O dono do
boteco varrendo a rua deixando alta a ilusão de fabricar com poeira um panorama
quase solitário da calçada. Os cães vigiam o passar e espantam a existência que
sobrevoa teimosa fazendo órbita pela cabeça em sentido. O moleque empina a pipa
olhando para o céu preenchido de brincadeira. O pai o beijou numa quase
religião. O rosto com um bronze de sol. O olhar com uma prata de lua. E a complacência
mútua da despedida. No balcão o copo americano preenchido de coragem. A garganta
seca agradece: Deus lhe pague!
O embornal se sustentando no ombro vestido de camisa marrom. A marmita fria que vai saciar o vazio do estomago ao meio dia. A mulher que ficou para desembaralhar o tempo e deixar a sua hora de dormir mais tranquila. Pela manhã, um prato com cuscuz, uma xícara de café e seu amor guardado apertando o peito. Um olhar de afago. A rua comprida levando seus pés vestidos de sandálias. A calça curta se desculpando pela falta de pano.
Olhou para
aquele céu vestido de edifícios. Seu ofício de fabricar o aconchego alheio. La embaixo
o precipício. A corda roída sustentando o andaime calejado de seu corpo frágil.
A janela sem cortina, seu vão de tristeza testemunhando a queda. O vento
cortando a pele e amaciando o susto. Era sábado sem importância e o chão de
grama verde recebendo seu grito pela tarde de outono. Era cinza o dia. A gente
pasma. O murmúrio e, sem exigir nada, apenas as folhas caindo da árvore para
fazer companhia numa cumplicidade de silêncio e fim.
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