Feed

Assine o Feed e receba os artigos por email

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Amigo

Celebrar um amigo
é como erguer
saudação ao amor.
Um amigo
se cria em casa
no entendimento
de um pai
no olhar complacente
de uma mãe
na cumplicidade
de um irmão
na empatia
de um casal.
Amigo se conserva
guardado
numa beleza
capturada
de um pôr do sol.
Amigo também
faz chorar
mas é mais consolo
e gratidão
e se encaixa
perfeito
nas suas
imperfeições.
Amigo não tem dia
não tem hora
não tem fim.
Amigo é sim
e não
sem se preocupar
em fugir
do seu coração.

O jogo

Vestes hoje um uniforme
que brilha longe estonteante
Em destaque, és peça inatingível,
com longevidade e brio

Jogas um jogo solitário
em que o melhor amigo
não irá bater teu ponto
nem sinalar o regresso

Tuas vitórias são sempre
o estopim para a próxima
batalha: mais árdua, mais dura

E enquanto corre para o alcance
desfalece em prol de teu júbilo
algum adeus, o que não cabe em ciranda.

domingo, 5 de julho de 2015

Achados e perdidos

Saiu com um desejo
procrastinar a vida
e depois de amanhã
esquecer

Cortar o céu com pássaros
e atirar
um sonho na cabeça
com recheio de futuro

Saiu como um cão
de olhos amarelos
com seu refúgio de rua
a aglutinar
seus dentes
num osso esquecido.

Começar
um desenho ao esmo
afundando,
de vez, seus passos
no chão.

Saiu,
sem deixar para trás,
qualquer saudade
de hoje

E seus documentos
encontrando a sarjeta
de alguma
caixa postal
no endereço de seu
abandono...

Procura-se:
achados e perdidos.

sábado, 4 de julho de 2015

SP-270

Meus olhos são dois faróis
a guiar-me por entre
os vãos de um caminho.

Na seccionada recebo
as bênçãos de seguir adiante.
Não sou anarquista
de pontes
e tenho um anfitrião
a me conceber as glórias
da demora.

Enquanto, imprudente,
um pisca intermitente
pedindo passagem:
há tanta pressa em morrer...

que nada mais me comove
além das lágrimas que
chovem lá fora
e derramam aqui dentro.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Palavras

Procuro palavras espalhadas,
encontro coisas como telhas
no outono, no inverno
que inverte o meu sono.

Procuro livre o meu arbítrio
encontro livros vazios,
átrios inocentes comovendo
flores em jardins de casas nuas.

Procuro invertebrado o ócio,
meu osso de coisas novas,
rude e temperado
como prova de desespero:

- Onde mais eu quero,
vela atiçada, nuvem que verte mágoas
de um dia de sol?
- Onde mais eu peço,
na pele de castiçal, pescar meu riso
esticado na ponta de um anzol?

Palavras que planto, colho planos
em rascunhos de um voo.

Procuro, no martírio de mim,
fatos, objetos rarefeitos
na atmosfera sóbria do fim,
tálamo de silêncio vil.

Procuro no alambrado do tempo
o verso, aconselho estribilhos
entre o parênteses da vida.
Me convida para ser vento

Pois palavras são como pedras,
imóveis, imaturas
na inércia da exclamação
despida de verbo...

Meu tablado sem texto,
máscaras na tablatura
de interpretar intempéries,
febres, crisântemos, colibris...

Minha ode, onde a preguiça espreita,
onde não se pode vestir a rua,
louvar o cisne vagabundo,
nem cuspir vagalumes no passado.

Palavras,
apêndices, imãs
que me prendem, travam minha língua
e o escasso modo de dizer
o que escrevo sem meandro.

Palavras,
léguas distantes
que alcanço no porvir da tarde,
no estalar de dedos,
no segredo de confessar silêncios.

Arquivo do blog