Eu deixo minha tarde
de poeira acasalar o grito das andorinhas
Eu deixo fecundar a noite
mais profunda dentro
de mim
e acolher na carne fria
da tua sarjeta
os oceanos colhidos do sereno
desse teto de nuvem,
desse céu grávido de agosto
com seu talher de bronze
a devorar minha vontade.
Eu deixo aberta a porta
comportando minha
ilusão que não quer ir embora.
E visitar a cidade,
e vislumbrar nos olhos
da cidade
essa cisma urbana
de beco e abandono.
Às casas, aos muros,
o seu rascunho desenhado com a silhueta de sonhos
que não alcançou a nuvem mais faminta de abundância.
Abandones essa fábrica
derradeira de vicissitudes
e morras num combate
real de pedras
que fazem doer
à menor queda,
mas não faz quedar
a seiva da árvore que faz
brotar do abismo do ser
a verde constatação
de que germinas quando
tens os pés fincados no chão
como a lucidez de uma raiz.
Eu deixo para amanhã
o que não posso fazer hoje
mas não deixo para hoje o que nunca terá amanhã.
Eu já fiz ontem...
GRANDES FAVELAS - meu novo romance
Há 4 dias
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