Tudo em volta comprimindo, o ar, as paredes de vultos,
os sorrisos amarelecidos, o esqueleto ganhando feição
dentro da carne, sumindo.
Ali, logo ali, um pardalzinho bicando sofregamente
uma bolinha de biscoito, esquecido... Esquecido como suas asas,
do vento, esquecido o bico, a pena, o dó reverso
desses inversos, ali...
Comprimindo o tempo contra os pulmões,
esses gênios que esfolam o viver dia após dia,
numa tentativa de sorte. Ah, a sorte! Antes a morte - antes
a admirável morte, a falência, o fim...
Tudo comprimindo, um comprimido contra a dor, a cefaléia,
um pulsante viajar pelos orifícios, o cheiro,
que, antes, trás a lembrança... Um garotinho sentado num banco, espera...
Que esses suvenires não tragam mais a lupa, o opaco do verniz
que agora faz sentir: o que é que eu vim fazer aqui?
Trinta e três. 3,3 décadas de nada... Ah, maldita estrada!
Parece hoje, ainda é hoje. É nada, ainda que as mãos não quebrem mais pedras,
ainda que o dissabor é apenas o prato principal,
pois que seja o véu, que seja o escarcéu que o pariu
nesse ventre insípido - que agora é a flora, é o sumo,
látego desenhando caminhos pela pele, látex vermelho,
e um espelho desenhando um lobisomem de amanhã,
pois nesse instante, não sei o que vim fazer aqui.
Ainda é hoje, tudo comprimindo, a loucura senda a única sensatez,
e um rascunho de vida se desenhando por linhas perdidas
pelo crepúsculo que o sol ainda não gravou em seu horizonte.
À Van Gogh
Há um mês