Vestindo o meu traje sobejo
desço a ladeira vazia
da minha rua povoada de estranhos,
tão estranhos esses silêncios
que gritam em minha alma, solidão.
A minha voz é um esgarço
que abre trincheira em meu imo:
lanço mão do que me desprende
a alma nesse meu desvelo,
trago num verbo oblíquo
esse aço incorrigível de me ser.
Deixo para trás a volúpia
do pó que não fui...
Deixo para trás essa hemorragia
de palavras que traçam
minhas trilhas,
traçam meu viver.
O que ainda não tive, nem doce,
nem fel, espalho pelos cumes
do mundo, e do amor,
faço cortina para pendurar
na janela absoluta do meu coração.
À Van Gogh
Há um mês