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domingo, 30 de maio de 2010

A flor sem pétala

Dentro da rua tem todas as verdades,
esses segredos que se revelam
sem o melindre das conivências,
das roupas sujas que vestem de corpo
a calçada fria cheia de chão...
Tomba um edifício com seu telhado de sombra,
e seus depósitos de lixo,
um ofício meliante,
um cesto abandono para preencher de ceia
todas as fomes - preencher de lar,
todas as vidas, preencher de vida,
uma mera calçada, e os olhos cegos
que ali passam, e a estrada árdua
que é nódua, tatuagem picando a face
com esse tempo ardiloso
de farrapo e flor sem pétala
num canteiro de pedras...

sábado, 29 de maio de 2010

No silêncio

Hoje, tu tens um sorriso largo de me abraçar,
é quando desmbrulho todas as fotografias,
é quando recordo que não me deixavas
quieto tentando me desenhar...

Eu quero pintar ainda um poema
com as sete cores da tua alegria,
deitar na grama, me afundar no céu,
colher do infinito o teu mundo de sonhos.

Porque eu ainda não desisto,
é uma janela aberta, uma porta escancarada,
o meu amar calado, teu encanto guardado
na teimosia do meu coração...

terça-feira, 25 de maio de 2010

ponte aérea

ah, esse desavesso
confessando em mim
tudo que não posso ser...
eu quero guardar meu gozo,
mostrar a perda,
deixar um canivete
cortar meu ânimo,
pois antes, antes
era uma euforia,
suas respostas rápidas,
sua concordância sem verbo,
mas era essa literária
empatia desintelectualizada
de um meliante
com sua postura de
atriz, pelos menos
suas pernas
num plié contemporâneo
me fazem, ainda,
curtir essa essência
embargada de minha voz
com o âmbar veloz
de sua postura
de menina
com alguns sonhos urbanos
para realizar...

domingo, 23 de maio de 2010

aniversário

Carla,
lembrei-me que hoje é um dia abundante,
lá fora um outono cheio de sol
e uma leveza de vento
tecendo a imagem calma
pelo horizonte do teu sorriso.

Carla,
lembrei-me que nenhuma idade é tão distante,
apenas vigora em nossa face
toda beleza que aprendemos a colher
sem nenhum disfarce de verdade
que transparece o invisível.

Carla,
lembrei-me que te devo um abraço,
pois hoje se faz especial,
não pelo dia lá fora,
nem pela visita inesperada
de mais uma amiga em meu coração...

Carla
...mas por comemorar com o sol
o dia em que brotou para a vida,
mais que um canteiro de margaridas
com essa teimosia querida
de ser Carla em desmedida.

tudo que cabe em mim

cabe agora em mim as estruturas
de uma esperança branca
as palavras que tu procuras
teu riso de porcelana,
teu olhar de Bianca
com textura de neve
verso que não engana
pois o giz que em mim escreve
tece de horizonte
o que não fica para trás

cabe agora em mim esse céu de prata
gravura de teus ofícios
um escravo de gravata
combatendo um antigo vício
de deixar na terra
o que era vermelho
e salvar na guerra
o que não era espelho
lançar um grito derradeiro
para capturar na cela a essência da minha paz

cabe agora em mim uma estrela pequena
brilhante e veloz como um vaga lume
aquela ira que ninguém inventa
aquela verdade que ninguém assume
um coração selvagem
abrindo uma cortina sem janela
levar no vento a minha bagagem
que partiu sem ela
forjar no verbo a minha febre
e encontrar no poema esse verso torto que ninguém desfaz

sábado, 22 de maio de 2010

Corda bamba

É... A vida me põe de novo em corda bamba
pelo zelo dos bons tratos
que me dou de vez em quando.
Assim, alforriado e displicente,
é que rogo a prece para cair
sempre do lado de mim
sem machucar uma folha verde -
que por acaso - crescer em meu jardim.
Mas caia eu lá caia eu cá
sempre me levanto
com a fineza e teimosia de um menino
e vou atinar-me em novas cordas.
Bamba mesmo é a vida,
pois eu, eu sou é equilibrista...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

varal

minha dura certeza
é saber que nasço
do abstrato sem pedigree
da minha triste realidade sem fim
entre uma parede
sem horizonte
e um quintal sem cercado
onde balança brando e solitário
um varal sem o vestido rodado
que agora veste
minha lembrança branca
de seu corpo dançando livre
pelo meu palco de memórias
que não tive...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Vagão

Pela linha servil do movimento,
vou, vagão solitário
com meu marchar tão lento,
buscar nesse horizonte
alguma fuga, algum alento
para me fartar dessas paisagens
urbanas, me impregnar de gente,
ser uma janela sem vidraça,
uma porta aberta
que não precisa de passagem
para me fazer viagem
sem a desnecessária
bagagem de uma mala vazia.
Levo as imagens gravadas
dos sorrisos tão tímidos
e uma saudade guardada
numa mão que teimou em não abrir
para o aceno do adeus...

domingo, 16 de maio de 2010

sem licença poética

sou uma palavra
solta e desprendida da minha boca
livre e veloz como um relâmpago,
aguda e certeira como uma flexa
na discordância dos verbos,
na deselegância dos versos
que agora - sem licênça poética -
invade meu mundo absurdo de texto.

sábado, 15 de maio de 2010

Imaculada

Dentro de um copo resta uma gota
guardando o silêncio das madrugadas.
A boca que ali bebeu era o estigma de
um lábio frio que desconhece o toque de um beijo...
Permanecem todos os conflitos guardados
e que causam as estrias pela teoria do caos
que todas as filosofias esqueceram.
Por que aquele homem chora agora
em sua estrada vestido de fúria e vento?
A mulher ainda desce a ladeira
e a cicatriz dos tempos acompanha
seus pés e deixa estampada
no chão todas as civilizações de uma guerra,
uma pegada no ápice das virtudes,
na alegoria de todas as lacunas,
na hegemonia de todas as vitórias,
na inocência de todas as batalhas.
Um lábio seco ainda fricciona
o sabor inestimável do dia.
É a glória do instante em reverência
aos deuses e suas divindades,
idades e frutos no amadurecimento
do que sentimos: uma luz perdida
no cerne abstrato de nós mesmos.
Rufam os tambores
e a fé imaculada da vida é um hóspede
que não tem hora certa para partir...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Palavra muda

Quem se atreve a plantar
a hora exata do amanha?
Já deixei os desapegos, colhi da andança
alguma necessidade de me calar,
agora ouço do silêncio
a palavra branda que diz:
por que correr atrás do sonho?
Deixar a pálpebra se abrir,
olhar o distante mais perto...
Sou um verso branco sem estrofes de amor,
mas sou a palavra muda que ainda sabe sentir...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

moldura

quando eu estou no teto do tempo
estou no colo vazio da vida
colhendo na poeira da parede
algum amarelo
nalguma moldura,
qualquer retrato vencido
um sorriso embranquecido
que afague ainda
a tarde cinza dos meus dias

sábado, 8 de maio de 2010

cabeça de balão

tenho um pé no chão
uma mão numa árvore
uma asa quebrada querendo voar

uma cabeça avoada
que só sabe sonhar

tenho um jeito inibido
com um olhar caído de desencantar
quem desacata o meu refrão
quem não prefere falar palavrão
quem interfere na minha libido
é um caso perdido que eu sopro no ar

eu sou um peixe, um pássaro, um morcego
eu não sou cego, meu eixo é tímido
sou tão menino meu tempo é verniz

tenho um pé no chão
uma cabeça de balão
voando tão alto
um sapato no asfalto
uma nuvem desmantelada
de cada pedaço disperso
que eu sempre sou

tenho um pé no chão
um dedo adiante da minha vista
um horizonte imenso
tão comprimido em meu coração

terça-feira, 4 de maio de 2010

premissa

uma vez dita,
qualquer frase é um livro simples
a ser compreendido,
qualquer léxico na parede
é uma rede desfiada
de código entre o limite
da lacuna e a premissa
do entendimento.

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