Quereria o poeta ser um osso,
tosco, descarnado, fosso de dores,
pétreas angústias dizimadas
por sua convicção – sua antemão de amar,
reles fio de esperança numa lambança
quase imatura de coração juvenil,
numa aurora quase morna de prelúdio de verão?
Sim, quereria... Quereria morrer
aos botes secos da mais sinuosa serpente,
e viver a certeza mais onírica
dos súbitos viajantes de estrelas,
para, numa mensagem rasgada à luz branda
e incandescente do tempo,
verificar algumas linhas mal traçadas
de um amor confesso, um amor indelével
e rígido como pedra solitária ao céu,
ao vento, ao tormento da eternidade absoluta?
Sim, quereria... Quereria o poeta ser apenas
uma trégua de sua luta intensa,
de sua busca imensa nessa nascente
de vida propagada em pequenos orvalhos?
Sim, quereria... Assim como quereria dormir
sob a luz desses olhos,
velado pelo brilho terno e pueril do amor,
riso e desprendido, momento de extrema
solidão e plenitude, uma eternidade escondida
num segundo, por se saber amado,
ah, dado universal que corrompe as certezas,
essas correntezas inevitáveis
de se ver preso nessas
armadilhas cruas do amor.
Sim, quereria... Sim, digo e quero...
Sim, espero por menor esmero que seja,
assim rumo errante, rumo pedante,
o poeta carne, osso e coração
vestido por uma alma de ilusão sem fim...
Sim...