quarta-feira, 17 de março de 2021
Agradecimento
Como não agradecer infinitamente
a prece alcançada?
Prece vestida de um quase desespero
quando o vento não alcança mais as velhas folhas que fanam sem cair.
Retirada de uma fé ressuscitada
do último respirar antes de fechar os olhos.
Agradeço, pois, como um novo começo que restaura
o mármore umedecido.
Agradeço com louvor de trombetas de anjo
com seu bronze reluzente de eternidades.
Agradeço com graça e em graça de alcance
como a fotossíntese do verde
logrando ao êxito da vida de esperança.
Agradeço com a ênfase da gratidão merecida de quem não desiste,
pela parceria de quem nos ama,
pela confiança de quem não nos conhece,
pela benção de amanhecer
e cultivar um novo dia,
toda luta e todo caminho,
o caminhar, a rosa, o espinho
que nos faz cuidar de ter cuidado com a beleza,
de ter respeito pelo que nos pertence ainda não visto,
mas que não nos escapa das mãos.
Obrigado, meu Deus!
Eu venci o mundo,
calquei com a pedra e afundei, profundo,
minha falta de fé no abismo e submergir pássaro no infinito.
Estou livre...
A evolução dos bichos
Houve um tempo que tudo era máscara,
o de um sorriso tentando esconder o que o olhar desmentia.
Nesse lugar onde não morava ninguém,
nem acolhia ninguém,
nem se sentia remorso
pela falta de abraço,
como quando um jogo empata,
essa telepatia de saber tudo
sobre quem a nós não se conhece,
e ainda jorra, bruto, considerações
sobre quem somos no reconhecer do outro.
hoje, de fato, usamos máscara:
que alguém me convide
para a evolução da espécie.
Do querer
Do imenso
quero apenas eu, propenso,
roendo unha
como testemunha,
na minha comunhão
com o mundo,
tão simples como dizer "não".
Quero acender um incenso
pela falta de bom senso
que aprendi no escuro
de uma vela acesa no futuro.
Quero a utopia
de Milton Nascimento
que acende a noite fria
e me engrandece como fermento
na multidão.
Presente contínuo
A poesia é uma ira
e não rima com nada
senão absurdo
que não é o som que um mudo vê
nem a imagem que o cego escuta
nem o tato que o nariz sente
nem o cheiro
dos olhos de uma flor
derramado em lágrimas.
A poesia é um verbo
contínuo que está
em tudo isso junto e invertido.
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