Hoje me pareceu um dia normal. Sim, normal, porém diferente. Fiquei pensando acerca das milhões de possibilidades de hoje ter sido um dia atípico. Um dia excepcional. Conclui que foi sim. De volta para casa, estávamos indo, no ônibus lotado, uma cadeira de rodas ao lado, um garotinho, aparentemente portador de alguma deficiência que não vem ao caso o tipo. Era um garotinho experto. Comunicava-se com a mãe muito bem e mexia os bracinhos para lá e para cá. Fiquei pensando, “se uma asa de borboleta bater duas vezes, o mundo inteiro se modifica, tudo se transforma em decorrência de um movimento que causará uma cadeia através do ventinho gerado por essas asas”, e mil idéias mais se formaram.
Chegando em casa, Deja Vu, um filme do Tony Scott pareceu fazer um certo efeito em minha cabeça, depois de um ano. Manipular o destino dentro de um abrigo de borboleta, é uma metáfora, morada ancestral onde todos um dia já passamos, seja num casulo, ou num útero sagrado pode ser lembrado também em “Efeito Borboleta” de Eric Bress e J. Mackye Gruber onde o passado parece ser o grande dono do presente e senhor absoluto do futuro. Mas porque estou lembrando esses filmes? Também não sei. Só sei que tentando analisar as possibilidades que escolhemos, percebo que sempre entramos em conflito sobre as conseqüências decorrentes dessas escolhas e os efeitos idealizados por possíveis escolhas diferentes. Todos os dias são iguais até certo ponto. Mas se pensarmos sobre um ponto de vista das bilhões de experiências e interações que todos os seres mantém entre si, posso assegurar que cada dia,desconsiderando as mudanças exteriores e levando em conta as internas, possibilitadas por essas relações interpessoais, são díspares. A disparidade da vida se mostra em cada caminhar. O poeta já escalou a montanha dos sentimentos humanos e desceu cada experiência pelas escadas de palavras de cada poema, assim faz-se a poesia. Não a idealizada, mas a crua, a nua, que está nos bracinhos do garotinho contente fazendo um movimento com a cabeça e mastigando o biscoito que a mãe acaba de por em sua boca.
Tanto rodeio para acabar falando de poesia. Mas não é só de poesia, também de beleza. Não a beleza esdrúxula, a beleza encontrada na face da mulher sem maquiagem que oferece um sorriso brando, meio calado. Ou no cair das folhas no outono. Ou no abraço dos amigos. Ou no beijo demorado dos amantes. Eita, lá vem a poesia novamente (acho que sou convencido, considero essas bobagens poesia). Não consigo desapegar-me dela. Quem? Tua namorada? Não. A poesia, ora!
Eu estava falando mesmo era das possibilidades de nossa vida ser diferente. E pode ser. O segredo, na verdade, não é nenhum segredo. Está escancarado na alma dos mais simples. É só deixar fluir como as asas da borboleta, como a vida que teima sempre em existir onde quer que a gente vá. Se saímos cansados do trabalho na rotina maldita que parece não ter fim, podemos sempre fazer diferente. Ouvir uma canção e imaginar horizontes paralelos, navegar junto às nuvens e pescar tubarões do futuro numa constelação imaginária, pois em cidade grande não existe estrelas no céu. Fazer o que. É o que temos. É assim que devemos encarar a vida e escancarar a alma ao mundo. Dentes brancos, amarelos, dentaduras ou banguelas, não importa, o sorriso tem de se mostrar vez ou outra. Isso já é diferente e fazer diferente. Agora, lamentar o que já passou, é perda de tempo. Isso é, no mínimo se auto- anular.
Vamos celebrar a vida num amanhecer preguiçoso. Vamos aproveitar os momentos ociosos e perder alguns minutos raciocinado sobre eventuais escolhas que poderão mudar a nossa vida. Essa é uma crônica que escrevi sobre um simples pensar diferente. Faça também a sua.
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