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terça-feira, 28 de abril de 2009

Cume

Colher abrigo entre quem mais precisa:
um abraço quase frouxo
pelo cisma de machucar,
quase apertado pela certeza
de aquecer.
Pelas escadas, rumo certo,
onde os degraus levam ao cume,
ali, póstuma vaidade pela espera inerme
com seus vergalhões sedentos
da ânsia jovem, sedentos
de uma euforia preliminar,
por vezes ignorada, agora
é nódoa seca na derme dos sonhos
que foram deixados de lado.
Ali, onde a vista alcança mais longe,
é onde mora meu costume,
minha teimosia de me encontrar
quase sempre esquecido.

domingo, 26 de abril de 2009

A dança das Tulipas

E m toda força que se tenta levantar
com o coração áspero,
tártaro esplendor dessas esferas que cospem o inverso,
em meu tálamo de cicatriz, aqui,
que o meu gosto sorve paladares,
que a minha boca prova amores,
espalho meu sal, minha fé imaculada
diante desse véu horizonte –tule,
que zomba da minha concretude.
Ah, que eu me abro! Ah, que a primavera vem!
Que a minha tulipa agridoce me lave os lábios,
sentimento acuado – hoje que aqueles olhos miúdos
estavam cansados, mãozinhas esticadas,
abertas, precisando esperança
e um sorriso doce de criança
me convidando a colher flores pela relva crua da manhã.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Entalhe

Aquele olhar de diamante
estava fonte de querer e diversão
com sorriso emblema
fazendo poema com um piscar de vento.
Aquela fronte serena,
morena tez sem vaidade,
já pescou saudade
por distribuir amor momento
de palavras ditas
pelo entalhe de sua gratidão.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Estrela nua

O ébrio se fechou
numa concha de mar
onde sorri para dentro
as lembranças outonais.
O ébrio pescou para fora
tudo que havia de recôndito,
agora é estrela nua
brilhando suas ausências
reveladas no cristal
de uma lágrima.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Aquarela em tom grafite

Provou o coco,
embaixo coqueiro e sombra
de espinhas dorsais balançando
acima folhas detalhadas,
entalhe de sol, desenho
em tela listrada de papel
caderno, brochura, e um sorriso
de nuvem esvoaçada pintando
alvorada pelas aves enfileiradas,
pato branco alçando vôo
diante do horizonte distante.
Aquele oco
não é mais que um sufoco
de vontades se espalhando
pela ponta do lápis em tom grafite
para desenhar seus sonhos
de aquarela.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Gamela

O vestido jogado por entre as pernas,
acocorada diante da gamela,
ela esfrega o encardido da roupa suja.
Ali, embaixo da goiabeira, a meninada
fazendo estripulias
e ela dá a “sua palavra” de que vai dar uma pisa
se quebrarem uma perna.
O cipó de fedegoso a espreita,
pronto para entrar em ação,
mas de coração, ela não é má,
dizem numa conversa fiada de botequim.
Dona Clemência tinha piedade,
ainda mais que o seu rapé a tranqüilizava
e contava mesmo umas histórias
de fazer inveja, causos do antigamente,
que até mula sem cabeça aparecia.
Velha preta, cabocla de Ilhéus,
Já visitou os céus e agora conta suas memórias
para os anjos arteiros do seu léu.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Calo-me...

Novamente, calo-me...
Silente manifesto aquilo que não desejo
e que vejo sem querer,
de incompreensão,
escondo a falta de atenção
que tenho comigo
para estudar os perigos que me rondam.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Correio aéreo

Um louco pouco lembrado
por cantos enquanto prantos se derramam...
Mas, certa coisa é certa, que após seu calcanhar
dobrado sobre seus mitos, ele amarrando cadarço
de seu All Star verde musgo
envergou-se sobre seu destino, ah, um menino
indo, ninho desfeito, pois seu defeito é ser calado
com sua teimosia de alado, se escondendo de cada lado:
“It's the next best thing to be free as a bird”…
Voando como a mensagem que chega via táxi aéreo
e trás uma notícia agradável
para os caçadores de sonhos,
àqueles a quem emprestamos nossa melhor
juventude que um dia explodira em fogos de artifício
e o fino disso tudo ser apenas a pena que eleva
onde ninguém mais pesa por falta de coragem.

domingo, 12 de abril de 2009

Para seguir meu rumo

Agora, que é hora de pensar
que aquela calçada estava mesmo em meu caminho,
pois desses tropeços inesperados,
a gente bem que sente um ar de aconchego
quando um abraço permanece pelas horas
com o travesseiro ouvindo os segredos
que ainda não foram revelados.
Agora, sobre os sapatos esquecidos,
foi quando olhei para o chão em fuga do teu olhar,
descobri que o seu vestido estampado
revelava mais que suas sandálias havaianas,
um instante em desconcerto,
mas aquela esquina bem podia esconder minha vergonha
e eu queria fugir e ficar.
Agora, que qualquer bilhete de acaso
quer mesmo é dizer que ainda estou aqui,
que eu não saio mais por aí a procura de nada,
pois sempre encontro alguma coisa, um alguém que me encontre
e até um cão vira-latas para seguir meu rumo
de moleque perdido que não sabe onde quer ir.

De vez em quando

Às vezes pego o violão
um documento no chão ensaiando um abandono
qualquer recado pra revelar
a minha saudade que eu tenho de outro lugar.
Às vezes, cansado,
eu abro a geladeira e descubro
a minha sede de silêncios que teimo em fabricar
de amanhãs imperfeitos com sabores surreais,
sabores frios como lábios que provocam calafrios
pelas abas do meu corpo.
É que eu quero descansar ouvindo a madrugada
me fazer cócegas quando as estrelas
se esconderem por detrás das nuvens,
aqueles pirilampos viajantes que procuram
revelar a fantasia por onde passa despreocupado o nosso sonho.
É que eu sou um poema descuidado
que entra pela janela da tua casa e sussurra canções
com esses acordes de vento
e me faço sentir sempre uma sensação de alívio
por rabiscar, de vez em quando, esses versos desrimados.

Melhor humor

Que eu ache num sorriso
belo, discreto ou escancarado,
tudo que eu preciso
para fazer do meu melhor humor
minha dose de vida
de qualquer hora do dia,
de qualquer instante descuidado.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Páginas desbotadas

Dessas páginas desbotadas,
carcomidas pelo tempo da leitura,
fica algum distante de goteira
pingando ferrugem
da torneira mal fechada.
Ali, a platéia de livros mudos
assiste sem pressa de acabar
as histórias descobertas
pelos olhos quase fechados
de um dormir curioso.
Dessas páginas em branco,
pois de rabiscos ficaram apenas
as reticências incompreendidas,
nascem os horizontes que agora
brotam fontes de saber.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Vícios e Virtudes

Meu lugar é quando olho para mim
e vejo que os meus erros
e acertos foram por conta
das escolhas.
É assim: a porta está aberta
e a gente decide sair
com uma bagagem velha
que ajuda a escolher as novas
que irão ficar.
Os vícios que se foram
ajudam a modelar
o caráter da virtude.
Se algum permanece e irrequieta a alma,
é porque ainda não voltou o olhar
para ti mesmo.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Tergal amarelo

Havia um encanto de tecer palavras
rabiscando nos vidros da janela
qualquer coisa de alegria,
qualquer coisa de palavras
que de vez em quando o vento lia
em olhares curiosos
que ficavam para trás.
Havia a gente hospitaleira
que recebera, de braços abertos,
a bagagem de saudade
trazida numa embalagem
de cansaço – coisa sem importância –
que o pequeno bornal guardava
aconchegado no calor
de seu tergal amarelo.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Gente, samba e tambor.

Ao som do tamborim
um samba cantado
e a gente, santidade em alegoria,
sambando um bar, cavaco e violão.
Cartão postal de minha cidade,
as pernas longas balançando o corpo canção
fazendo gíria com a simpatia
gemendo saudade e alegria
no embalo do tom,
halo suporte de fé, de gosto,
de sorriso escancarado
gingando o dia
com a malandragem chorosa
da cuíca, uh, uh,!
Tum, tiquibum, bum, bum!
E o tambor entra protetor
e padrinho das tardes
de dias ensolarados.
Ah, essa gente tem samba no pé!

domingo, 5 de abril de 2009

Como dizer que ainda estou aqui...

A tua voz já calou... Agora é dançar ciranda
pelo teto – nuvens desmanchando, caindo, caindo
pingos d`água visitando os olhos pela janela
em risquinhos miúdos, chuá, chuá.
Gente banida e a sala vazia
fazendo buzina lá fora na avenida
e um apelo com sua cor de gelo
transparecendo aquela verdade,
um sabor menta que nem mais o menino agüenta
sem pedir mais, mais. – Mãe, dá-me seus sinais!
Fumaça começando a arder pela vida parca, escassa
e tão febril essa necessidade esperança
de começo de abril quando ainda há arruaça
de menino feliz, pelo olhar espichado,
da moleca que ficou a rir com sua dança
de bailarina feliz.
Hoje, por um triz, eu não deixei escapar
que ainda estou aqui: um gole de vento com sabor de chuva.

sábado, 4 de abril de 2009

Quase cafona

Agora era, talvez,
sair pela cidade sorrindo,
acompanhando
as luzes azuis metálicas,
um romance desinibido,
um uniforme de beijos
quase cafona - encontro
pelo espanto dos arranha céus
nas cordilheiras urbanas:
abraços afogados,
pirralhos disfarçando seus olhares,
curioso, ah, assim, curioso
é mesmo esse beijar
de curto alcance
onde o lance é mesmo
espairecer o encanto
com seu vestido rodado
de estampa em seu tom azul floral...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Herói

Ser filho e pedra
o pão e o bolo, massa uniforme
untada a mão, meu pequeno guri
lendo histórias de saci,
uma espátula raspando os excessos.
A linha hábil esticada nivelando
a juventude e a idade madura,
um braço forte de descer machado,
a língua própria do ninho,
assovios de canários,
pássaro preto de casa.
Tudo é orgulho, tudo é benfazejo,
é o desejo desenhando
a nobreza, desenhando sonhos
que cochilam no alvorecer
das noites que os pirilampos
já sumiram pelo vão da memória.

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