Se o amor que achou era infinito, guarda no seu peito o grito, acaso achar alguém,
outro sorriso que contém no esmalte de um olhar.
Se o amor que achou não terminasse, então figuras de um álbum incompleto
resvalassem sobre o teto
de vidro que se quebra o colorido de um Natal.
Então não fosse separado
o jogo, o braço não aceito,
o embaraço feito uma carta
de baralho embrulhada
em jornal.
O quanto a pressa aperta o passo, o prato limpo,
a mesa composta de ninguém,
na lareira do cômodo
possesso de estar bem.
Eu sei, fui mais feliz
e quem me diz se isso tudo é natural.
Se eu me perder pela alameda, um labirinto feito de papel.
Eu vi qualquer notícia,
a preguiça dispensada de motel, então quando tudo estiver certo, não há mais morte que me arranque desse céu.
sexta-feira, 17 de junho de 2016
quinta-feira, 16 de junho de 2016
Desconexo
Se eu não estou por aqui,
em qualquer lugar eu durmo.
Me assumo num planeta
numa quadra de basquete
sem notar pelo placar.
Se eu não fosse mutante
e usasse alto falante
entraria num disquete
para coagular, com plaquetas,
meus canteiros de girassóis
que não tem lugar pra morar.
Se eu, de repente, me escondo
numa rua repleta de gente e vazio
é que vou fazer uma viagem
para o escombro deixado de seu riso lacônico de despedida
e não vou me achar numa breve pausa, entre o delírio e a náusea.
Se eu não tenho casa
não vou mais de uma vez
ser anfitrião,
não vou me esconder debaixo da asa de uma mariposa.
Talvez eu me dilua na atmosfera de um lírio
e me condense num átomo
escondido atrás da orelha de um livro.
em qualquer lugar eu durmo.
Me assumo num planeta
numa quadra de basquete
sem notar pelo placar.
Se eu não fosse mutante
e usasse alto falante
entraria num disquete
para coagular, com plaquetas,
meus canteiros de girassóis
que não tem lugar pra morar.
Se eu, de repente, me escondo
numa rua repleta de gente e vazio
é que vou fazer uma viagem
para o escombro deixado de seu riso lacônico de despedida
e não vou me achar numa breve pausa, entre o delírio e a náusea.
Se eu não tenho casa
não vou mais de uma vez
ser anfitrião,
não vou me esconder debaixo da asa de uma mariposa.
Talvez eu me dilua na atmosfera de um lírio
e me condense num átomo
escondido atrás da orelha de um livro.
sexta-feira, 20 de maio de 2016
Poema de plástico
Depois do frio que não termina
e a dura superfície azul
a dissolver-se em firmamento
depois da intempérie do tempo
Há no espaço imaterial
um grito de qualquer centelha
Há entre duas pernas o que falo
fundir mais e menos completo
E o coração feito carne
feito de amor imprudente
depois que a íris desintegra
Há cores no cinza, quintal
que dilui a beleza simples
no plasma de um olhar de vidro
e a dura superfície azul
a dissolver-se em firmamento
depois da intempérie do tempo
Há no espaço imaterial
um grito de qualquer centelha
Há entre duas pernas o que falo
fundir mais e menos completo
E o coração feito carne
feito de amor imprudente
depois que a íris desintegra
Há cores no cinza, quintal
que dilui a beleza simples
no plasma de um olhar de vidro
quinta-feira, 7 de abril de 2016
Flores de papel
Havia um quintal
de cercado de bambu
e quem não tinha lápis
desenhava com tatu
escavando esse chão
forrado de jornal
pintando o sete
com a minha mão
um analfabeto procurando a vez
de fabricar o seu xadrez
em que acomete
em sempre ser feliz
havia nesse mato
além dos olhos um belo jardim
que era alguém de fato
mais azul
do que um pequeno céu.
Era uma flor menina
dentre todas a mais bela
com uma pétala bem amarela
feita do crepom
macio de um papel
também era lilás
e era roxa como um cartaz
feita de cartolina
ela sabia como é que se faz
e não tem jeito
no campo é que eu vou me achar
colher no peito
um belo buquê
para no mundo espalhar
o melhor que há de você
e que agora está dentro de mim
de cercado de bambu
e quem não tinha lápis
desenhava com tatu
escavando esse chão
forrado de jornal
pintando o sete
com a minha mão
um analfabeto procurando a vez
de fabricar o seu xadrez
em que acomete
em sempre ser feliz
havia nesse mato
além dos olhos um belo jardim
que era alguém de fato
mais azul
do que um pequeno céu.
Era uma flor menina
dentre todas a mais bela
com uma pétala bem amarela
feita do crepom
macio de um papel
também era lilás
e era roxa como um cartaz
feita de cartolina
ela sabia como é que se faz
e não tem jeito
no campo é que eu vou me achar
colher no peito
um belo buquê
para no mundo espalhar
o melhor que há de você
e que agora está dentro de mim
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
A prostituta
Fechou a porta do quarto. Estava exausta demais daquela noite sem verão. Arrecadou o suficiente para pagar metade do aluguel da kitnetch alugada no centro velho da cidade. Elisabeth não tinha filho como a maioria das mulheres que viviam nas ruas para ganhar a vida no ofício de mulher da vida, como dizem alguns. Ela dizia: eu sou puta, simplesmente. Tão simplesmente como a vida é. Não sou da vida, sou da morte, que é quem me terá para sempre em seu leito. Ficava deitada olhando para o teto, fumando um cigarro, tentando esvaziar a mente. Não sentia culpa de vender seu corpo. "Não vendo o corpo, alugo. Meu corpo é meu e da terra". Dormia até meio dia mais ou menos, levantava-se logo, preparava o almoço e depois saia para andar pela cidade. Não gostava de reclusão. Solidão apenas de amor e para descansar. Fora isso preferia a companhia sem nome da multidão de gente que atropelava o instante no ir e vir das ruas. Nunca lembrava de um cliente, por mais atencioso que fosse. Medida de se desvencilhar de envolvimento. Medo de sofrer. Não falava de amor. Quando ainda jovem, se apaixonara por um rapaz. Foi o único amor. Mas este morrera de uma doença súbita e fatal. Desde então largou mão. Sonhou uma vida juntos, casar, ter filhos, ser feliz. Jurou não amar mais ninguém e cumpriu. Elisabeth era de todos os homens e nunca pertencia a ninguém. No início da noite, de batom vermelho, o ponto na rua ladeada de árvores e não era mais quem um dia sonhou um amor, era meretriz, ela era atriz para encenar mais um capítulo de sua história. Despojava homens de suas casas e esvaziava o sêmem que implorava para escorrer por entre suas pernas. Mas ela permitia apenas que sentissem seu gosto de embalagem, pois o presente, o essencial de sua carne, nunca seria de ninguém.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
Amor de pecado
Amor é amor quando peca
para não se acabar dor
e foge sem razão agreste
Amor se acaba sem fim
perto de quem se quer e ama
não se entrega em desamor
e finda em brasa na cama
Não sente a roupa que veste
pois tem o coração puro
transbordando seu jasmim
amor se vê no escuro
Amor é um beijo distante
lembra um livro na estante
sede de uma boca seca
para não se acabar dor
e foge sem razão agreste
Amor se acaba sem fim
perto de quem se quer e ama
não se entrega em desamor
e finda em brasa na cama
Não sente a roupa que veste
pois tem o coração puro
transbordando seu jasmim
amor se vê no escuro
Amor é um beijo distante
lembra um livro na estante
sede de uma boca seca
Funcionário
abaixo do chapéu ao sol
mora um rosto cansado
os olhos baixos, escuros
buscando sombra e abunda
dor, delírio, desamor
abaixo do uniforme
a pele em marron canela
esfoliando seu tempo
suas horas gastas em custas
de vida, sonho ou morte
os pés calcando no chão
a peleja, voltar isento
deixar na pele o cimento
a nódoa de viver gris
mora um rosto cansado
os olhos baixos, escuros
buscando sombra e abunda
dor, delírio, desamor
abaixo do uniforme
a pele em marron canela
esfoliando seu tempo
suas horas gastas em custas
de vida, sonho ou morte
os pés calcando no chão
a peleja, voltar isento
deixar na pele o cimento
a nódoa de viver gris
Adormecer
Um nobre descobre
em sua insurreição
que também é pobre
um ressuscitado
nas letras de um poema
Morre então o sábio
vive visceral
a sabedoria
de água que socorre
a sede e o rio corre
abaixo de lenços
de lençóis freáticos
um vir à tona
e a sílaba átona
adormecer fria e só
numa sepultura
em sua insurreição
que também é pobre
um ressuscitado
nas letras de um poema
Morre então o sábio
vive visceral
a sabedoria
de água que socorre
a sede e o rio corre
abaixo de lenços
de lençóis freáticos
um vir à tona
e a sílaba átona
adormecer fria e só
numa sepultura
Os morros
Não há nada que detém
a rua com seus muros próprios
atrás de um vermelho cru
na esperança de uma janela
que receba acenos, morte
de passagem, funerais
homens com a vista curta
e seus jornais embrulhando
o cotidiano com notícias
diante do morro, a sorte
de espichar os olhos nús
e sumir fotografia
dentro de um buraco escuro
os cães ladrando a vida
depois que essa noite cai
a rua com seus muros próprios
atrás de um vermelho cru
na esperança de uma janela
que receba acenos, morte
de passagem, funerais
homens com a vista curta
e seus jornais embrulhando
o cotidiano com notícias
diante do morro, a sorte
de espichar os olhos nús
e sumir fotografia
dentro de um buraco escuro
os cães ladrando a vida
depois que essa noite cai
Dentro de casa
o olhar pra fora da casa
buscava sempre um aviso
uma cisma no entardecer
voz de andorinhas no céu
achei o cuspe endurecido
numa goma de mascar azul
desbotada de sabor e fel
e o risco de um disco pobre
enriquecendo depois
do jantar uma canção
a voz de meu pai dobrando
a esquina de dois em dois
um pra lá e outro na porta
pé de anunciar respeito
buscava sempre um aviso
uma cisma no entardecer
voz de andorinhas no céu
achei o cuspe endurecido
numa goma de mascar azul
desbotada de sabor e fel
e o risco de um disco pobre
enriquecendo depois
do jantar uma canção
a voz de meu pai dobrando
a esquina de dois em dois
um pra lá e outro na porta
pé de anunciar respeito
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