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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

novembro

tampouco vestido de palavras,
veio a mudez calar meus versos.
tampouco o ensaio perdido
que rabiscou cócegas em me coração
foi apenas tudo que deixei falar...
horas tolas que o tempo
não molda, que o momento assola
pirâmide de enleio, hoje cedo,
masturbando minha sonolência
com bocejo e preguiça.
agora é arregaçar as mangas,
curtir a estação chorosa
em gotas de orvalho e desejar
novembro abrir em flores
nesse meu sorriso...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

cacos de telha

deixei para mais tarde
meus cacos de telha,
o bilhete amassado
que eu não terminei,
aqueles desalinhos
que eram peleja
de revelar
qualquer parte minha
desse enleio
de amor... deixei...
...qualquer parte
esquecida ao cais
do instante,
pois mais do que antes
é ingrato o meu sono
que me consente
dormir ao revés de sonhar...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Oco

Desembrulhou com cuidado
a saudade que eu guardei,
foi um encontro descuidado,
na acuidade que eu não sei.
Hoje despertou o mar na aurora
do teu encanto de verso,
pois confesso agora
o fim do meu olhar disperso,
esqueço essa rima de teima:
vou lançar no cais aberto
ao longe, o que em mim queima:
essa vontade de estar mais perto.
Sou trôpego e o vento varre
teus cabelos aos lençóis de areia
tamborilando canções que jazem
tardes distantes, horas que antes
eu não pude gritar, horas que antes
eram açude, oco cortante,
horas que antes eram vazio,
pois sou como frio que necessita calor,
sou como palavra que necessita calar.

domingo, 25 de outubro de 2009

Fome

Dos dias tristes
eu quero a fome absurda
e estrangulada de sorrir...
Eu quero a fome de inventar
paradoxos para tudo
que é absolutamente estranho,
pois minhas tripas contorcem
e abnegam do que eu não vomito,
pois cômico é todo o saber,
triste é toda a certeza,
essa correnteza insensata
defumando a vida
como um incenso que queima
e afasta toda insurreição,
toda rudeza para longe desse fim...
A minha mania mais evidente,
desculpem-me,
é a de enxergar nessa fome
a fé que eu não tenho...
Eu quero comer a fome
imensa do mundo
e me fartar de desespero...

Um blues

Essa tarde é um blues
repicando soul nesse suor cansado,
sol chorando saudade de ontem,
aquele mormaço enxugando
calado o soluço covarde
que deixei para trás...
Depois veio um riso em nuvem
para cobrir o que ficou de lado:
aquela vontade de esquecer
que eu não estive por aqui.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Evanescência

Da noite ausente,
trouxe comigo a bandeira do pó que eu não fui:
sestro imaginário de coibir minhas exatidões,
eu, torpe e fantasia, gauche sem nome,
infame que adestra o bater de asas
desse mundo anil.
Ganho canções – disse-me toda voz
continente ao que calo – venço,
pois, do infortúnio do saber, sei apenas o que minto
descaradamente, sou ébano e entorpecimento...
Diriam que sublimo do tanger do dia
o absoluto do absurdo, surto imperfeito de me ser.
Ora, não desejo o póstumo do riso,
nem o subterfúgio do abrigo que colho.
Permaneço atento às oscilações
de cada face que contemplo às chagas do vento.
Esse guizo incoerente latejando a têmpora
do meu viver, é cada detalhe que busco,
é cada entalhe fosco, brusco germinar das horas,
que semeio com esses olhos vorazes
a me espreitar a alma mais antiga,
a me fazer fuligem dessa pobre carne que fenece
ao tom mágico desse esvanecer como fumaça ao léu...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sem limite

Sobre a mesa,
um prato raso de espera,
qualquer palavra solta
para preencher a boca
com o que há de verbo...
Sobre a folha,
um rabisco se desenhou,
foi o instante que eu quis,
fugir desse dia gris
qualquer letra miúda
para soletrar essa graça
de fabricar poesia.
Sobre o céu,
foram reticências que
ficaram ao acaso
do poema que se
desmanchou ,
um rapto de sonho
que o meu tamanho
sem fronteira
não preencheu de ilusão.

domingo, 18 de outubro de 2009

Café da manhã

Sobre a mesa,
um prato raso de espera,
xícara quente de café com leite
e um vazio prestes a ser
preenchido por fatias de pão.
Aqui, comemora-se
o silêncio e a esperança morna
de caber ali,
naquele instante guardado,
teu riso leve de companhia...

sábado, 17 de outubro de 2009

Reticências...

Teço a noite calma dentro de mim,
um delírio consome essa febre de amar,
agora – todo ser capricho –
em lufadas e adorno,
que eu me risco como um espelho
prestes a ser quebrado,
dura semelhança de mim
camuflando meu riso triste
em pequenos cristais de fim...
Sou torpe, entorpecimento
de calar apenas o que não sinto,
pois, delgado e leve,
sou víscera desses meus tormentos
donde rasgo meu verbo
num tempo de sutil instante,
têmpora de agora morando
apenas o que termina em reticências...
Minha vida começa onde
termina meu dia. Parágrafo final
de estabelecer meu pranto de espera,
doce e terna madrugada,
meu samba das horas mais tortas,
tombo meu jardim ao baque profícuo
desse encanto que me convida
sempre para dançar...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

desvelo

ao querer,
espero... voltar para mim tudo
que foi em vão,
a poesia em retalhos no desvelo
da minha palavra rústica
atinando com o espaço e o tempo,
essa lambança de verbos,
essa hemorragia de versos.
cumpro primeiro em descalçar
meus pés, andar ao largo
do desespero, fazer tempero
de destroços, para alimentar
meu ócio de espera.
no confim desses vocábulos
é onde mora minha solicitude,
é onde mora minha solidão.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

À revelia

Trouxe,
dos campos abertos de batalha,
a dose certa de coragem
para vencer minha covardia,
esse desatinado medo de amar
onde fui, à revelia do meu desespero,
uma tempestade insurgente
de mansidão,
lago de calmaria da minha entrega
esperando esse tempo
assentar em mim com algum
resvalo desse amor inteiro.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Pelo sereno

Em minha ruína diária,
trago a força ambivalente
do meu sótão de tristezas,
asperezas essas que
indignificam meus restos,
meu entremeio de acolá.
Pela acuidade das horas,
verseja áspide e indolente,
o ritmo sem cálculo que já foi meu fim
e, agora, tão puro e – quando minto –
sinto tão somente um rol
espargido num fim absurdo...
Há um casulo de idéias
arando meu arauto
de confinamento,
pois minha alcova, ó cetro
que devora minha mão,
é armadura amarga
que consola-me em tenras
horas da minha madrugada
sem orvalho.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Porvir

Se agora preencho todo caos
que em mim há,
é porque não sei adivinhar
as órbitas inefáveis desse porvir,
pois todo dia eu morro
uma tarde de inverno,
todo dia eu nasço dessas pedras
que maculam meus pés.
Se agora sou zás pretérito
de um fim de ladeira,
é porque minha pressa
já não me faz mais ir adiante
do meu presente,
tão sôfrego, tão célere
de calar apenas aquilo que
não sei dizer, não por falta de palavras,
por falta do que sentir.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Dia após dia

Mais dia menos dia,
quando todas as coisas ficarem para trás,
quando toda a ferrugem carcomer
esses ossos de ofícios meus,
quando toda palavra findar de meus versos...
Mais dia menos dia,
quando todos os pequenos
brinquedos forem pisados
pela estrada tão longínqua,
quando todas as portas
de espelhos reluzentes
estiverem fechadas,
quando toda calçada não for
mais de ladrilhos ornando
meu passar, nem mais levar meus pés
para o abismo da solidão,
descobrirei, talvez,
que o amor era meu melhor caminho.
Descubro então, que me cubro
sempre de palavras
para revelar meu coração.

domingo, 4 de outubro de 2009

Desembarque

No labor das horas
vive e destroça o punho cego,
punho cerrado, apanhado e trôpego...
Vive e destroça toda rima e toda joça,
minha cadeira de palhoça,
moça desenhando riso
sobre um manto de silêncio,
meu pêndulo esquece agora
que à tona vem em mim,
roliços, esses eriçados pelos,
elos de uma estação medrosa...
Esqueço em mim um zelo
que se manifesta,
esqueço em mim uma canção,
esqueço em mim a madrugada fria
onde costurei meus sonhos
com tua ânsia de pressa.
Procuro calar a calma,
procuro falar a alma
dessa pele nua, desse dia cru...
Prefiro teu aperto quando
despertas em mim
lembranças dessa ternura
que ainda não tive.
Aqui se vive pedra quando
se permite inundar de nuvens.
Agora as palavras dançam em
mim quase uma estação de desembarque,
porque espero um abraço
que ainda está guardado
em teus braços.

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