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sexta-feira, 31 de julho de 2009

sem prévia

amar o vazio
é amar
a possibilidade
de infinito.
amar o absurdo
é amar um surto
para o próximo
encanto
que está guardado
num sorriso
sem prévia
de chegada.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

de repente...

de repente,
é apenas um vulto súbito
essa teimosia de viver...
de repente,
é escangalhar as pernas
para o ar e ficar observando
as folhas balançarem.
de repente,
qualquer lamento
não trás de volta
o rio imenso que ficou
para trás.
de repente,
esse rio é mesmo
um eterno curso
que afronta as tempestades,
que desloca as pedras
tão inertes
e vai dar num oceano
de descobertas.
de repente,
acordamos e percebemos
que as águas que já rolaram
transformaram
para sempre
a paisagem do nosso viver:
nos fizeram
a própria paisagem.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

calçada vazia

pequenas migalhas,
essas sobras nossas,
enchem de vida um corpo abandono,
espírito zanzeando
e dormindo uma calçada fria.
esses níqueis esquecidos
no fundo da bolsa
são o pão lembrado por um estômago
vazio ou o entorpecimento
do pensamento,
vaga solidão
afogada num copo de cachaça.
esses trapos de ontem
já são a solução de aquecer
o corpo em calafrio
ou tapar a vergonha
da dignidade somente morta
aos olhos vazios e alheios
que somente enxergam
repúdio...
aqui se constrói castelos
com teto de papelão
e piso de vento
numa base bem rígida de negligência.

terça-feira, 28 de julho de 2009

na janela

nunca me esquecerei
de teu rosto na janela
apoiando sobre as mãos
um pouco de desolação...
pois a rua estava deserta
e trazia um aroma de estrada
que ruminava uma distância
como faróis ao longe – piscando,
piscando uma vontade
de abraço...

Crepúsculo de saudade

O lençol de areia fina
cobria os pés da menina
que jogava folhas ao vento
e bebia uma manhã
de lembranças salgadas
com cheiro de mar...
Depois a chuva cai
e lava tudo em correnteza
ficando apenas
um tom alaranjado
de um crepúsculo
de fim de tarde:
um horizonte
tristonho de saudade.

domingo, 26 de julho de 2009

Entre a letra e palavra

À procura da letra,
sai afobada pela coleta,
a palavra nua
sem tecido de sol e de seda
vestida de lua.
À procura da palavra,
sai a frase, o verso em desencanto
metalingüístico e vestido de branco
fazendo do som
uma harmonia escrava.
A letra é obsoleta ou não...
É fálica na boca da história.
A palavra é metafórica
e tempestuosa no verso do poeta.
É prosa descritiva,
é narrativa filosófica,
é prosopopéia e inferência,
é paródia e paráfrase.
A letra é universal,
a palavra é um sal de possibilidades
que veste todas as coisas
e se faz existir existindo
simultaneamente
com o inefável.
Eu moro entre a letra e a palavra
para me vestir de texto
e ser um descontexto
na minha poesia
sem eira absoluta
de qualquer magia,
pois esta se faz nos olhos
e sabores daqueles
que me lêem em desalinho.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

De um ponto a outro

A lavadeira descendo a ladeira
carrega um balde e uma trouxa nas mãos.
A costureira fiando a agulha,
viés de minúcia que assegura a virtude.
Verte agora esses olhos nítidos,
verte seus sabores de aurora.
Agora é um ir embora para outros quintais.
A lavadeira circundando o brejo,
a costureira cingindo o pano,
é pão adormecido em forma de fome,
é talher vencido desse velho aço,
é beber desse antigo disfarce.
Vai vestir a sua roupa bem limpa,
vai sentir esse tecido tão branco.
Ah - esses carnavais de brilhantes -
tecem delongas nesses nossos aís.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Epístola

São desvairados esses homens loucos
Que, com um pouco de magia,
Fazem a vida parecer mais bela...
São figuras anônimas esses homens tolos
Que extinguem a máscara,
Que jogam fora os excessos
E trazem à tona seus vestígios de lucidez,
Levam embora seus ornamentos
E se vestem de humanidade...
Esses homens são operários
E edificam a possibilidade do sonho
Esquecido em nossa memória.
Hoje conto história,
Amanhã sou letra esquecida
E os homens permanecem mãos e trabalho,
Permanecem estiagem de vento
E um tempo em pradaria se abre
Por um vale de novos capítulos:
O homem é matriz de início e fim
Que finda em si mesmo pelas mãos
E pelo suor, agora agridoce em sua boca.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O menino que distribuía sorrisos

As mãos na janela – olhou distante as faces ausentes...
E um povaréu lá fora fugindo da espera,
é tanta sombra emaranhada na canseira alheia.
O menino vislumbra, alumbramento
de olhos, pisca-pisca vaga-lume de reflexo,
é aperto de gente, é lamento e cansaço...
Sorri para a velha um sorriso falhado,
aponta espantado um brinquedo dos homens grandes:
máquina de ferro comendo o asfalto.
Sorri às flores do canteiro isolado,
é fumaça que se espalha em poeira
pelo vidro, o menino encantado...
Desenha um sorriso empoeirado e oferece
aos que ficam para trás – hoje é dia de viajar as tristezas
e colher desses olhos faiscantes
um sorriso estrada que não termina...

terça-feira, 21 de julho de 2009

sem endereço

vai-se embora o asfalto longo,
um tombo desfeito por um levantar astuto.
vai-se embora a ira, desola o corpo,
cai a esmola em miséria,
séria risonha, face de aço e mirra...
não fica nem saudade nem preço,
nem endereço nem lamento...
não cabe no bolso o desespero,
não sai apressado o soluço...
vai-se embora... eu fuço, muco satisfeito,
um defeito em arreio e arroio,
cadastrando as placas de direção...
fica agora garoa morna
batendo revolução em músculo ansioso.
fica o cão laborioso do homem sentado,
um banco e praça, uma retina apagada.
fica um braço e musgo, uma vontade de cama,
ébrio desabrochar de um faz de conta
que aflora... e cutuca os sonhos
que ficaram afogados
num trago de cigarro de fumo e palha...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

esmiuçados minutos

da varanda se vê o tempo lá fora,
templo alheio, charlatão e gigolô,
que é fuga dos rostos tristes
onde avançam apressados, os pés.
para dentro, é um cheiro quente de café
resvalando nas paredes
e vindo dar em sossego
das horas mortas que Maria faz vida
sendo uma pele enrugada e sem maquiagem.
do quintal se sente os sonhos
apressados em escapar além dos paletós
ou que ficam escondidos numa bolsa
preta em tom brilhante,
que guarda os brilhantes das senhoras
com sorriso esmaecido.
para dentro uma porta convida para entrar
esses esmiuçados minutos
com uma vontade devagar de não sair,
somente desnudar a roupa suja
e ser José e Maria em pele,
osso, carne e coração.

domingo, 19 de julho de 2009

íntimo vazio

no meio do vazio
conheço esse enredo
que me laça – esmoreço –
pois a lança cega
me transpassa o peito
como arvoredo
balançando suas preces
sobre o vento.
aqui, intimo vazio,
sou uma solidão
que espanta esse tormento
e padeço pagando
um preço:sou supremo
e prisioneiro,
um silêncio
a espreita
de me conceber
em tempestade.
noite ilustrada, súbito vazio,
sou um choro
de estrela
derramando seus orvalhos
sobre o incandescente
da madrugada
utilizando meu lenço
de desespero
para temperar
minha sede de vácuo.

sábado, 18 de julho de 2009

bilhetes

eu quero estar aqui,
prender a atmosfera em meu peito
e ver que meu defeito
é não saber sair despercebido,
pois deixo algum recado
dobrado nesses bilhetes
que amassaram pela demora
súbita de abrir...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

pequenos papéis

é porque sou um interlúdio
em semente, eterno,
que vivo sempre depois
de amanhã, antes de hoje,
depois de agora.
é porque sou sempre poesia
que respiro lufadas de vento
em meu calcanhar,
onde encontro sempre seus pés
a me fazer passos na alma,
a me desenhar risos no horizonte
esperando uma fonte
nova de amor...
é porque sou prosa,
de vez em quando,
que rabisco futuros de amanhecer
desenhado orvalhos
de lágrimas em meus
pequenos papéis de me ser...
é porque sou poeta que vivo
além do túmulo
de não calar minha voz
para dizer que sou sempre
um absurdo sem fim...

brochura

procuro aprender os riscos e as melancolias
evitando algumas estrias finas
que ela – a vida – pode me causar.
procuro, insone, dormir um muro inatingível,
para, depois, deitada minha vontade,
reduzir-me apenas a cansaço,
sem essa súbita culpa de não sonhar realidades.
procuro deixar minhas mãos sempre abertas
para me doar em alguns silêncios
de cumplicidade absoluta,
para dizer adeus dessa miséria minha
de caminhar espinhos em caminhos largos,
para receber alguma nobreza
colhida nesses risos desenhados em cadernos
de brochura e pintados com algum giz
de iminente sonhar.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

retina

encarar os olhos
é, das minhas coisas,
aquilo que mais gosto
de fazer:
pescar as ilusões
que se espalharam
e descobrir
que quem pisca
é covarde ou tem um pouco
de timidez
e revela essas querelas humanas
essas verdades
que os livros
de justiça escondem...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

caixinha mágica

pela manhã sou preguiça,
um despertar em bocejo
quando ainda seria esperança
de entardecer
pela tarde sou timidez,
um acanhamento profundo
de sorrir para o mundo
sem parecer tão fraco
de dia, sou ilha de mim
de noite, um sonho sem fim

domingo, 12 de julho de 2009

A bailarina feliz

Dançou a tua sina
como menina feliz
que fez da bailarina
um sorriso com um risco de giz...
Dançou tão pequenina,
a sapatilha veloz,
com plié, espacate, purpurina
e ouvir da sua dança, uma voz.
Passé, dévelopé, padeburré...
e gira seu encanto
num jazz, num balet original,
um lago de sorrisos e aplausos,
os pés, a ponta, o giro
e a reverência colhendo a magia
da menina aprendiz,
colhendo ternura,
da bailarina feliz...
Dançou a tua sina...
Dançou a bailarina...

Tudo que me basta

Soltei as pipas do meu sonho
rumo a um vento leve
e na neve branca do meu riso
fui uma esquina demorada
onde me surpreendi
menino calado
caçando minhas aventuras
num faz de contas real
que aprendi a transformar
em ilusão...
E isso é tudo que me basta
para bailar alegre
todas essas danças...
É tudo que me basta
para me fazer ser
apenas uma alça
que me alcança
pendurada numa esperança
de criança feliz.

Pequenas feridas

Deixo-me levar por versos estreitos,
esses pleitos meus
que me vestem em ritmo e poesia...
Deixo-me levar por palavras vastas
que expõem nessas lascas minhas
pequenas feridas que se acabam em plenitude.

sábado, 11 de julho de 2009

Fim de tarde

Agora, pegou seu guardanapo,
limpou o seu prato
com um pequeno trapo
e deixou à revelia uma fome
que não mais some em solidão.
Agora, ela é fera,
nessa esfera singela
que domina seus atos
emaranhando cadarços em sapatos,
seus pés descalços...
– Uma flor é uma beleza
quase viva e quase morta
diante de um espelho quebrado...
Agora ela é ilusão – a bailarina feliz
que já quis ser apenas um triz
de viver, apenas um riso de fim de tarde,
que agora arde em lembrança
numa distância quase covarde.

Coração indelével

Quereria o poeta ser um osso,
tosco, descarnado, fosso de dores,
pétreas angústias dizimadas
por sua convicção – sua antemão de amar,
reles fio de esperança numa lambança
quase imatura de coração juvenil,
numa aurora quase morna de prelúdio de verão?
Sim, quereria... Quereria morrer
aos botes secos da mais sinuosa serpente,
e viver a certeza mais onírica
dos súbitos viajantes de estrelas,
para, numa mensagem rasgada à luz branda
e incandescente do tempo,
verificar algumas linhas mal traçadas
de um amor confesso, um amor indelével
e rígido como pedra solitária ao céu,
ao vento, ao tormento da eternidade absoluta?
Sim, quereria... Quereria o poeta ser apenas
uma trégua de sua luta intensa,
de sua busca imensa nessa nascente
de vida propagada em pequenos orvalhos?
Sim, quereria... Assim como quereria dormir
sob a luz desses olhos,
velado pelo brilho terno e pueril do amor,
riso e desprendido, momento de extrema
solidão e plenitude, uma eternidade escondida
num segundo, por se saber amado,
ah, dado universal que corrompe as certezas,
essas correntezas inevitáveis
de se ver preso nessas
armadilhas cruas do amor.
Sim, quereria... Sim, digo e quero...
Sim, espero por menor esmero que seja,
assim rumo errante, rumo pedante,
o poeta carne, osso e coração
vestido por uma alma de ilusão sem fim...
Sim...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Poço de nós

E afogo esses egos,
Cegos morcegos voadores
E voa – dores – orifícios meus,
Coliseus em destroços, cole,
seus desmentidos troços nesses alvoroços.
E me apego sem dor, prego a dor,
Pregador de promessas,
Essas promíscuas lambanças
Lambendo minhas danças,
Lanças ofuscadas, ofício de cada um...
Um ramalhete é um bilhete,
Estilete cego que corta a emoção,
Novamente destroço...
Destila o veneno necessário,
Esse comissário de bordo
Vem pleno de nós, anos a sós,
Retribuindo uma gentileza meramente
Poço de nós mesmos – esses bêbados cambaleantes:
Beba do cálice antes, cale-se, sangue
Vermelho, mangue de espelhos vazios.

Da maravilha das coisas

Ah, esse ópio meu, esse nervo ótico
remexendo meu olhar para coisas belas!
Aqui, dessa janela, o encontro é entre
as pessoas que andam e a paisagem parada...
Dessa alma escancarada vê-se o horizonte
apreciando perscrutares ao longe,
viés de engano que sonda essas fronteiras nossas,
dizendo – que maravilha!
Essa maravilha nunca saiu daqui, peito acanhado,
nem meu nem teu...
Essa maravilha se revela apenas
quando a permitimos se revelar.
E a maravilha indissociável, inerente,
imutável, que há em cada um,
também não muda... Nunca.
Muda apenas os olhos alheios
a que tanto damos atenção
e que validamos sempre a beleza e a ruína
que eles nos mostram.
Dê olhares a teus olhos, vista a beleza de nudez
e transparência e seja apenas sorriso,
pois não se pode furtar o que de fato nos pertence.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

arte vetusta

essas velharias minhas
são algumas texturas que sinto
na derme da minha alma como areia fina
caindo por entre as frestas desses dedos meus.
essa arte vetusta,
súbito cárcere meu,
onde alimento minhas lacunas,
onde arranco versos e pesco palavras,
é onde vence minha força,
enforco minha luta, gana absoluta.
dessas velhas páginas amareladas
carcomidas pelas traças,
donde um dia foi traçado um saber,
colho meus adágios mais singelos
e faço estágios de poesia desmanchada
em sintaxes várias...
sintaxes desvairadas...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

concretudes

hoje preciso de colírios para enxergar meus riscos...
descobri que os homens pertencem a uma categoria
nova – uma nova forma de ilusão – uma novo jeito de solidão...
hoje meus delírios são alguns cílios batendo pestanas abaixo,
acima procurando um foco disforme, onde me alucino toda vez.
essa carne estrangeira minha de cada dia se esbarra
e se impregna em meu corpo, meu perfume de escopo
escapando às minhas chinelas... ah, meu cansaço!
hoje a descoberta certa foi um cenário novo:
plantei alguns lírios no asfalto desmedido do meu viver
e colhi pétalas de sonho no alvorecer eterno dos meus dias
ainda que esse homem precise de realidades
para externar suas concretudes, seus absurdos sem fim.

terça-feira, 7 de julho de 2009

fim alheio

...é desperdício descomunal
esse vício lícito de viver sombras de amores.
é desperdício esse indício
de adivinhar pensamentos,
morangos silvestres desenhados,
uma face vermelha,
nesse olhar espelhado de um riso bobo.
é desperdício todo resquício
de mim largado ao vento –
solidificado por meus excessos – meus esmeros de viver.
uma palavra é uma larva
que metamorfoseia essa poesia turva dentro de mim...
uma palavra é meu fim, é meu surto,
é meu pranto, é meu manto
que me cobre em noites frias.
é desperdício jogar fora
todas essas aparas que caem de minhas arestas,
pois estas me ligam em transfusão
de viver uma vida desenhada
em estrofes de poemas inacabados...
todo desperdício é sempre um início de mim,
pois começo sempre num fim alheio
onde moro quase sempre despercebido...

Digressões da palavra

Diga e fale essas incongruências
Na palavra nua.
Diga e proclame teus verbos pretéritos
De um ontem inventado,
Toda vírgula e ponto,
Essas digressões ao fado,
Esse halo desgastado por dizer...
Toda letra miúda, amiúde no tempo,
Todo verso estreito, rima destoada,
Diga... Invente sua palavra – esse embaraço
De cordas bambas – lambanças.
Grite a palavra num momento sublime
E a conclua em reticências...

domingo, 5 de julho de 2009

Cancela

Árvores, galhos, balançando...
Ipê, coqueiro alto,
Um sonho bem perto do asfalto
E a menina, sorriso ao vento, brincando.

Tem caminhos da roça,
Tem pipoca vermelha,
Um balançar de carroça
E tem caco de telha.

Tem pavão, mil olhos abertos...
Tem viola e canção,
O silêncio dos desertos
Quebrado por uma voz de ancião.

Tem a boca, paladar, bolo de milho,
Tem balão, bandeirinha e cancela.
Tem o sabor derretendo em polvilho.
Tem um segredo que aqui se revela:

Hoje, meu sótão de sonhos se abriu...
Fui um menino de cidade e mato,
Despi meu corpo num rio
Para escancarar meu riso tão nato.

sábado, 4 de julho de 2009

Adido

Morrem as palavras,
os versos...
Morrem os dias
no dormir das horas.
Lá fora - janela descortinada -
vive uma vontade de ir embora.
Morrem os silêncios,
vivem os gritos...
Morrem os lenços lacrimados...
Vivem os olhos esperançados,
morrem meus medos malditos.
Aqui, se morre agora,
mais que um sonho desmedido,
morre-se o sonhador
em poesia de adido.
Aqui, não finjo,
vivo a intensidade da minha dor...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Alvorecer

A segunda metade do ano dada pela primeira década do século,
Obsoleto, irrisórios pensamentos alçando vôo rumo ao inimaginável.
Nessas primeiras horas da manhã, um corpo já doído desperta e comemora

A folga almejada, suores fadados às suplicas de descanso...
Mas que hei de fazer? Mil desejos retraídos acomete o espírito de solidões,
Essas prisões inevitáveis onde repousa a causa de um viver todo.

Uma senhora que tanto fez, de lavadeira à preparadora de confetes, ao passo de uma
Longa labuta, hoje escuta a voz chorosa da falta do que fazer,
Pois que tanto sonhou em lividez, que tanto almejou de mansidão do corpo,
Que, máquina que não gira suas engrenagens, reclama à ferrugem,

Essa que carcome os ossos, essa que aniquila de uma prisão mais insensata
De uma liberdade assentada na palma da mão.

Mas não é disso que reclamo, nem conclamo aos indultos das vozes cegas
Que tanto guiaram pela marcha obscura do viver...
Não pestanejo nem evidencio minhas lamúrias, nem busco o vão e o vácuo
Capítulo tecido em letras brancas que um vento leve sussurrou num dia
Quente de janeiro. Não...

Mas eis que estou a sonhar um passeio rumo ao concreto, rumo ao abstrato
Que tanto construo em manufatura. E pesco mesmo alguns silêncios
Que meu corpo não desejou falar, pois, aqui, dolorido, é essa pequena dor
De uma tendinite que me vem visitar de vez em quando, diz que estou bebido dessa tal ferrugem.

Ah, antes tudo! Um tudo submerso em fantasias nessas orgias minhas de cada dia – onde
Meu espelho é mesmo aquela reflexão de nada refletindo uma história criada ao caos
Do acaso de viver. Pois que viver é um acaso, pois que amar é um caso criado de

Eternas buscas, é um raso riso oriental onde as pétalas de papoula se abrem discretas.
Aqui, concluo minha manhã de inverno frio: desejo mesmo um vapor morno em meio
À neblina fria da madrugada, para evidenciar meus erros, meu eu destacado pela poeira
De viver – onde as


estrelas choram suas noites tristes, onde o corpo reconquiste,
Com algumas manobras, a tez risonha do alvorecer.

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