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sábado, 5 de abril de 2014

A sentença

Creio me homem. E homem sou
Amarrado ao mundo com seu substrato
De gente perigando o abismo
Que ronda a vida. Homem apegado às crenças.

Antes sou mais inofensivo aos bichos,
Mais impaciente com a lucidez dos bípedes.
Ontem criam-me as palavras balbuciadas
De um maltrapilho tolhendo o destino
Como se cada sílaba fosse uma lâmina
Que profetiza as coisas.

Coisa me foi sempre e sempre me será.
O que descontinua com a matéria é o mesmo
Bálsamo que presenteia com a inércia.

Nem dúvidas pairam sobre as antenas das moscas,
Nem besouros sobrevoam o aspecto
Sobrenatural do que não vive.

O que perturba a ordem do caos
É o vício da própria ordem.
Tudo se desfaz, e tudo se faz...
É contínuo o que não se contém.

Há fins que estão sempre apontando
Para o que foi feito. E vice e versa.
Um homem chora seus infortúnios,
Chora-os como amálgamas.

Nenhum desastre,
que não seja de incumbência natural,
pertence ao acaso sobrenatural das coisas.
Tudo é previsível e evitável.

Assim como o fumo que planta
A enfisema, como o perfume
Que exala da rosa,
Como a palavra gera a polêmica.

Não foram os deuses que desceram do olimpo,
Foi o homem que subiu
O degrau da independência divina,
E agora pertence à ordem dos soberanos.

A soberba, a trivialidade,
A idade que não termina,
Pois não se há mais orvalhos caindo do céu,
Nem folhas para serem lavadas,
Nem formigas no chão para descobrir
Seu caminho verde.

O homem também está morto.
Morto com suas fatuidades,
Morto e visceral, sem fim, sem meio,
Sem começo.

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