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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Excessos

Há certas súplicas de agora, que, irremediavelmente,
Cogitam com a textura dos excessos, flertam com a medida certa.
O corpo, laico, suspende ânsias para além do necessário,
Copo derramado de inutilidades.
Despenque esses excessos tal qual pneu velho rodando
Ladeira abaixo, despenque o vírus alfa ofensivo
Rumo ao zen sem fim, esculache as baboseiras,
As mamadeiras vis em meio ao invisível cercado inominável
Que cobre o homem com esplendores de ilusão.
Os excessos me são fúteis, imutáveis como roda
Girando imaginando uma continuidade descontínua.
Para quê te vestes com roupas vermelhas
Quando teu corpo precisa se vestir de transparência?
A vida é um poema inacabado que precisa apenas
De alguns verbos para continuar em poeisa.

domingo, 28 de junho de 2009

Infinito

Não se submete à razão alguma essa súbita inércia de estar aqui,
Febril, intranqüilo, bebendo goles secos de cada dia.
Ontem, eu era uma lápide de hoje, um estojo
Guardando uma maquiagem transparente para sussurrar o futuro.
Hoje, sou ébrio vestindo a solidez mesquinha de um sóbrio pálido
Que caminha vestindo seus passos de sombras que ainda não se propagaram...
Nesse vértice irremediável, soluço quase um segundo de paz,
Pois de algum lado vem uma parte de mim,
Vem correndo, vem a passos curtos, vem surrupiando
A minha percepção que tenho de alguns voláteis espaços
Que se desenham em cada camada de sonho, cristal.
Cada bolha de sabão é mais forte que um universo inteiro,
Cada partícula segura uma força extrema que vem de dentro para fora
E de fora para dentro: nisso se resume toda uma força voraz
Que está dentro das capacidades humanas...
O mais frágil tornando-se o mais forte, apenas um paradoxo,
Ao que eu saboreio mais o que está fora de mim, do que o que está dentro.
Não há nada mais importante ou menos importante,
Tudo é uma mesma massa uniforme, uma mistura de sorrir e chorar,
De cantar e ouvir, de abraçar e permanecer quieto n`algum lugar,
Solidão do infinito, escuro da alma, prisão e liberdade,
Pensar e ruminar pensamentos, abstrair a ilusão de ser gente.
Dizemos adeus quase sempre desejando que não seja adeus,
E sim, volta. No fim, tudo volta, tudo vai, tudo fica, inesperadamente...

Acuidade

Sou uma varanda de espera,
Sala acuada,
Na lucidez de um silêncio,
Que me venhas visitar num abraço,
Que me venhas encontrar num sorriso...
Acuidade dos meus dias.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Açude

Meu corpo é hélice de sopros distantes,
aqui, nesse dilúvio de antes, meus pés navegantes
boiaram uma espera que não chega.
Meu sonho de suflê
desmanchando minha procura, nuvem cinza desintegrada...
Agora é rubra minha verdade de saciar, um gole seco.
Ah, me cura! Cura-me dessa loucura!
Brusca e inesperada!
Meu menino acuado - meu pequeno construtor -
leve para tuas mãos esses calos confeitados
de tanta vida em desmesura.
Ah, que eu esqueço, por um instante,
a dicotomia impregnada de me ser eu rude,
de me ser açude em tempos de deserto.

terça-feira, 23 de junho de 2009

A pressa

O homem sentado lendo as horas em letras miúdas,
amiúde desatento, um fio descompassado...
Quando houver desperdício,
o que já foi um ofício não cabe mais dentro do amanhã,
pois há sede nessas vozes, há canções de vento
pedindo passagem para sussurros de trovão
para quando essas sombras em carvão de ontem
pintar os sorrisos amarelos das crianças invisíveis
e trazer novas mensagens de silêncio.
No esconderijo do medo mora um monstro pavoroso,
um segredo transparente pedindo acolhida
para fugir do frio.
O homem sentado lendo sua sentença
em letras garrafais - agora é fugir ou ficar,
pois a estrada tem pressa de chegar...

domingo, 21 de junho de 2009

Feno

Qual novilho, ruminando as horas,
voa lento o alento
que bebe essas rugas,
essas linhas do agora,
onde a vida é uma senhora sentada
à beira do destino?...
Aqui, qualquer menino
colhe um sorriso,
escolhe um guizo
e sai em cambalhota
chacoalhando os infortúnios
e espantando a demora.
Aqui, tal qual feno,
a casca madura da felicidade
é se permitir ser mastigado
e tragado pelo viver.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Esmero...

Correr as cordas,
os braços arranhados,
destroçar a aflição e beber o suor,
a força subjugada...
Aqui, outro mundo se comunica,
as vozes galhofam e deita a pele, suma fé.
O coração, átrio, é bobina, um filme stretch,
que guarda, que envolve num invólucro,
válvula escapando às tempestades,
retraindo as garoas que escorreram
face abaixo, um Nilo distante...
Os bagos, fartos bagos debulhados,
grãos silentes silenciando os olhos,
fartando a boca - seiva doce - ingá maduro.
Aqui, a pele escamada é couro curtido,
voa nua a alma
que a nuvem de silêncio semeou caminho afora.
Aqui, submerso em sonhos,
caminham uns pés vestidos de cansaço,
cheios de esperança de chegar,
esmero...

domingo, 14 de junho de 2009

Interregno

Resume os dias passando a alma pelo viés das auroras,
ora cala o verso, ora fala seu mundo disperso
e uma brandura cai-lhe às mãos:
sustenidos vestidos de realeza.
Agora, que minhas mãos conhecem o segredo
de novas invenções, embrulham-se
ao papel amassado – meu anfitrião – sumo doce
escorrendo pelos lábios, sede.
Qualquer linha revela uma súplica de amor,
um amor deixado ao revés, à deriva,
e vem bater nessas ondas de vento
onde o lamento não é mais por falta de procurar,
e sim, por falta de receber.
Quero estagnar minha procura
e fiar minhas horas em pensar o amor
como uma despedida, pois esta,
é iminente aos meliantes
que desprezam a mesquinhez da vida
ilustrada em ornamentos e alegorias.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O valor da amizade

Hoje sou um deserto de gritos,
um alado de brados
que os becos de mim consagraram.
Hoje sou os meus cantos
perdidos pelos encantos que me sorriem
as criaturas.
Hoje sou a doçura disfarçada
numa ternura que colhi de abraços.
Hoje sou minhas arestas
procurando frestas para sorrir
com meu olhar calado,
pois dentro de mim,
explodem artifícios em festa...
Pois dentro de mim,
carrego o verniz que se lustrou
pelo que me é caro:
o valor da amizade.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Meu pequeno bacuri

Quero um gesto que se distribui
Por todas as mãos...
Quero um objeto que simbolize todas as pessoas,
Quero a dança, o corpo leve, num compasso,
Maxixe, baião, samba, xote, forró dos milagres
Balançando as sutilezas que
Enobrece essa gente tão rica.
Quero a música, tambor do meu tom,
Quero o som impregnado de violão,
Aquele choro de viola, aquela entrada de cuíca
Imiscuindo nossa razão, quero a sanfona,
Quero o tantã e o tão afro marcador berimbau
Que desafia o cara de pau a rodar
Em seu gingado, dança, arte e luta,
Que espanta a labuta, que instiga o coração a pulsar,
Tum, Tum, Tum...
Quero um sotaque diferente, quero a palavra falada,
Quero a possibilidade dessa verdade,
Tão inerente à minha gente,
Validando minha autêntica identidade,
Minha realidade em junção com minha gente,
Nossa gente, bailado, vestimenta, um guri,
Curumim, menino e moleque, pequeno bacuri
Ensaiando seus primeiros passos em direção de meu Brasil.

terça-feira, 9 de junho de 2009

O Ponto e a Vírgula

O verso ficou confuso
zonzo como um parafuso
pois o ponto agora para
aquele verbo que só dispara
o coração da vírgula que,
numa breve pausa,
deseja continuar em poesia.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Pequeno embrulho

O sorriso desenha uma imagem
que se reconhece no coração
e prevalece sem razão
como uma beleza gratuita
de guardar sempre
num pequeno embrulho de querer

domingo, 7 de junho de 2009

Tapeçaria

Toda vez chega procurando,
arranhando desassossego pelos cantos.
Agora deita sua pressa em ir embora
atirando pela janela algum olhar de desencontro
onde seu sabor é mesmo
um vestido rodado, despistando o pensamento
para além de um querer.
Mas, é ficar sentada observando
as figuras que se desenham num riso de amanhã,
que mais gosta de fazer.
Uma nota de rodapé: a beleza não precisa de ornamentos.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Noite íntima

A única nobreza experienciada,
a virtude trazida à tona,
ou a vicissitude outorgada pelo vício do ébrio,
são as que destinam a ele,
pois este, eterno palhaço e vil,
pelo subterfúgio da moralidade,
que o condena incessantemente,
será sempre a própria morte findada em si mesma,
quando os aplausos calarão,
não só o seu tombamento,
mas o de todos os virtuosos e nobres,
numa canção de noite íntima.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O futuro

O futuro já está maduro nas mãos
escorregando o desgosto como um caroço mal chupado;
agora espera em fiapos secos,
brotar em alguma terra fértil de sensatez,
qualquer promessa para sorrir,
qualquer sonho para ser descascado
e ser mastigado por todos os dentes
nesses galhos de árvore frondosa chamada Brasil.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Desatinos de um homem molhado

A gota, seca, queria sair, a boca,
Saliva servente sorvendo a saudade com uma demora quase gelada.
Agora é orvalho, doce bolha atulhando os desejos,
Como carcerário da verdade de estar aqui.
A tez embriagada, o vértice intranqüilo,
Esperando visita de derramar em liquidez,
Água, mágoa, lasca de árvore derramando em âmbar,
Sândalo de amor morando vontade,
Lambuzando a hora de esperar...
Que deite num corpo cansado uma preguiça,
E mande embora essa mornez,
E molhe de ânimo qualquer embriaguez,
Pois estou aqui sóbrio e sentindo frio,
Água morna de chuveiro me caindo à pele, o corpo trêmulo,
Meus pelos eriçados de me aquecer.

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