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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Atrás do muro

A cidade é um vão dentro de mim,
que, engolida, é tanta gente
com seu jeito e ira diferente
onde posso ver um pedaço de fim.

E ferve em meu calabouço
esses nervos todos, tanto embaraço.
A melodia desses medos, ouço -
como quem faz afago, disfarço.

Teu olhar de esmeralda que me ria
era a escassez que me alcança
e de comer a luz dessa fotografia
era palco de descortinada dança.

Então, me perdoes, porque era subúrbio
essa calmaria atrás do muro.
Meu grito era um riso distúrbio
buscando uma fresta em qualquer futuro.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

a ladeira veloz

e ser for de manhã,
não venha, vou à feira!
deslizando no meu rolimã
a preguiça mais derradeira.
e no palco de asfalto
eu acho um destino
e no morro, naquele bem alto,
faço figa e sem medo eu assino
a minha assinatura gentil.
eu escorrego e esfrego o nariz
faço careta e desço a mil
pois sou mais leve que teco de giz...
e da janela, um homem de bigode
me diz aflição, um dedo ao vento
dizendo não pode
você não está lento
nessa ladeira veloz.
não me intrometo
em assunto estranho,
sou um poema
sem o brio de um soneto,
meu riso é tamanho
como uma letra sem fim...

domingo, 24 de abril de 2011

espelho

a mulher
não se reconhece
diante de um espelho,
se reconhece mesmo
é pelo olhar atento
que, a contento,
a percebe lento
em detalhe -
e é vento que
se espalha
em beleza
ao vil tempo
que não existe.

Desembarque

Toda pressa, a unginda peça
de um descanço
que desconsidera pela hora,
é azáfama vil.

E a rua cega e vestígios:
vultos de semblantes,
sorrisos desmanchados
na multidão...

Nenhum olhar percebe,
agora, na pupila do instante,
o galgar de uma preguiça.

Destemperar o ocre do dia
com a cor inesperada -
e são flores - e é verniz,

o que deixou de notar
na tentativa veloz
de não perder o embarque
para o próximo compromisso.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

ao meu antigo time

meu antigo time
foi um timbre
onde ecoou
no limbo
da minha história
a minha devoção
e a consistência
de um homem
fora do mundo
e dentro
do absurdo
de viver
e ser o alerta
que se move
em cada coisa
suspeita
de ser vida
seja ela
a lida
que me consome
ou a fome
que me
convida

premeditado

enquanto
tiver gente
para ler
o que escrevo,
estarei aqui
premeditando
a próxima
palavra

preguiça

enguiça
em meu corpo
e atiça
o meu dormir

plantio

além canto
e brisa leve
é tanto
o riso breve
que planto
no seu
coração

sem ela

eu tenho fé
na ida
que meus pés
procuram,
na vida
que minha
estrada busca,
um endereço,
uma janela
que nenhuma
chuva ofusca,
um presente
sem preço,
desembaraçada
vontade
de não voltar
sem ela...

a rosa sem fim

enquanto
dormem
as flores,
acordam em mim
as dores
que plantam
silêncio
de amores,
colhem
tristezas
sem fim

noite de telas

nem a lua derradeira
nem o céu ornamentado
de estrelas

faz cheia,
a noite de telas
pintadas de vazio
e solidão

quarta-feira, 20 de abril de 2011

coração novo

diante de um coração novo.
eu sofro. tristeza é uma flâmula
que conservo num pote
de açucar cristalizado.
pois o velho, quebrantado,
não está mais aqui para
contar a história.

janela

uma folha
que cai
ao vento
dura mais
que o brilho
da beleza:
a percepção
ao momento
e a tesa
idéia
de infinito
equilibrados
num
bonito
sorriso.
de cada
lado
um traço
desenhando
uma
fotografia
tatuada
em
minha
lembrança.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O semeador

Espalhe teus centeios pelo bucólico do chão.
Lá é estrada e tempo - onde se colhe
um deserto de vaidades
ou um campo fértil de alfazemas.

Na condição da falta de estima,
és teu lenço, tua esgrima,
a falta que não sentes, mas rima
esférica que acaba sem fim.

Pois teu ciclo, teu invento de verdade
é teu riso, tua faina e lustre.
És o ocre que se levanta e faz juz ao timbre
da cor, do arco íris que se desenhou
pelo crepúsculo dos dias.

Teus medos são coragens escondidas
que as gaiolas e nenhuma ruína
arruinam com teimosia, pois o músculo feroz
do teu brio, é um vício que está escrito
na memória dos bravos.

Assim, no acre das multidões,
sejas doce enquanto durar a plantação,
pois entre o orvalho e o grão,
há o sabor das recompensas
e o riso da colheita.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

desatenção

exercito minha desatenção
com o mundo.
é nesse momento que construo
um novo mundo e o navego
através das palavras...

domingo, 17 de abril de 2011

nas coisas lá de fora

é nas coisas lá de fora
que espero, sem pressa,
o melindre,
o súbito instante
me atingir
e eu, sem o fingimento
de um espanto,
descrever
com minha necessidade
de segredo.

ali, na pauta
fina de um olhar,
é onde mostro
somente o que
não se percebe,
pois a feiura
é sempre um alto relevo
na vista de quem
é cego.

acorde distante

trago no rosto
o silêncio da madrugada,
o gosto escondido
que a rua,
abrupta e velada,
tingiu com sua mania
de sereno
e estrelas distantes.

trago o alcance
de meus olhos míopes
disvirginando o céu
e a desatenção
dos meus tímpanos
com as paredes
que segredam
sussurros e confidências,

um violão
e meus dedos dedilhando
um acorde solitário
pela calçada
que desperta
os bêbados
e faz dormir
os vira latas...

sábado, 16 de abril de 2011

papiro e pedra

eu quero
o livramento
de não pecar,
livre,
em suma queda,
indubitável
até o estatelar
no estalo
de um dedo,
não apontar
que eu quero
ver, rir, chorar
o verso
de papiro
e pedra
que aqui:
esmero e brio...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

criatura

quando se quer fazer
e faça, e descobre
e não julgue - qualquer forma
de emendar a roupa
que o dia rasgou
de tanto esbarro,
e gente cabisbaixa -
não abaixa a crista,
criatura, atura
a culpa que não tem.

a turma da rua,
a vizinha ao lado,
o senhor de bengala
a mulher que não fala
e um bêbado fazendo
tudo que eu queria fazer.

quase foi por um tris
que eu desenhei
com um teco de giz
a manhã desatinada
na lambança de uma atriz
calçando a vida
com quase nada,
numa fome de chegada,
num gole de ida.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Palavra crua

Ser marginal
é ser um muro
sujo e pixado
onde a descompostura
do dia,
alguns olhos de soslaio,
úmidos e negligentes,
ignoram com
um pudor vacilante.
Eu sou marginal,
pois sou a palavra muda
que não enfeita
nem grita.
Eu sou a palavra crua
que veste a rua
de alguma beleza,
mesmo aquela
que já existe
há algum tempo,
mas nunca foi notada.

domingo, 10 de abril de 2011

Você

De hoje,
vou guardar comigo
seu riso,
que não tem tamanho,
que me lembra todo
nascer de sol,
que ganho de presente
pelas manhãs de outono...
Vou guardar comigo
aquele cochilo,
o seu e o meu,
e o embalo da chuva
que caía lá fora -
vou guardar comigo
toda demora
e o ápice de chegarmos
juntos no fim,
que não foi,
pois depois teve começo
e recomeço.
Vou guardar comigo
o que não é breve,
pois quero que você me leve
sempre no seu olhar.
Enfim, vou guardar comigo
o que não consigo embrulhar,
pois é tão imenso
e atende
pelo nome de você...

sábado, 9 de abril de 2011

outono

no outono
a solidão
não tem dono
apenas o frio
como promessa
de calor
no abraço
de alguém...

A rosa de pano

Maria ria
sem porquê,
nem senão,
com o colo
na pia,
uma tristeza
na mão
apenas sabia
na bolha
de sabão
a vida
que existia.

Oitava abaixo

Chorava
uma janela aberta,
a boca cava,
dois olhos em alerta
vigiando
na curva da rua
a escrava
nua com sua cintura
de boneca.
Sua cultura
era uma caneca
cheia e turva
onde cantava
com uma oitava abaixo
do tom dos seus olhos
castanhos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

a esmo

isso
é um compromisso
que tenho comigo mesmo.
não sou omisso,
nem ando a esmo,
contudo, pasmo,
como torresmo
como quem faz feitiço
pelo viço da noite
de quem foi
abandonado
pela sesmaria
de um cortiço.
assim,
era meu orgasmo
que não ria,
apenas
uma maioria
que em mim
chorava.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

une

a corrente
é um ente
querido
entre
o quente
exaurido
e a libido
iminente
de um vazio
sem sentido
igual
dente
perdido
na crente
ilusão
de quem
sente
ardido
os olhos
na perca
indecente
do que
não foi
vendido
nem doado
como gente
que chora
sem razão
rosa
que foi
embora
para
onde
não mora
mas fica
guardado
no coração

quarta-feira, 6 de abril de 2011

pauta

a pauta em branco
é uma ilusão
que foi manchada
pela minha invenção
de imaginar palavras

terça-feira, 5 de abril de 2011

pela pausa dos meus olhos

de tanto atender
às preces lá de fora,
quedando-me,

a face ainda nua
descobrindo fragmentos
da rua que ardem
meus soluços,

que amordaçam
meus silêncios,
descubro-me desajeitado
espalhando meus medos
como pequenos cacos de telha
pelo chão.

lá fora,
onde a calçada
foi gasta pelos meus pés,

lá fora
profetizando o agora
com lenço e segredo,

eu vi duas borboletas
alçando vôo pela pausa
dos meus olhos que buscavam
algum azul, algum arrebol

pela tarde gris desse invento
de tingir o meu dia
de chuva e de sol.

domingo, 3 de abril de 2011

Abril

Embora o tempo passe
e o primeiro olhar fique
cada vez mais distante,
ou subir em árvore
não seja mais necessário,
tomar banho na chuva,
rir à toa sem previsão,
comer sanduíche de mortadela
e roubar um beijo
toda vez que demore qualquer
encontro, ainda é,
das minhas faltas,
a que mais me comove.
E pensar que isso,
algum dia, possa findar,
é, dos meus temores,
o mais avassalador.
Então, meu bem,
cinco ou seis anos
ainda são bem menos
do que espero para continuar
sorrindo com o sorriso
que me arranca com o seu jeito
de me tocar o coração.

sábado, 2 de abril de 2011

Relógio

Percebes na palavra mais simples
o que ainda não inventamos.

Entre algumas demoras
o templo da vida comemora
esse palco ao ar livre.

Crisântemo, desmantela
agora esse vento que nunca tive,
ar do paraíso, cômodo enfeitado
com o teu sorriso.

Será que vamos nos casar?
Envelhecer é um tempo que preciso
mais do que a saudade que me deixas:

conjugar o verbo futuro
na primeira pessoa do plural
desse pronome pessoal
de agora...

Se encontrares n`algum embrulho alheio
um coração que seja melhor abrigo,
então vá, faça morada,

pois meu telhado tem mais telhas,
essas paredes são de tijolo
e o meu chão é de concreto e nuvem,

mas é tão perecível quanto
qualquer novo invento de amar,

assim, vale mais é o cunho
que fica desenhado por dentro
da pele flácida batendo
num compasso único de dois em dois

marcando a cada instante
essa possibilidade de infinto.

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