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sábado, 27 de março de 2010

Alguma forma de liberdade

Estava um dia calado
surrava o corpo a dor
com seu prato leve de desespero

Tão entregue era vestir de núpcias
a madrugada, as flores mal vestidas
de desencanto, um engodo

Na passarela um istmo de silêncio
era o único meio preso entre o aplauso
e o vazio perpétuo das multidões:

cortinas pendem, tambores rufam,
era uma fotografia presa na parede de pedra

e a esmeralda da noite escapando
pelas frestas da imaginação do povo

era uma rosa surda, era uma rosa muda
que não sorria nem chorava
com suas pétalas abertas,
com seu perfume de deserto

Pendia do caule robusto da guerra
a seiva vermelha e um riso amarelo
desenhando algum futuro
em meio ao extrato, às ruínas, ao caos...

Um grito corta todas as possibilidades de fuga
do alçapão sem nome da falta de amor
e estava deitado no berço miserável da vida
como uma ninfa prestes a enclausurar-se:

o poeta cheio de medo,
com seus fios de sonho, com o pavor
da morte anunciada

com a dor estrangulada, o raio fugidio
das sensações, com sua mania de brio,
com seu desastre e gana

procurando pelas beiras da semana
algum rastro de poesia,
alguma forma de liberdade...

2 comentários:

Quintal de Om disse...

E encontrou? tomara que sim! ;-)

Abraços, flores e estrelas...

Anônimo disse...

Imagine se não estivesse sentido todo esse sufoco, então!! Uma cartase em grande estilo, poética...

Muito boa!!

Beijos,
Ana Lúcia.

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