volto agora à inocência dos dias,
minha alma cheia de som
argumentando com as névoas
esse universo branco de estrelas.
as palavras escapam do meu corpo,
mãos, olhos, ouvido, pele e coração.
é como se uma sinfonia de letras,
de versos, sinestesia,
catacrese, metaforismos espalhados
por toda parte...
é como se as cordas fossem
um badalo de sino tilintando
em meus tímpanos estampando
no papel as notas da minha palavra...
batendo no descompasso do meu coração
esse amor ao avesso
de banhar o feio com meus olhos
e enxergar ali apenas poesia.
por que me sinto um pássaro
e uma grade ao mesmo tempo?
tenho no desvelo das horas
minha fúria atemporal,
têmpora deselegante
colhendo do instante
as botas velhas
que ninguém usa mais.
um pé na contramão do mundo
uma folha à deriva do vento
uma boca cheia de sede
descobrindo nos sorrisos
a abundância da vida,
minha mão sem direção,
meus dedos cheios de teclado
constroem agora o que eu sempre fui...
alguém que mistura palavras,
e a responsabilidade do sentido
fica por conta de quem as lê.