quarta-feira, 31 de março de 2010
sábado, 27 de março de 2010
Alguma forma de liberdade
surrava o corpo a dor
com seu prato leve de desespero
Tão entregue era vestir de núpcias
a madrugada, as flores mal vestidas
de desencanto, um engodo
Na passarela um istmo de silêncio
era o único meio preso entre o aplauso
e o vazio perpétuo das multidões:
cortinas pendem, tambores rufam,
era uma fotografia presa na parede de pedra
e a esmeralda da noite escapando
pelas frestas da imaginação do povo
era uma rosa surda, era uma rosa muda
que não sorria nem chorava
com suas pétalas abertas,
com seu perfume de deserto
Pendia do caule robusto da guerra
a seiva vermelha e um riso amarelo
desenhando algum futuro
em meio ao extrato, às ruínas, ao caos...
Um grito corta todas as possibilidades de fuga
do alçapão sem nome da falta de amor
e estava deitado no berço miserável da vida
como uma ninfa prestes a enclausurar-se:
o poeta cheio de medo,
com seus fios de sonho, com o pavor
da morte anunciada
com a dor estrangulada, o raio fugidio
das sensações, com sua mania de brio,
com seu desastre e gana
procurando pelas beiras da semana
algum rastro de poesia,
alguma forma de liberdade...
terça-feira, 23 de março de 2010
Poema particular
Apesar de a calma inerente
fazer um pouso plácido
em minha face,
e minha voz ter a cadência
dos anciãos,
eu sou mesmo é um temporal...
Agora, a igualdade existe tão somente para os iguais...
Então cada pedra se encontra em meio aos pedregulhos,
cada tolice faz sentido em meio aos tolos
e a rocha firme da solidão encontra abrigo
no seio obliquo da ausência, que é também algum vazio...
Mas a noite possui uma música boa
e a insônia é perpendicular ao caos:
paralelos distantes, de dia os olhos pendem.
Então diga por que amanhã é tão pretérito?
Os dentes mordem e a boca saliva palavrões,
algum pulmão passando apuros,
e aquela ressonância se revelando em particularidades:
calar a boca com um manifesto, algo óbvio, lógico!
A gaiola se abre e o pássaro não consegue fugir...
segunda-feira, 22 de março de 2010
Levitação
os amores, os abraços,
nem me fazer banhar de todos os risos que,
por ventura, semeei com minha falta de jeito.
Mas, talvez, eu continue com esse defeito,
essa mania de vento:
é que com a platéia insurgente da vida,
dessas que se contradizem,
eu sou o próprio aplauso
num quase enlevo,
numa quase levitação.
domingo, 21 de março de 2010
vida engendrada
se engendra a vida
tenra vida que em nós engendra
o tempo o sol mais verdadeiro
a sombra aberta
a pele crua
a noite densa
o olhar da lua
se prontifica
em nós o berço
o arco enverga
a flecha aponta
surdo é o mundo
que não ouve
os carnavais
a terra úmida
os olhos secos
a boca ávida
a fome descendo
os degraus
da incerteza
procurando abrigo
para se esconder
do oco
o toco espetando
a fé
a fé desconfiando
da descrença
a bênção vence
o verbo abutre
ótimo estado
obstinado ateu
vencendo o ferro
ferrugem carcomida
essa ida
desenfreada vida
que engendra a terra
o ventre livre
hélice e a faca cega
haste decepando
em despedida
essa desmedida ira
vinha do absurdo
cálice de vento
se derramando sobre
o meu ser
se engendra a vida
cólica em cólera
desembuchando
a metade ao quadrado
dessa vontade múltipla
de viver