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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Crepúsculo

Tudo em volta comprimindo, o ar, as paredes de vultos,
os sorrisos amarelecidos, o esqueleto ganhando feição
dentro da carne, sumindo.
Ali, logo ali, um pardalzinho bicando sofregamente
uma bolinha de biscoito, esquecido... Esquecido como suas asas,
do vento, esquecido o bico, a pena, o dó reverso
desses inversos, ali...
Comprimindo o tempo contra os pulmões,
esses gênios que esfolam o viver dia após dia,
numa tentativa de sorte. Ah, a sorte! Antes a morte - antes
a admirável morte, a falência, o fim...
Tudo comprimindo, um comprimido contra a dor, a cefaléia,
um pulsante viajar pelos orifícios, o cheiro,
que, antes, trás a lembrança... Um garotinho sentado num banco, espera...
Que esses suvenires não tragam mais a lupa, o opaco do verniz
que agora faz sentir: o que é que eu vim fazer aqui?
Trinta e três. 3,3 décadas de nada... Ah, maldita estrada!
Parece hoje, ainda é hoje. É nada, ainda que as mãos não quebrem mais pedras,
ainda que o dissabor é apenas o prato principal,
pois que seja o véu, que seja o escarcéu que o pariu
nesse ventre insípido - que agora é a flora, é o sumo,
látego desenhando caminhos pela pele, látex vermelho,
e um espelho desenhando um lobisomem de amanhã,
pois nesse instante, não sei o que vim fazer aqui.
Ainda é hoje, tudo comprimindo, a loucura senda a única sensatez,
e um rascunho de vida se desenhando por linhas perdidas
pelo crepúsculo que o sol ainda não gravou em seu horizonte.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Círculo antagônico

Deitar à sombra da janela
com suas frestas escancaradas
com sua cor tão amarela,
assim, companhia de parede, escorada
num tom azul de céu, num imenso,
cair o verde, a folha escorregadia
invadindo o ar, dançando seu desapego,
escorregando para o chão,
que abre o sorriso, que fica liso de satisfação
nesse entremeio de realidade.
Cair o pranto
que ela disse fé, a nuvem que desata
a imaginação, alheio, o vento,
atiçando fumaça contra a ingratidão,
que tão eficiente fez-se das mãos
um espinho, um átimo insosso,
do febril desejo de buscar mais que o fogo,
buscar o jogo de sem fim.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Fogo

O fogo que há é deixar o córrego lento
inundar calçados de muitos pés,
é preencher a sola de muito chão,
espantar carrapichos pelo caminho,
que nalgum varal ficou mesmo
estampando em pontinhos pretos,
a camisa branca que vestiu de dia
o melhor pano proteção
que o corpo consegui vestir
embaixo de nuvens de sol
que o vento assoprou para longe.
O fogo que há é da noite
o sorriso que o sono não veio
por ficar largo, mais ardente
e lambuzado de preguiça,
coisa que dente não mostra,
coisa que nem olho enxerga
por estar guardado por baixo
do cobertor de película fina
de alma, transparente,
fogo de gente, fogo iminente.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Agora

Deixar a vida
acontecer
é dizer adeus
às pedras
do caminho,
que, sozinhas,
pintadas de medos
e vestidas
de buracos,
arrastam
todo um
mar de
possibilidades.

Todos os dias

Ao escancarar da manhã
busco as dobradiças da sorte
para abrir as vontades
guardadas,
uma chave de esperança
para destrancar os medos
e deixar fugir
sorrisos...
Conservo minhas mãos
bem abertas
para dizer adeus
à frustração,
espantar a solidão
e segurar um fio de sonho
que irá desenhar
minha saudade.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Números

Àqueles
que procuram números,
mais e mais,
apenas,
esqueçam,
eles não quantificam
o essencial
e não ilustram
a magia de apenas
aquele um,
que fica
por gostar
de verdade.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Descascar Sonhos

Descascar os sonhos
é desnudar a alma
que a carapuça do tolhimento
vestiu em segredo,
um dia, o que estava prestes
a se abrir como um portão
que vai dar para além
desses quintais.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Coisa de amigo

Hoje, minha ternura vai para ti,
que me vem sempre visitar, que fica aqui,
cutucando o peito com um jeito
que a saudade aperta.
Que, talvez, esteja triste, esteja alegre,
não importa, quero apenas que receba
o que de melhor há em mim:
um abraço de amigo,
que divide um sorriso contigo,
meu amigo, minha amiga do coração.
e esses instantes vão passar,
e essa hora vai deixar de ser apenas hora,
será um vão estampado na distância.
Mas, confesso, um amigo não vai longe,
pois fica aqui, impregnado na gente,
desenhando os sorrisos mais sinceros
que a boca pode tecer em manufatura.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Poeminha essencial

E o que conta mesmo é que, de tardinha,
depois de tantos “bons dias” pela manhã,
de tantos sorrisos desenhados, sonolentos e obsoletos,
fica apenas alguns poucos que se encontram
impregnados em nossa roupa,
e ficaram estampados de amassado
num abraço que, mesmo que não tenha sido dado,
foi sentido pela tênue verdade transmitida num olhar.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Fotografia

Já foi atrás, deitar sob o sol, uma pirâmide de emoção
e acender uma vela que clareia longe...
Agora é fonte, atrás dos montes,
vê-se a lanterna banhando as canções
com o que fica sempre do engatinhar de leõezinhos...
Uma tarde, foi assim, trocar presente
e desembrulhar um abraço pelo espaço que fica
dessas horas pequenas que se alargam de saudade
e pela luz que cobre, a intenção é mesmo de completar
mais uma vontade, sob um teto de nuvem,
sob uma vontade ficar,
atrasar os ponteiros para ver a claridade passar
pintada de sorrisos, pintada de vestidinhos de bolinhas
dançando ao sopro suave do vento:
um menino debruçado sobre seus sonhos
observando o encanto passar.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Plumas

Atentando-me em hipnotismos, puxa, pássaros livres
Desses que fogem das gavetas dos armários
E que se fiam por caminhos distantes, donde a estante
Somente é morada dos infelizes, pois que já se foram
Em passeios de olhares, pois que somente alguns
Servem para ornar algumas vaidades...
Então, hora e mais hora, como plumas esvoaçantes,
Fogem aos olhos mais atentos da imaginação,
O rascunho de poeta que o diga, em outro tempo,
Quase um meteorito se desfragmentando
Pelas arestas do infinito, buscando horizontes alados,
Cavalos cansados que criaram algumas raízes,
Que fincaram os pés na estrada, para não dizer cascos,
E voaram por poeiras e asfalto de nuvens.
É preciso ter fé, é preciso deixar voar.
Como quem não quer se levantar para beber água
Quando acorda de madrugada, algum instante será preciso.
Pois sim, é preciso deixar que os passarinhos façam ninho
Em teus telhados. Eles voltarão, ah voltarão,
Pois não os afugentastes com descrenças
E a verdade continua se desprendendo das asas da liberdade
E vindo cair nos olhos que somente buscam inteireza,
Mesmo que os pedaços se espalhem pelo correr das horas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Roupagem

Tinha qualquer coisa de convencional
Aquelas coisas todas, qualquer coisa de normal.
Por tantas vezes, pergunto: o que é normal?
Que há por aí de tanta casca de cebola seca, descascada?
Quando que o sumo forte é que faz chorar,
É que derrama lágrima pela face, outra vez, essa mesma face que se ilude.
Estava lá, todo caracol, estava lá, toda debruçada...
Assim mesmo é que se desenha a realidade, perguntas:
Hoje, somente hoje é que o frio doeu a espinha
Mais que todas as vontades de nitidez.
Essa nitidez camuflada, que os olhos enxergam
Além do próprio escuro em sombra, pois
Luz, ah, luz de verdade, apenas quando a dor enxerta,
Apenas entra carne adentro, sentindo, sentindo...
Como assim, cidadãos? A loucura, a visão, a lucidez
É feita de cegueira, não a cegueira dos olhos, mas a cegueira
Do que se planta na alma. Aqui jaz uma verdade que, outrora,
Era somente o que era: era apenas o rupestre se desenhando
Pelas vontades mais inerentes, sem vestir qualquer coisa de vaidade.
Perguntas? Não. Respostas? Não.
Apenas uma lápide que inscreve a verdadeira beleza
De quando nos damos por sermos quem verdadeiramente somos:
Um monte de carne vestindo um monte de ossos,
E ambos vestindo uma existência,
Que pode ser pífia ou não, dependendo de como preferimos
Andar por aí nos vestindo de ilusões ou simplesmente
Caminhando em nudez.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Fotografando pensamentos

Bateu os olhos na parede, na vez, na sede, tal qual um espinho,
diante do espelho, vidraças estilhaçadas, um fragmento
diluído em mil pedaços.
As prosas virgens, vertigens e dualidade, as aspas da saudade
nessa esfinge, miragem, minha passagem ardendo os pés.
Agora que é verossimilhança, a rede balançando,
Uma dança envenena alguns palpites, respaldo.
Por que esses dorsos são tolos, esses dorsos de gente?
Por que essa espinha dorsal atropela esqueletos?
Areia e vento, castelo e pensamento...
Ah, deixe estar! Que o quintal é bem para lá,
adiante, esfumaçando, esfumaçando, neblina além das esquinas
que, outrora, desenhou os sonhos, com essas mãos, com essas mãos.
Viu que era pequeno, um dia, foi, um dia assim, era pequeno
aquele vulto por onde prendeu a atenção.
Mas está relapso, eu sei, tudo isso de palavras confusas,
Tudo isso de difusão de nada.
Não quero dizer nada, nem imaginar nada,
ainda que essas estrelas é que brilham distantes,
ainda que esses cometas é que viajam nessas arestas esquecidas,
pois assim, assim mesmo é que essa carcaça inútil de tempo
é que me desenha, e desenha todos esses olhos curiosos,
e desenha todas as coisas que não se sabe para quê existem.
Ah, deixem para lá, só fotografando pensamentos...
Desculpem, estranho-me... Vamos temer a noite
e fazer um açoite de fogo, e dispersar todas as tolices.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Arestas

Pelas arestas de mim,
visível, inconfundível,
abstrato, relapso,
urge meu fim,
algo notável,
algo submerso,
onde guardei meu sonho
que se soltou por aí,
que veio dar aqui,
nesse incomensurável
valor de ser real.
Resta apalpá-lo,
resta restaurá-lo,
pois, que agora,
sou espátula,
raspo meus pedaços
e junto-os por ai,
em ti, em qualquer lugar.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Uma canção para você viver mais

Hoje, somente hoje, quero dizer que não está em mim
Nem em você todo esse nó que tenta se desenhar
Para amarrar o pensamento e o coração com coisas sem sentido.
Queria dizer, que, assim como sinto todas as dores
Que não são minhas, sinto forças que se impelem contra mim,
Pois sou cavaleiro do infinito, e contra o infinito há uma vastidão.
Há tantos mistérios entre meu sentir, entre luzes e sombras
Que somente ilustram aqui e acolá, um resquício de fazer-me confuso.
Hoje, eu estou armado em espada e armadura,
Contra vozes e palavras, contra a sofreguidão
Que se sacia da felicidade, pois, meu cavalo alado já bateu asas,
E, ciranda, piquenique, deitado na grama, permaneço com você,
Caminho do sol, sendo apenas 1, você e eu ,5, 6,7,8,
Quantas vezes forem possíveis, pois, nesse desnível de estar aqui,
Eu quero apenas sentir toda essa essência de nós.
No caminho, há tropeços e pedras, mas se a força que nos inunda é real,
Então nada pode impedir o sorriso, nada pode desvencilhar a alma
De correr para a luz...
Já me vi em outras batalhas, já fui réu e julgado, já fui assado,
Já fui lavrado em chagas e açoites,
Mas hoje, somente hoje, eu quero o meu coito com você,
Quero minha libido, minha saliva, meu abraço nesse laço de você:
Eu acredito, Amora e Pêssego, Girassol,
Semente de sol, sorriso em flocos de algodão doce,
Que você vai viver mais, muito mais que essa canção em mim.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Alvorada pueril

Amanhece sereno.
Nas pontes uma passagem,
No horizonte uma viagem
Que convida asas a bater em sonho.
Num berço de manhã,
Uma risada de criança em um saber grisalho...
Toda a fome do mundo
De esperança acordando
Num sussurro matinal: varre a mornez.
E que os braços abraçam uma vontade de dia,
E que as mãos seguram uma utopia:
Todo canto do mundo dissolvido em sinfonias
De pássaros.
Agora, que esses abraços teçam laços,
Que teçam amizades,
Pois sorrisos são ninhos e abrigos
E moram no alvorecer das crianças.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ensaio sobre o reverso

foi-se o tempo do colibri
foi-se a água em corredeira
e agora ali estende um braço,
estende uma mão em acolhida
preparando um sorriso com uma anágua encolhida,
dobrando sobre os joelhos,
quedando um silêncio, um bocejo de estampado de tarde.
foi-se a esperança onde se reconhece parede,
onde pedra é companhia, cimento cama aconchego,
um balde, um debalde sem rima, essa besteira
de aliteração sem assonância pelo que foi esquecido
ali no chão, um pirão gelado, tigela
que saciou o cansaço, que molhou o medo e a solidão.
foi-se assim, cumeeira do fim que dilatou em abandono...
caminho que leva ao óbito do nada
madrugada afora, indo embora, sarjeta devaneada
e a fé imolada, fé cega, faca amolada, corte e sangue,
vermelho voraz dessa cegueira, dessa cegueira, dessa cegueira...
ensaio sobre o reverso, papel seco, papelão,
um chão em desmedida, um pão, dureza,
clarividência dessa negligência, pendendo os olhos,
pendendo as mãos, ali, chão, chão...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sentir fecundo

Voltar por barrancos caindo aos trancos
Que duramente percebe que vive
E outros tempos se desenham linha trêmula por dedos,
Por moinhos de vento que a água desgastou.
Em amores gentis, em peles febris,
Arrancou mais que a seiva dos capins
Com a foice derrapante do silêncio.
Um chapéu palha esvoaçante,
Uma choupana que acolhe tua pele,
Que acolhe teu cansaço.
Sobre essa colisão de verbos, de palavras enrugadas,
Um aço que reveste o frio com uma estopa,
Farrapos e esmeros, tutela aprendiz de homem,
Que deixa às mãos do menino,
Às traças do destino, um riso pueril.
E colhe do sabugo, um glúteo grão de milho
Que fecunda o chão de seu sentir,
Que germina em folha e vento, fio navalha,
Corte e palha de viver.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Púrpura

Que o teu corpo manso, quando cansado,
Vire pluma, vire espuma leve
Nestes versos bálsamo, flâmula.
Mas ele desceu à mansão dos mortos
E descobriu bem mais que a verdade poderia revelar.
Agora é hirto, é uma pedra que não mais dilacera,
É uma tênue desfaçatez,
Que a vela não conseguiu conduzir de barco e casco
Por mares mistérios que estes enigmas de ti
Não se mostram.
Mas aqui sei, aqui meu preâmbulo é um caso
Que se faz aos acasos, aos rasos deleites
Que te permites, sem me condenar,
Sem me fazer sabedor daquilo que já sei.
Puro aqui são apenas as abas de mim,
Que pendem de uma cor invisível que demarca a fronteira
Por onde começa e termina minha azul púrpura.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Labirinto

Poderia ser algo, ser melhor que esse espelho que me faço ser,
doravante, não rumino mais saudades,
nem teço preces para o futuro.
Das coisas que vieram jogadas, dos estribilhos que borbulharam em mim,
fica apenas uma tatuagem picando a alma,
fica o que não se pode apagar da vela que permaneceu acesa
por escuridões sem fim.
Que há coisas inexplicáveis? Sim.
Que há devastações de mim por aí? Há.
Há meu fim, há um dormir de sonhos,
que, debruçados pela janela da minha casa,
esmiúçam um evacuar de varanda, fugídios.
Penso sobre as canções que tantas vezes se compuseram em mim,
sobre os jornais que não li, sobre a mesa vazia testemunhando minha quietude.
Penso sobre o segredo que nunca quis se revelar,
pois nunca houve segredo algum.
Agora, sobre a peleja da minha virtude,
peço que me tragam um gole de verdade,
um véu transparente para vestir minha ilusão,
pois pescador de medos, me perco labirinto de ausência
e desvaneço meu sorriso como quem procura abrigo e não acha.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Adágio

Como quem faz, às pressas, a bagagem do passeio
para sair em viagem por esse asfalto morno
e assim colher das visitas, não as que chegam,
mas as que recebem,
um pequeno verniz de sorriso,
embaixo de um anil de verdades.
Como quem escolhe ao esmo do vento
distribuir bilhetes dobrados
como os que se colocam na palma da mão
e onde se pode ler:
aqui te trago um cuidado, pouse seus olhos como borboletas
e alce vôos pelas linha da vida
batendo as asas por outras paragens de auroras.
E, sem timidez, fazer um aceno de saudade
pelo que fica da resposta,
pelo que fica do perfume âmbar do encontro.
Como quem se abre de um embrulho
e se revela um presente
desses que não se oferece ao amigo
por já pertencer de elo, por já se erguer em castelo
de pedras firmes, que não deixa tombar pela ausência,
pois já está guardado bem mais que perto,
por querer estar bem mais que perto,
por fazer deserta e imensa
uma palavrinha tão pequena,
um sentimento tão veloz que corre em direção ao abraço
que ainda não foi dado, mas que já foi sentido.
Como quem quer estar e sentir sempre...
Amor.

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