Numa praça, tomada pela atmosfera
de um horizonte circular,
está sentado, sob a espreita
do vazio e o caos,
num banco, entre o silêncio
e a placidez dos seus olhos:
um velho...
Chega uma menina, com seus olhos grandes,
com sua boca curiosa
entrecortando as palavras
por entre a língua inocente
e os dentes, que já foram janelas,
agora destacados, e pergunta:
- Que é isso em seu colo?
- É um livro. Responde o velho.
- E esse livro é sobre o quê?
- Poemas...
- E quem escreve poemas é escritor?
- Não, quem escreve poemas é poeta.
- E o que é poeta?
O velho coça a barba grisalha, enverga
a sobrancelha direita numa ar pensativo
e responde.
- Poetas são pássaros que voam todos os dias
para outros quintais.
A menina balança as pernas, estica os braços, arregala os olhos e:
- Poetas são tristes por não morarem na árvore
de apenas um quintal?
- Não, triste é a folha vazia e branca
onde pousa o poeta com seu olhar de grafite.
Então, a menina pega o livro, abre-o, rasga uma página
e a lança pelo vento morno da tarde.
O velho, sem entender nada, pergunta:
- Por que rasgou o livro e lançou a folha ao ar?
- Porque há pássaros cegos que precisam
aprender a ler esses quintais...
GRANDES FAVELAS - meu novo romance
Há 6 dias
4 comentários:
Lindo, leve, puro e doce.
Nada como o olhar das crianças para nos fazer enxergar o que sempre esteve ali, embaixo dos olhos, mas cegos não vemos.
De uma belezura poéticamente linda.
Beijomeu
grande poema... só me perdi um pouco no final ...rs...
Você é tantos...
bjos, poeta.
aplausos com a boca: "cloc, cloc"
sou péssima com as anomatopéias...rs
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