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quinta-feira, 29 de abril de 2010

a última

era assim:
bate na porta
algum toc toc
de um coração maluco

e uma parede puta
vendendo a alma nua
que ficou de sobra
num canudo

tem uma pressa
de destrancar o chão
abrir os passos
e encontrar na curva
algum olhar
que não me viu

estancar o desespero
pegar no
desenlevo da feira
toda ar que não partiu

parir na avenida
alguma ida
alguma vida
sem endereço

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Doze Anos

Aquela boca tingida de batom,
um ébano em cobertura púrpura,
cetim balançando pobre pela janela protegendo
da noite lá fora...
O balcão é o apoio das frustrações,
Um doze anos envelhecido apenas no rótulo barato,
aquele falso sabor, entorpecimento.
Amor é sentir a atmosfera selvagem
das coisas tortas
e o âmbar da madeira corroída
pelo tempo.
O olhar era mistura de lascívia,
minha libido desgovernada
tomada de vício, vicissitude que não aprendi,
pois entre suas pernas cruzadas
apenas o que meu desejo não pôde tocar.

sábado, 17 de abril de 2010

A rosa inocente

Sai pela rua vadia todas as vaidades,
e o perfume barato das prostitutas,
e o cheiro de tabaco impregnando de gente
as laterais dessa cidade descomposta...
Nesses botecos, é um viço de manifesto,
calar as injúrias com um gole de cachaça,
um trago no cigarro, desenferrujar o carro
do velho motor a diesel,
é tanta perna pelada, desavergonhada inocência
enchendo de libido
as barbas ainda pretas, outras grisalhas,
alguns fiapos que acompanham os olhos,
a boca cheia de água, o corpo cheio de vício...

sábado, 10 de abril de 2010

Crônica do pós moderno

Estamos no tempo da náusea onde somos cidadãos do mundo, mas nos sentimos estrangeiros de nós mesmos. É só, sem tino ou inteligência, observar o movimento das pessoas caminhando como ondas no mar imenso das cidades de pedra. São as calçadas, onde os tropeços, onde a pressa e o foco, na miopia virgem das horas, as melhores companheiras. E tanta face ausente, tanto rosto triste por cima dos viadutos, um olhar atrás do muro, outro a espreita do incrível silêncio que se faz pelo barulho ausente... Acho que Camus e Sartre, de alguma forma, abandonando às dialéticas da filosofia, possuem alguma verdade no que tange à solidão humana. Somos depressivos, um mal da pós modernidade, não há como fugirmos, estamos emaranhados nessa corrente. Aonde iremos? Não sei responder.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dialética

Sou o insumo nexo do inacabado,
overdose de riscos,
que meus dramas e pormenores
dilaceram, e vertem,
e secam a razão
de flâmula e verso
para sanar de amores,
todos, os que ainda tive,
os que não me fugirão às garras
ainda em cartilagem,
meu riso de brim,
pelo selvagem mar da tranqüilidade.

terça-feira, 6 de abril de 2010

obliquos da noite

preciso estimular minha íris
a não deixar o opaco da vida
tomar conta dos meus olhos
pelo hálito da noite
sem a primazia benfazeja das horas,
sem a proeminência do sereno morno
visitando lentamente a vidraça
do meu quarto, sem a obliqüidade
da pressa que já não me faz mais cócegas,
eu perambulo tácito com meu pensamento
loquaz de dizer apenas com meus lábios mudos,
serrados e mordiscantes ora verbo rarefeito
em minha mania serena de assumir
meus riscos de predicados,
ora meu pressuposto medo do escuro,
ora minha labuta, minha sina,
ora minha verdade assassina de segredos,
ora os ventos do norte
trazendo sorte
para minha vida sudeste de homem urbano

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Os quintais

Numa praça, tomada pela atmosfera
de um horizonte circular,
está sentado, sob a espreita
do vazio e o caos,
num banco, entre o silêncio
e a placidez dos seus olhos:
um velho...
Chega uma menina, com seus olhos grandes,
com sua boca curiosa
entrecortando as palavras
por entre a língua inocente
e os dentes, que já foram janelas,
agora destacados, e pergunta:
- Que é isso em seu colo?
- É um livro. Responde o velho.
- E esse livro é sobre o quê?
- Poemas...
- E quem escreve poemas é escritor?
- Não, quem escreve poemas é poeta.
- E o que é poeta?
O velho coça a barba grisalha, enverga
a sobrancelha direita numa ar pensativo
e responde.
- Poetas são pássaros que voam todos os dias
para outros quintais.
A menina balança as pernas, estica os braços, arregala os olhos e:
- Poetas são tristes por não morarem na árvore
de apenas um quintal?
- Não, triste é a folha vazia e branca
onde pousa o poeta com seu olhar de grafite.
Então, a menina pega o livro, abre-o, rasga uma página
e a lança pelo vento morno da tarde.
O velho, sem entender nada, pergunta:
- Por que rasgou o livro e lançou a folha ao ar?
- Porque há pássaros cegos que precisam
aprender a ler esses quintais...

espera simples

estou esperando
que a vida me venha
mais pelas beiradas
que pela lucidez central
das coisas mortas

domingo, 4 de abril de 2010

meus silêncios

sou uma seta sem direção
na procura desenfreada
de acertar meu alvo
incólume de dizer,
apenas, e simplesmente,
o que sinto.
porque é inefável
tudo que se sente,
e nenhuma palavra pode vestir
o corpo robusto e nú
das coisas ditas
apenas com o silêncio.

Sinergia e dança

Toda vez que você dança
meus olhos procuram
desesperadamente
o instante palco
do aplauso do seu
riso sobre mim...
alumbramento.

sábado, 3 de abril de 2010

Pela tarde

Então ela saiu,
buscou abrigo no seu coração,
perdeu aposta de fazer refrão
com a ausência que ninguem pediu.

Pela tarde aberta de burburinho
vestiu casaca, sacodiu seu medo,
guardou segredo que todo mundo sabe,
mas que somente cabe

na pegada firme desse seu caminho.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

duelo

na lama eu venço,
entorpecidamente,
à minha maneira
de concreto, e nuvem,
meu lar discreto
de papelão

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