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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Diário de um moribundo

Vestiu algum dia teu manto escuro,
O poeta arredio, em encruzilhadas nefastas de desprazeres?
Vestiu tuas misérias, tuas interjeições, vestiu o âmago indecente
Da nobreza insípida, da verdade tragada de tuas glândulas
Despojadas, glândulas secas, glândulas dissabores,
Essas fictícias lembranças de tua carne trêmula,
De tua boca salivante, de teu dorso errante
De cavalgadas estranhas, onde tuas entranhas
Arranharam uma cólica indigna de teu riso?
Ah, poeta moribundo... Vestistes de poema,
Vestistes de poesia, de poeta, para disfarçar tua transparência?
Acaso fizestes isso, oh poeta de um infinito
Vão aberto nesse teu vácuo recém descoberto,
Dessa tua boca ávida e seca, dessa tua palavra reticente,
Que agora mente, sente, invente?? !!!
Descobristes que não podes sair por aí a plantar palavras
Em pedras inertes, nem podes jogar ao vento
A semente da tua vontade, pois que sábios são os
Ouvidos que ouvem apenas o som harmonioso da mentira,
Sábios os olhos que lêem apenas a beleza camuflada
Num mimetismo pintado pelo próprio ego.
Tu, poeta, não desejas o belo, não desejas a verdade
Vestida de riso, nem abnegas de tuas crenças, essa doença
Incurável de tuas incertezas, essa desgraça vil de tua vicissitude.
Tu não te desprendes dessa tua palavra leve, desse peso obsoleto,
Não te desprendes de amizade, oh, ínfimo bobo e tolo!
Acreditas acaso em poeira cósmica transformada em nuvem de sonho?
Poeta, teu pecado é ser poeta, tua desgraça é acreditar além dos olhos,
Tua sentença é cometer um crime não previsto no código penal
Dos homens... Então, poeta, flutue tuas cartas, tuas mensagens,
Teus poemas pelo mar afora e distante da ilusão, e viva...
Pois tua vida é um floco de algodão jogado ao vento,
E vai dar nalguma poesia sem destino, vai dar nalgum cansaço,
Nalguma tristeza, nalgum abraço, nalgum riso
Que ainda não foi desenhado pelas mãos indecorosas dos homens...

3 comentários:

Vivian disse...

...que dádiva seria,
morrer pela poesia!

partir deste mundo
nas asas da inspiração.

um beijo, menino lindo!

Beatriz disse...

uma das tuas mais bonitas poesias que eu já li. arrazou, poeta. é intenso, vai fundo.
gosto da palavra intensa.
beijos grandes.

Cris Animal disse...

Marcio, eu li duas vezes! É triste, é cheio de força, cheio de crença naquilo que é felicdade e razão.
Que o poeta seja eterno e continue.
Criador e criatura...obra de mãos apaixonadas.

Lindo!

beijos

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