Ele caminhou e dançou prisioneiro voraz.
Foi bolha de sabão, sorriu luz manhã,
Chegou repleto, inquieto e vastidão.
Sai assim, irreverência, é volátil, tato sagrado das solidões.
A bolsa, a sua bolsa de chuva carrega suas uvas de um viver vinho,
Sai em desalinho, sorrindo, caindo pés, barrancos e tropeços,
Chapéu de palha assoviando endereços
Pelas bordas do sentir, mero esmero, totem da fé, salutar...
Vai prisioneiro... Vai estradeiro, menestrel
Sobre o viés da ausência que silencia a voz.
A palavra jaz como rocha sedimentar,
Jaz oposta, jaz ocre e ferrugem,
Jaz obsoleta, espoleta e penugem de ganso...
Seu melhor faz arreio de si, quina e cabeça...
Espantalho mordaz faz aqui sua sina, faz aqui menina
Boneca, sorrateira manhã, cálida, calcinada...
Esse corpo se morre, se morre a pele, se morre as unhas,
Mas morre mais a esperança quando morre a certeza...
Seus dias auroras fazem nascer âmagos, âmbar verão.
Tem mais norte ao longe, tem mais sonhos
Que as mãos buscam com a sede das horas,
Que perecem inertes pelos pés, que marcam os passos,
Cada um, cada pó levantado, deixando para trás
A cinza dos malogros, e assentando no coração
A beleza que um dia colhera de sorrisos
Que arrancara com as mesmas palavras mudas,
Os mesmos gestos mudos, agora, mundo, vá-se,
Sem arreio, sem estribo, sem montaria, sem noite,
Sem dia, sem o bornal para guardar as lembranças,
Sem o canivete para cortar as dores,
Pois agora, está tudo ali, pele e coração,
Juntos, como água e sal diluindo o seu cansaço.
GRANDES FAVELAS - meu novo romance
Há 6 dias
2 comentários:
Olá Marcio...ao ler a sua bela poesia, veio em minha mente a canção do Jorge Vercilo que diz:
"Eu!
Prisioneiro meu
Descobri no brêu
Uma constelação...
Céus!
Conheci os céus
Pelos olhos seus
Véu de contemplação..."
Eu desejo um dia de paz ao seu coração Poeta.
Um abraço carinhoso
Olá Márcio.
Seus poemas são de temática lírica em versos de grande profundidade técnica , poética e reflexiva. Seus textos nos fazem parar e refletir em cada linha, em cada palavra, prendendo a nossa atenção do início ao fim.
Seu eu-lírico extravasou neste poema de forma singular !
Belo!
Meu carinho sempre..
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