Vestindo o meu traje sobejo
desço a ladeira vazia
da minha rua povoada de estranhos,
tão estranhos esses silêncios
que gritam em minha alma, solidão.
A minha voz é um esgarço
que abre trincheira em meu imo:
lanço mão do que me desprende
a alma nesse meu desvelo,
trago num verbo oblíquo
esse aço incorrigível de me ser.
Deixo para trás a volúpia
do pó que não fui...
Deixo para trás essa hemorragia
de palavras que traçam
minhas trilhas,
traçam meu viver.
O que ainda não tive, nem doce,
nem fel, espalho pelos cumes
do mundo, e do amor,
faço cortina para pendurar
na janela absoluta do meu coração.
GRANDES FAVELAS - meu novo romance
Há uma semana
7 comentários:
Um belo exemplar. Cheiros de alfarrábios. Belos livros com histórias e vida, muita vida.
Traças caminhos e teces palavras que as traças não destroem.
Andas com uma intimidade absurda com as palavras que teces nestes dias, Márcio.
Tá muito lindo!
Muito.
E tá forte e INTEIRO, inteiramente integrados tu, palavra e poema.
Linguagem e eixo - UM SÓ.
Meu Deus que coisa linda!
Beijos, boa semana!
Escreve, amigo, aproveita esta janela linda.
Um poema alfarrábico, bonito!
abraço
Mas como é bom vir aqui e sonhar...
BJOS
Caminhos que só vc conhece nesse poema "velho" e tão cheio de vc!
Nesse bolor de recordações que na verdade estão intactas e sentidas.
Lindo!
beijo
"Deixo para trás a volúpia
do pó que não fui...
Deixo para trás essa hemorragia
de palavras que traçam
minhas trilhas"
forte, belo, verso pra dilacerar...
beijo e
beijo
poemas bem escritos roubam as palavras que um dia eu tive, escondem de mim o vocabulário, embora pesquem no meu estômago, com anzol de desespero, a vontade de escrever, de confessar tudo que senti ao lê-lo... mas as palavras vão fugindo, vão fugindo e por fim só me resta, só resta uma nota muda, um silêncio que não diz nada como quem diz tudo.
E eu pego uma cadeira pra sentar, uma espera pra ficar e fico, fico, fico...
Pintoos meus olhos destes versos teus.
Beijo
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