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domingo, 26 de junho de 2011

Poema de amanhã

Onde estava esse encanto,
que agora rio, que agora mora
no meu olhar um amanhã no mundo?

Eu procurei pela procissão do dias,
no olho do entardecer, a sua graça.
E vi, na prece de minhas lágrimas,
esse sentir profundo...

E clamando aos montes, ao solitário
verniz que brotou da alvorada,
esse instante, que antes, dizia nada,
somente espera e esmero de existir.

Mas eis que, ao delgado toque
que premedita um futuro, meu eu
desperta a avidez de seus olhos nús
na verde procura de um sonho...

E tamanho é o que se passa, uma tempestade
fazendo revoada aos dias e noites
formando a dança que se revela
num segredo tão singular.

Eu estava aqui, e estavas aí também.
Em cada canto uma espera, em cada
encontro o desalento - Mas, agora,
no canteiro da paciência

a suma presença revelada de não deixar
partir. Sim, somos a idade do porvir,
o sublime de sermos a cor feliz
de um estar junto, velejar no barco

um mar de possibilidades pois,
sem o tolhimento de um desencontro,
somos o infinito na seiva de um sorrir...

sábado, 25 de junho de 2011

Crisma

Não há em mim agora, pranto
se somos dois elos, vestígio
de um tempo em mim, no entanto
o grito, indomável silêncio...

...que mero toque de um vício,
ao trago inconsciente do verbo,
é o sinal deixando um resquício
que fana em nós o vil acerbo.

Somos ontem, amanhã, agora -
o flerte que não foi impedido
ao vento, folha solta e graveto...

Somos o sublime, essa libido
que cercea-nos nessa metáfora
de amar em desmedida sem veto.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Espera

Quando o instante seguinte
é um vazio, é quando sinto frio.
E para me calar, a madrugada
do meu sorrir é uma espera
que só termina quando me diz: cheguei.
Porque devagar meus olhos aguardam
o sinal abrindo as portas
desse palco...
É um sorriso desacortinado
que renasce para mais um amanhã...

domingo, 19 de junho de 2011

Somos

Certo é o caminho,
recreio de outro tempo onde há um
invento de nós onde
somos a suma essência,
tentativa voraz de sonhar juntos
indício de um novo amanhã
nessa peça ao vento:
amor, um silêncio de dois olhares.

sábado, 18 de junho de 2011

Alumbramento

A resposta não está
na forma como tem se revelado,
a cada dia, uma forma nova de sorrir.
A resposta está
em como antigos anseios,
que antes eram uma iquietude sem fim,
se apresentam tão fascinantes
assim, desenhando em minha face
uma nova aurora
que deita no berço de um sonho
e deperta...
Correr atrás do por do sol,
ou ficar num alumbramento
acompanhando a lua invadir o dia,
pode até ser coisa de maluco,
mas a sanidade dos loucos não
pode ser vista por olhos comuns,
e sim, por quem deixou todas as convicções
de lado, deixou de olhar apenas para
o que está fundido com a correria do dia
e sentiu, assim, simplesmente o encanto
se revelar...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Prisma

Há dias guardo comigo
a fotografia desse instante,
que, ainda por ser revelar,
é o prisma da saudade
que se desabrocha em mim
dia após dia...

terça-feira, 14 de junho de 2011

endereço

eu não tenho culpa
se ando meio absorto
seu meu coração torto
não precisa de desculpa
para ser abrigo

eu não sou errado
eu sou rapaz direito
e o meu defeito
é estar do lado
de quem me quer amigo

eu sorrio em cada instante
como quem tem apreço
e, assim, sou endereço
de quem está distante
e, sem pressa, está comigo.

domingo, 12 de junho de 2011

Amor

O amor, este de além agora
e que, em desmedida,
eu procurei sem demora,
é infinito grão de enterna vida.

No instante, amor real
é o sonho que nos toma -
de dois a soma
do que não é igual.

E, tão logo o toque
esperado - o beijo
que, lento, não sufoque
e nos misture... eu vejo.

A inquietude, ouvir a voz
e em riso dormir tão tarde.
Somos aqui, em nós,
o amor, chama que nos arde.

tão perto

tão perto que não disfarço o olhar,
minha face é alvo fácil
de me aproximar,
tátil desejo de ficar
tatuado na íris de me enxergar...

e era longe você lá fora,
agora aqui, é uma pressa de não acabar,
é quando os imperfeitos se combinam
que duas partes viram uma...

pequena centelha ligando
um riso noutro canto
onde a boca sorri sem motivo.

entrega

a arte nos integra,
íntegra parte de entrega,
e é vida e é amor
que nos carrega...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

garoa

agora
garoa
lá fora
a grão
cair
orvalho
de ir
embora

quinta-feira, 9 de junho de 2011

tanto tempo...

vamos envelhecer
sem ver o tempo passar
ter como companheiros
um velho sofá
a janela rangendo
as dobradiças do tempo
guardando o horizonte
que ficou pregado
nuns olhos de criança
brincando la fora
e o quadro pendurado
na parede deixando
amarela a fé
que ainda tenho na vida

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Saudade

A saudade é uma idade
que não me deixa mais velho,
mas me deixa pronto
para me amadurecer num abraço.

terça-feira, 7 de junho de 2011

O que ficou pra trás

Resguardo a face ainda lúcida,
o homem manchado em nódoas de ontem.

Desisti da pressa - azáfama
que tolheu meu riso,
a tesa tez,
o olhar abandonando uma criança.

Recuso vestir a roupa branca,
a paz é arco íris,
e se amor não comove
não move em mim mais devoção.

Eu tenho tudo que preciso:
um violão com uma corda quebrada,
uma pauta em branco
esperando a próxima palavra...

Eu tenho meus distantes,
as folhas fazendo chover orvalhos
nesses olhos meus, eu tenho...

...quem não me esperou,
quem se despediu antes mesmo de chegar.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Fruta do Conde

A madrugada é uma recem conhecida
que bateu na porta da minha noite
onde não se faz nada
além de abrir estrada para ficar...

Na retina do dia desperto
sem esquecer o que me espera:
conjugar o verbo no plural
para diminuir as distâncias,

procurar em mim, no onde
um sabor de fruta do conde
para enriquecer o paladar do meu riso.

A órbita do instante é uma esfera
imensa, é massa, uniforme
na consistência de calar meu grito.

domingo, 5 de junho de 2011

O que combina

Teus olhos virgens,
floresta imensa,
cidade distante, onde
desde já, me repouso
é um infinito instante,
minha viagem e meu pouso,
me pergunta sem direção:
- Qual idade você tem:
- Eu tenho a idade
que seus olhos vêem.
- qual idade vê em mim?
- A que combina com a minha...

sábado, 4 de junho de 2011

América

Ame, rica
composição de estar bem,
acirrada métrica
nos balaios deste zen...
Gatos inoportunos
pelos túneis da noite.
Um grito noturno,
infortúnio e açoite
onde prevalece
a rima vagabunda
que margeia os dias
desse poeta que aceita
o senão dessa estrada
sem chão...
Aproveito o verso gauche
de Bolaño e Drummond
e na tortura dos dias
me desintegro.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

poema broto

arregalando os olhos,
uma boca infinita
engolindo toda a curiosidade
do mundo...
no fundo,
uma pequena semente
germinando
embrulhada num
chumaço de
esponja de aço,
o balde fazendo sala.
de arrabalde apenas
a mão intrusa
tateando com espanto
o pequeno broto fecundado.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

ausência

nenhum sinal
de vista faz guardar
esse olhar histérico...

fazer sala com as cortinas
de sobreaviso,
eufóricas esperas
pelo improviso.

num desespero,
voltar às núpcias de ontem,
vestir de pijama
o despertar de uma ausência...

amarelos

seus dentes amarelos
são pequenos elos
que descobri
quando minha boca fechada
tentava me aprisionar.
agora, incontinente,
apresso-me para
buscar essas perdas
que deixou
amarradas num adeus...

cidadão comum

deitado de busto para o mundo,
minha pátria é uma fotografia em branco
esperando se revelar
numa rua inesperada...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

vassouras

morrem as crianças,
de tanto chorar,
e moram em toda rua.

as pernas tropeçam os montes,
esses vestígios de vigiar
o que não tem a esconder,

e são cimos de ponta cabeça
hierarquizando os tantos
esperando numa fome

a chance de ainda acordar:

a boca arregalada,
os olhos sem freio, ugalhos alheios
num arroio sem meio
de continuar...

varrem as calçadas,
vassouras sem cerdas,
almas vestindo de chão
essas perdas de amanhã.

linear

na tentativa fugaz
de eu me ser,
quem faz,
oblíquo,
um bom rapaz
de sesmaria
é a pequena
nota de rodapé
inscrita
na pauta em branco
do meu riso,
em meu olhar
atravessado
observando
as torturas
do mundo...
linear é minha
sede de tijolo
de me emparedar
no tudo
e me cercar
de sonho...

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