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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Atmosfera

Na atmosfera de mim,
oceano dissipado
e suspenso,
acima da cabeça - átimo
de espera
nesse desespero
de me fazer alado.
Minhas pernas comprimem
as distâncias
até que, eu rarefeito,
me espalhe no mundo
ao ponto de minha cara
encostar no longe.

domingo, 23 de novembro de 2014

Universo

Depois de nós ,
infinito vazio de uma caixa
de fósforo,
estar no lugar do objeto visto
além da grandeza de um grão de areia.
Depois do escuro que foge
do esplendor de um vagalume,
que não termina nas mãos
de uma criança,
resta apenas a grandeza
maior da consciência
de se saber finito.

domingo, 16 de novembro de 2014

A solidão do camelo

De lugar em lugar,
de escada rolante meu veio a fonte
e a face perdida
da perseguida hora.

Cabe em minha camisa a lembrança
dos esbarrões,
cabe em meu peito o abraço de um atraso
de perder a última composição
descarrilando pela noite afora,
deixando para trás mais do que
o vazio de uma estação,
deixando um lugar
cheio de gente, cumprindo seu papel,
cheia de texto,
ausente de vida.

Nesses mananciais
ha pequenos desertos cheios de estiagem
onde morrem as lágrimas
e germinam as pedras.

O corpo do mundo está enclausurado
num corrimão
sustentando os degraus de uma pirâmide
que recepciona a quem atinge a glória
e esconde, com uma borracha branca,
os figurantes dessa edificação.

A sede do peixe

De gotas de sangue colho epifanias
que distraem a atenção dos sadios
e evade os feridos
como erosão de imagens.

Ainda que os urubus planejem seu vôo solitário
para além das planícies
e pequenos roedores não façam
a menor diferença em seu cardápio,
tenho meus olhos seqüestrados,
meu corpo de manequim
profanado pelos presentes gratuitos
que tenho de comprar todos os dias.

Uma gota de sangue é um oceano
que navego todos os dias,
cheio de prosa ou poesia,
pelos arredores e becos,
a alimentar vampiros
que beijam minha carne proliferando
esse pólen de esquecimento.

Esqueço-me, esquizofrênico,
inventando personagens que não sou
a bater as palmas que merecem
pelo mérito de serem bons:
bons fazedores de mentira.

A felicidade é um lugar
que só se alcança quando cessada a busca,
assim diz meu pensamento,
que é obra da minha razão,
mas meu coração, que é desordeiro,
que é fugaz e cheio de obsessão
com coisas inalcançáveis,
lança-me desenfreadamente
adiante, contra o vento,
lança-me oblíquo, um corpo marchando
a rua, os olhos dobrando o horizonte
para que caibam na retina
dos meus dias.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O esticador de horizonte (Em homenagem a Manoel de Barros)

Pássaros são semeadores de vento e esticadores de horizontes -
Pássaros guardam o céu
no bico e a estiagem embaixo das asas...
Desembaçam o vidro dos nossos olhos e arrancam de detrás da noite, a manhã.
O sol nasce é da voz dos pássaros.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Da brancura do infinito

Eu horizonte
lanço vertical a brancura
dos cometas
para atingir minha infinitude
pelo espaço sideral
de suas entranhas.

A brancura do lado de fora

Devassada é a alma que chora crianças
pelo lado de fora
escorrendo em qualquer ladeira
seus corpos nus a revelar
a película de suas vidas
escondendo um mar de abandono.
Mar de água e vísceras vazias - terminais - indeterminadas
no domínio de um vômito.
Arrefecida promessa e obstáculo de amanhecer com a preliminar fulgura
de um crepúsculo, alma estéril e obsoleta, arrebata essa seringal
brancura e se converta em vermelho.

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