Há um tempo,
deitei minha esperança na rua e,
vestido de banco com meu nome inscrito
em letras recortadas de jornal,
cravei meu endereço
no destino das coisas.
Há um tempo,
vi meu cotidiano se diluindo
em pequenos gravetos
e a existência pedindo abrigo em minha carne:
- neguei!
Há um tempo,
as horas doloridas duram sem cor,
sem lápis, sem palavras
e as dobradiças enferrujadas
abrem janelas
significando horizontes para meus olhos
vestidos de catarata e silêncios da cidade.
Há um tempo,
minha boca houve frase alguma,
meu nariz enxerga cheiro algum,
meus ouvidos sentem luz nenhuma
e da centelha da cor
salivo o gosto do tempo
com seu tamanho indefinido
vestindo meu rosto de vincos
e minha cabeça de insanidade.