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sábado, 22 de fevereiro de 2014

O movimento das coisas

As performances da vida
são que adentram o espírito.
Preencher o corpo de ação
para desvelar a alma.

Se revela numa chama
a cera abrindo caminho
para que o pavio queime.

Chorar a fome alimenta
a boca com imagem
que os olhos
não podem ver – eles, os olhos,
derramam pela margem
de si, os excessos do carne...

Excessos de vazio e abundância...

Há no degrau uma seta que sugere
descer ou subir.
Eis que se gera a cinética do mundo.

As borboletas afagam o nosso ego
de beleza, assim como vaga lumes
acendem a curiosidade das crianças...

Comove me o movimento das coisas.

A porta abrindo e fechando
sem comportar ausências no seu vão de entrada,
o ranger da dobradiça enguiçando a janela

que registra a rua para além do horizonte
que fecha, com sua taramela,
o escuro lá fora quando pende a tarde
num revoar de andorinhas...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Começo e fim

Começar uma poesia
é como começar a vida...
o verbo invertebrado da palavra
se conjuga sempre
no infinitivo presentificando
o estar na vida.
Um sujeito caminhando
não modifica
seu caminho,
o caminho é imutável,
caminhar não.

Ainda gosto muito da maneira simples,
sem luzes de vaidade pairando sobre mim.
Sempre gostamos mais do que se nos assemelha,
pois viver sugere proximidade,
aprender por osmose.

Começar uma poesia,
é como começar a vida...
Não lembro o princípio de tudo,
nem o findar das minhas estruturas.

Palavra, é vestir o homem de propriedade,
com seu silogismo,
com seus elementos
de se fazer ser...

Acredito nessa forma irremediável
de me servir do mundo,
das coisas mais absurdas do mundo,
me encher de gente,
e ver numa calçada sem fim
meus pés sendo calcados
no chão desenhando uma biografia de passos
para depois morrerem soterrados
na palavra poeira...

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O mundo é quase nada

O mundo é quase nada
só é um grão de centeio
para quem cedo semeia grandeza.

O mundo é quase nada,
um ponto final na frase
de quem fecha o texto.
Ainda assim é quase nada
para quem sabe emendar
com reticências
as fronteiras imaginárias
de enxergar além do poema,

é quase nada, sem ser prosa...

Construir portas no muro,
asas no escuro, é quase nada,
fazer furos no infinito
para enxergar além.

O mundo é quase nada,
é quase tudo para quem nada tem,
um canto qualquer
na cumeeira do telhado
é morada para pássaro
que avista sempre além
de seu tamanho.

O mundo é quase nada
para quem sonha
infimamente,
e, ainda assim, nem coragem
tem para transformar
as realidades pequenas.

Se desejar o chão,
se desejar o ar,
se desejar inverter a órbita
de seus anseios,
é pisar firme a terra,
é esticar os braços, abraçar o mundo,
erguer a cabeça...

Não esqueça que olhar pra cima
faz enxergar o quanto tem para alcançar
e olhar pra baixo
faz ver que o que está lá
é que sustenta seus impulsos
para atingir o apogeu.

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