A minha palavra está pouca
como a rua que se encurta de vista
e pássaros sem galhos para pousar.
Meu verso está pouco
sem carência de vírgula
para pausar meus instantes como horizonte
espremido que se revela apenas em fotografia.
Está pouco o dia sem azáfamas
e a solidão das calçadas flamejantes
de tantos lugares que ali moram
com outros endereços para partir.
A minha rima está inculta, pobre
como pombos que arrulham
a fome bicando migalhas pelo chão, redundantes.
Busco, sem êxito,
a poesia limpa das prateleiras,
mas a encontro pouca nos olhos secos
do cão faminto
e no abrigo sem parede revestido de gente.
Um comentário:
A poesia está nos olhos dos cães e na calçada rachada, vestida de passos largos e confusos de todo dia.
Que bonito, Márcio.
Beijo na alma,
Sam.
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