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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

amor antigo

o amor antigo
é o de hoje ainda por descobrir,
tão relapso no tempo,
estreito que não acaba,
em descompassadas vertígens,
no abraço entre amigos,
quem dera fosse antigo, o que ainda vivo.
e sem dor, e sem desmazelo,
o riso nobre de amanhã...

domingo, 30 de janeiro de 2011

disfarce

não sei o que faço,
estreito o meu caminho
e justifico o passo
e equilíbrio em desalinho...
é igual espelho -
onde me espera - que há?
na capital, a rua tem um fim
e toda descomposta
vai fazendo estrias em mim,
meus pés em desenlaço,
cadarço e o carmesim
do seu lábio causando
embaraço onde não sei esconder.
assim, disfarço...

sábado, 29 de janeiro de 2011

relicário

cenários
curtos.
apenas
aquários
num surto
inimaginável...
são canários
num curto
e espaçado
fio de tempo,
teso e lento
como um
relicário
líquido
de vento...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

castiçal

até onde o tempo
é um engodo do fim,
onde se encontra
alguma forma
de poesia
no distúrbio inexato
do meu lábio...
até onde fico
à espreita da noite,
tijolo sem roboco,
palha de aço,
verniz dessa lua
insensata pelo brusco
castiçal de mim
iluminando até
onde não se acaba...
meu gozo está
na incompletude
da beleza,
no que não finda,
no que termina
sem cessar, num
estribilho
parafraseando
a mesma sensação
sem limite do pecado,
da boca, do beijo
e da reticência
de um encontro.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Desordem

Dentro de mim,
nada morre ou esfria,
apenas uns traços mornos
de esboço da tarde.
De dia é secar a hora
com algum bocejo -
quando vejo em espasmos
a estampa de instantes,
e tanto rosto tímido
procurando abrigo
em sorrisos
que o cansaço
deixou de mostrar.
Dentro de mim
cabe toda desordem
do mundo.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Viver...

Viver é só uma nova forma
de algum infinito entrar em nós.
Todo dia não minto,
não percebo
se sou real ou se finjo
desconhecer,
mas invento esses infinitos
e me estendo a outros tantos
até que não acabe
de tanto esticar...
Viver é um riso
e um choro
quando preciso
para me aliviar...

depois da meia noite

depois da meia noite
homem algum entristece,
nem palavra veste
o que não se comenta,
apenas caem estrelas do céu.
e os sonhos, ávidos por chão,
esvaziam as cabeças
e vão morar num travesseiro.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Eu poético

...também guardo a esfacelada face pelo ocre esmaecido da tarde. E o carbono do dia, e a virgindade da noite - e em meu corpo são rascunhos e vales - tatuagem expressiva que o látego desenhou. Foi um suborno que o ofício do dia me deu de presente. Agora não se inventa mais a sorte, nem se comenta o olho assassino que o instante inesperado forjou. Mas vou-me embora pelo abismo que aqueles pés desenharam. Era uma nudez presente, era uma barca inexorável. Sim. Eu sobrevoei os edifícios da soberania humana, lá todas as estrelas pendiam do céu, era um emaranhado de cometas dormindo calados enquanto os homens, cansados, escolhiam pequenas chamas ainda acesas para fazer verniz em seus sonhos tão apagados. Por isso não sofro, não rio, não choro, pois sou um silêncio poético pelo incabado de versos, pelos destroços de cimento e pedra que ainda invento nessa calçada que abre estrias nesses meus pés de caminho e lida.

acima

Olhar o céu
é dispensar no infinito
dois gritos,
um de paz, outro de solidão
pelo oblíquo instante
do dia,
pela abstrata hora
da noite.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

amor de casa

fosse o vento asa,
o amor em casa -
porta aberta,
janela escancarada
e a espera
dois braços abertos
longe de implorar
que fique
ou de dizer adeus.

a dança das águas

a terra grita,
um charco de nós -
escrita pronunciada
pelo embargo da voz,
que calada,
balbucia orvalhos
pelo chão...
e são pássaros
as folhas desprendidas
que o vento,
que a chuva desinibida
deixou de fora
desse verão...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

jardim de infância

coisa de nenem, tem!
um pio na janela
sussurando
balanço
no berço que fiz.

tem uma mão pequena,
dois olhos atentos
para fazer panela
com um teco de giz.

coisa de nenem,tem!
um guizo de chocalho
para animar a festa
que eu sempre quis.

tem uma cara de espanto,
menina, guarde
esse soluço,

veste esse sorriso
porque eu preciso
sentir o que
seu riso diz.



(poeminha aprendiz que fiz para Wendy, minha sobrinha mais pequena e risonha)

domingo, 16 de janeiro de 2011

becos e ruas

quando num estreito
canto,
o olhar divaga
acuando a hora infeliz,
nem tempo rude - não -
apenas esboça
falar, mas os lábios calam,
também o corpo fenece.
ainda assim
os olhos dizem,
estranhamente cheios
de algum brilho,
a coisa toda
rodeada de desencanto,
uma sensação que não
causa euforia,
mas uma atmosfera
que enferruja o
instante no
inesperado encontro
de desconhecidos.

depois do fim

o tempo é uma pétala
de rosa, branco como os dias,
verde como a espera.
agora, o tempo é uma senhora
de cabelos prateados
como a lua sorrindo,
com um olhar ainda
vivo, e de tanto sol
e de demora,
a pele toda enrugada
em sinal de muito caminho
e história que não se acaba.
esse tempo não tem fim,
nem mesmo quando o fim
chega cedo demais...

desmesura

a tempestade
é um lago profundo,
uma voz embargada,
que la de fora,
o mundo,
sem a saudade tênue,
sem o fado da espera
silenciou
com a força
de um brado.
e é líquida
essa desmesura
que ainda me invade.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Rua sem fim

Na verdade,
eu choro
por qualquer coisa,
e rio também
da mesma maneira.
Sou um chorão risonho.
Vou pela rua faminta
cheia de pessoas
e de pressas
colhendo meu sonho
e rindo.

caixinha de surpresas

"nessa caixinha,
coisa alguma
é minha."

mas meu é o encanto
a espuma
de um pranto

que meus olhos
desatentos
desenharam.





(versos entre aspas tirados a partir do poema "A bailarina esquecida" de Renata de Aragão Lopes, do blog http://docedelira.blogspot.com/)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

mantiqueira

infinito ápice
e vales tantos,
não há quem
não queira
se perder
na eira
de sua beleza:
mantiqueira,
são edifícios
grudados
num céu
que nenhum
olhar alcança.

domingo, 9 de janeiro de 2011

ponto final

Quero a minha prosa de manhã
nuns versos soltos,
quero esquecer a palavra infeliz
que me deixou
no mais absoluto silêncio.

Não quero culpa, quero mais.
Quero a calçada nos nossos pés.
Porque quem sente
não quer jamais
por na história um ponto final.

Eu quero a reticência
do instante, eu quero música
no meu dia,
quero sorrir de alegria,
chorar de emoção,

não controlar esse ritmo
nem porque bate
tanto esse meu coração.

charco de pedras

as horas que ainda guardo
é o tempo que ainda tenho
e nenhuma pedra é imensa
para alcançar meu caminho,
nenhum buraco é largo
para inundar meus pés
nesse charco de esperas...

o instante que deixei voar
foi uma grade que não me prendeu
nem me alcançou com
os olhos fitos no horizonte,
nem tatuou em minha pele
alguma fonte de lembrança.

meus ossos são uma pele encoberta
desse aço que nenhum saudade
corrói, minha face ornada
de verniz e de sol, é onde um dia
aprendi a equilibrar o ontem
e qualquer futuro
com a cortina transparente
de hoje.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Crônica de um desatento

Há algo de errado. Há um mundo desconhecido que perambula pelo meu cais. A cidade deserta cheia de crianças invisíveis. Todas sorriem. E você finge que não há nada além daquele horizonte cheio de pequenos riscos no céu. São gaivotas, meu bem! A estrela está cheia de verniz, seu sorriso está cheio de verniz, somente meus olhos pendem diante da noite. Aquele orvalho que desceu a montanha da minha face foi para condenar minha falta de trato comigo mesmo, ou com você. Porque essa canção, eu tenho certeza, é de amor meu bem. Há dias que percebo que ando meio estranho, há dias percebo que a tarde, que antes era esmaecida, agora é ornada de um arrebol, um mosaico de pequenas confusões em minha cabeça. Eu até tento ser normal, mas ainda desconfio que não tenho jeito com as coisas, meu coração é meio estrambelhado. Vou endereçar minha mania de bom moço aos que nem se importam com isso, pois a rabuja costumeira é companheira de horas e horas na mais completa ausência de mim, da realidade que existe, mas que teimo em camuflar com alguns versos e palavras. Desculpe-me você que não me entende, pois nem eu mesmo entendo. Desculpe-me você que acha que entende, pois eu também já achei, mas o fórmula mesmo da coisa é deixar fluir naturalmente, como diz uma música que eu mesmo fiz. É, de vez em quando canto, noutras horas rabisco coisas que vejo e sinto, em outros momentos, escrevo para as galáxias para ver se há alguma resposta no universo de algum ser que entenda a complexidade dos seres, da vida, da estrada, da poeira que se levanta da estrada. A estupidez da canção e do verbo está na forma abstrata de cantar e conjugar. Eu conjugo o verbo quase sempre no gerúndio, e canto da mesma forma sentindo. Acho que há alguns personagens que se parecem comigo, em algum lugar, em alguma estação. Para quem não se parece, peço ao menos que não faça julgamentos precipitados, pois sou normal, apesar da minha excentricidade.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

ontem

guardo de ontem
o que não confessei
em palavras,
guardo o desequilíbrio
dos meus olhos,
que perderam o freio
e pararam diante
dos teus.
guardo a garoa
teimosa,
minhas mãos desatentas
procurando consolo
no enlace
dos teus cabelos.
guardo de ontem
uma falta de coragem
por não provar
teus lábios,
guardo uma porta
imagética com
tua promessa
de deixá-la
semi aberta.
a chuva lá fora
deixou os vidros
do carro turvos,
meu coração
desinibido
destilando verbos
pela rua afora.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

tudo sobre o nada

tudo existe
quando tudo é nada.
nada é tudo,
uma estrada infinda,
uma ponte
sem as extremidades,
um ponto sem fim.
nada é um estado
em constante
reticência...

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