurrando teu cheiro âmbar.
Tu exalando em mim vontade, tu arranhando meu pensamento
Com lembranças, lábios ávidos, te bebo.

Parece que nada muda, o tempo passa e não passa,
Desperto inerte, olhos perdidos n`algum infinito de ti,
Sem pressa, sem demora, apenas alcançando teu olhar,
Caminho do sol, lembra? Quero te contar...
Que há de avassalador nisso tudo? Eu mudo... Calado...

Não há passado, nem futuro, não há respostas...
Apenas minhas costas sentindo teu laço, tua pele.
Tu fervilhas em mim, tua eriças em mim, tu me findas...
As distâncias não existem, nem precisa de tato, nem fato.
E a ausência parece preencher-se de sorrisos teus, eu riso.

Ontem não foi ontem, permanece ainda hoje, é hoje...
Não me dou pelas horas, nem pelos caminhos das estrelas,
Pois estamos misturados nesses raios destinos.
Somos rios em desatino, deságuas em mim, inundo-te.
Sinto-me espalhar em ti, somos fusão, um mar imenso.

Não sei sobre amanhã, nem sobre tuas escolhas,
Sei apenas que quero estar em ti, quero permanecer
Como permaneces em mim, sorriso brando, olhar que me cativa.
Eu te esperei por tanto, que esperarei sem prantos
Pelos próximos infinitos, eu sei que virás, sinta-me.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Girassol

Que é esse sonho assim, acordado, que não me deixa dormir?
Que quando acordado, em silêncio, apenas repete mil vezes
Em flashes abruptos, um sorriso, um olhar e um cheiro girassol?
Nesses prados verdejantes, há um aroma no ar, que nada tem com
Amora e pêssego, mas que é tão doce, tão salgado, um cheiro de pele
Em combustão, aroma de beijo, sabor e desejo de corpo colado
Noutro corpo, um frenesi, uma viagem pelos caminhos desse sol
Que mira miragem em teu olhar.
Que loucura, que desenfreada procura por teus instintos,
Num quase lapso de sorte, numa quase morte de razão,
Eu, carne trêmula, ossos sem destino, aqui, meu lar esquecido,
Achar-te presa e fera por esses dedos meus, por essas frestas minhas
De querer-te apressadamente, como um furacão inesperado?
Estou desatino, estou rubor de pele, boca e saliva,
Por teu cheiro orquídea e girassol, tua pele suave, teu beijo amora
Tua fragrância essência, e meu encantamento por tua maneira,
Assim, singela de me fazer sorrir, de me adivinhar pensamentos,
Que nem eu sei quando penso, mas penso, e me ilustra em beleza
E faz-me visível nesse meu mundo invisível.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Amora e Pêssego

Eu esperei por você, noites longas, intermináveis...
Eu voei pela cauda de um cometa e vi estrelas girassóis
sorrirem para mim, meu coração se abriu.
Eu estava tímido, calado, estava medo e distante...
Eu estava perdido, estava sentindo-me nulo, estava longe...
Você me veio Amora, me disse das horas longas,
você me trouxe um abrigo em mim, soprou-me vento,
sussurros de algodão doce, eu me lambuzei,
abusado, pedi seu número, e me vi achado,
você me chama, eu atendo, rumamos de mãos dadas
por um jardim de estrelas, Amora e Pêssego.
Agora, estou suado, esse seu calor, esse seu beijo,
teu corpo alvo e quente me acolhe, fundimo-nos em um,
somos 5, ímpares, passos dados em alguma direção,
depende das minhas, das suas mãos, de andarem
ao som do vento, ao sabor e aroma de nós,
corpo e alma, coração e sorriso,
e eu sinto, preciso, lábios e sonho,
você se despede, vou-me embora de mim,
Amora e Pêssego, girassol de estrelas.
Eu estarei aqui...
Eu sempre me perco de mim, depois me encontro
por ai no olhar perdido de alguém...
Que queira me encontrar, Amora e Pêssego.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Rosa Vermelha

Já foi, indigente, pelas rosas da razão,
sentada, ela, flãmulas caindo-lhe em água,
sal de janeiro,
olhos pequenos lavando pálpebras, ausência.
Foi e permanece, boca silenciada,
com notícias de amanhã
chegando ainda tarde, explosão.
Nessas curvas da sorte, faz-se ainda menina,
lacinho vermelho ornando seu cabelo despenteado
e um desafio repousando
em seus calcanhares, esmero.
Ela anda às calçadas,
anda às avenidas tenras de cansaço
e escuras de vazio,
ela anda procura de seu corpo perdido nessas fontes
sem holofotes, um horizonte atrás de seu semblante,
edifícios de ponta cabeça.
Fois assim, estrela minguante, que ela
desabrochou em canteiros ariscos
pelos cantos de si.
Já foi cortiça, fôlego sufocado, vinho quebrado
por esse sabor tão fel,
agora, ela é aluguel do descanço
que seu desejo manso faz quedar num sol
desses dias vermelhos.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Bélico

Caminhei ali, esparramado e vasto,
em minha lida exaustiva e cega.

Minhas pedras guiaram-me dor e calos
dentro de mim, destino afora.
Abas da vida em cólera: planta-se espinhos,
nascem flores, algumas despetaladas.

Caminhei galhos fenecidos,
carvão da noite lustrando o amanhecer.
Foi assim, um grito mudo
e os olhos calados pintando a sorte.

Eles eram fortes, pequenos, mas fortes.
Carregaram a esperança nas mãos
e o sonho plantado adiante
em sorrisos de dente de leite.

Caminhei, rabisquei minha alma rupestre
e cheguei, fé, entre a lança e a rosa
e agora pingo solidão em gotas de orvalho.

E os amanhãs ficaram para trás,
e nuvens cobrindo de cinza
os dias em fogos de artifício.

Não há brinquedos, só queda,
e pernas curtas abrindo caminho
para algum jardim,
alguma porta que esteja aberta.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ícone

O cheiro subiu a escada trazendo lembranças
Saciando a boca, que derrama sabor, grãos cosidos.
Um prato branco e raso forrado de feijão,
Arroz alvo misturando, fumaça subindo quente,
E o omelete despedaçando pelas beiradas,
Cúmplice e passivo, aos olhos famintos.
Por essas mãos, ela, dona de eu estar aqui,
E por onde o fogão se revela
Mais que um forno quente,
Por essas mãos, Dona Terezinha, senhora do dia,
Dona do amanhecer em demasia,
Quando molda o sonho em doce de batata,
É que se faz a vida, é por onde me moldei em poesia,
Assim, em teimosia espelhada:
Arroz e feijão com omelete batido.

Frêmitos

Teu cheiro vem e percorre meu corpo frio
E varre minha pele assustando meus pelos
Em calafrios, um suave ardor.
Tua boca leve-fêmea-felina,
Tua carne mulher me banha
E me assanha o corpo,
Lava-me em saliva e suor,
Orvalho doce escorrendo pelo
Meu peito aberto e desamparado.
Meu corpo quer vencer o teu
Que me estrangula pele, carne e coração,
Devora-me vorazmente,
E nos quedamos em batalha.
Nosso suor é sede e saliva,
É boca em descompostura,
É fúria feroz que se entrega num embate
De mãos e abraços dados num frêmito leal.
E os corpos se entregam, e, por fim,
Constatamos: vencemos-nos.
Encontro, então, teu olhar
Sorrindo-me em silêncio
E se dizendo satisfação.
E os beijos que nos engoliram
ficaram no instante,
parados e únicos,
para cutucarem a memória
e o desejo de quero mais.

Retalhos

Ela estava com seus retalhos,
seus piolhos em companhia
divertindo seus dedos nos cabelos
e uma parede protejendo
dos perigos que rondam os salões
banhados de loja.
Ela estava fria como a madrugada
desenhando nuvens
com o vapor quente do seu ar,
estava silêncio conversando
com o olhar do vira-lata companheiro
e um dia rasteiro nascendo
com um pedaço de pão amanhecido
de outros dias, ela estava fome.
No céu – a última estrela
se apagou, e um resquício da noite
acompanha em forma de sombra
essa solidão.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Ensaio sobre a verdade absoluta e os desafios da descoberta

Estes pequeninos que alicerçam
essa estrutura cambaleante,
são mais notáveis que a carcaça
Que esfolia a carne e me carrega para lá e para cá.
As verdades que se findam num fim em si mesmas
são algemas da alma,
tão inflexíveis, que se tornam absolutas
para a dúvida, meramente.
Hoje, correr atrás dos vaga-lumes,
é uma arte para poucos,
e um exercício de buscar novas descobertas
pelo simples fato de brincar.
Então, estes pequeninos,
transformam-se na única razão de tudo,
a única força plausível de se mensurar incomensurável.

Não tirem fotografia, por favor

Pelo tempo, pelo vento
Fostes meu lamento, fostes turvamento
Que em minha alma faz lembrar.
Oh, essa aquarela dura mais que um instante
Enquanto o brilho da beleza fana
Pelas abas do viver,
Dura mais que a morte,
Pois a sorte é presa fácil de quebrar.
Agora, pelas sombras das horas,
O amor mora em mim imensamente
Como amora em galhos do meu paladar.
Visto teu balançar e acompanho teu corpo nu
Por dentro do vestido estampado.
“Baby, I Love you!”
“It's been a bad day.
Please don't take a picture.
It's been a bad day.
Please.”
Quero me deitar e balançar na rede
E ver as estrelas mudarem de lugar:
eu vou me achar, eu vou me achar.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Insanidade

Hoje quedei-me, vi-me arame farpado.
Se as vidraças da vida empoeirada não surtem efeito pela poeira,
Então, quão vil e pobre é a flanela que lustra esse viver.
Agora, não me reprimo, nem exprimo verdades alheias
Ao meu tácito perambular, mas, concomitantemente,
Visto tuas necessidades um dia após o outro.
Já me fostes profícua, fostes-me extrato,
Foste-me o amargo do fel que me sacia o sabor,
Porém, não te iludas, não te desvencilhes da verdade.
Embora meu corpo padeça, meu coração
É sombra fresca por onde repouso minha tranqüilidade.
Chamas-me insano, chamas-me deus e demônio,
Mas sou apenas querubim armando arco
Para flechar teu coração tão certo de não me querer.
Ora, és dona de tuas vontades,
Não me culpes por despertar o fogo devasso do amor
Que te queima em todos os silêncios,
Em todas as noites.
Sou apenas esse açoite de doer
Em vontades inacabáveis.

Sobre a beleza: amai e verás.

A beleza não pode somente ser vista,
pode ser sentida, como pétala que sente o orvalho.
A beleza é coisa de sentir com todos os sentidos,
cheiro, pele e coração,
emoção espalhada
e os olhos apenas constatando o que a alma
já aprovou.
Por isso, quando digo linda,
seja uma flor, orquídea distante
que mora em mim,
seja em versejar de poesia que me encanta,
digo de uma beleza que atinge minha alma,
e é verdade, nunca me engano,
é linda, é bela, é bonita
a beleza miragem que emana de ti.

Desiguais

Sorvendo as horas,
devagar, estrangulando meus instantes,
vou caminho ambulante
por essas bordas de destinos.
Em desatino, bebo os meus vagabundos
nesse berço meliante
que o torpor da lucidez
me apresenta:
a infância me surge maltrapilha
vestida de farrapos e me estende as mãos.
É quando vejo que a pedra
do passado pesa nesses dedinhos sujos
e faz calo denso.
Tão densa é a vida,
tão intensa a despedida
dos sonhos que, nem sequer,
nasceram em seus olhos miúdos
e protegidos de ramela.
Pelas mãos dos homens,
essa janela escancarada
ornando a sacada dos desencontros
pelos iguais tão desiguais.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Regresso

É nesse rio de riso
aqui, para além dos meus sapatos,
que eu deixo as nuvens para trás,
pois eu preciso que esperes por mim.
É aqui, raso,
Pensamento vago, me pergunto:
quem ao acaso espera por mim?
Deixei meus sonhos plantados em algum lugar,
Foi quando vi colibris semeando árvores
Em tantos corações absortos,
e eu vejo, sim, que essa estrada longa
leva-me para onde o vento
balança sorrisos para lá e para cá,
e eu, indeciso, não sei se
para além dos meus passos
há alguém esperando por mim,
pois eu estou voltando.

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