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domingo, 4 de maio de 2008

Ira cinzenta

Quem são eles que chegaram brancos,
Que, aqui e acolá, caminham mancos
Alguns nos bancos, outros nos flancos da imaginação
De uma nação de ninguém?

Quem são eles, vestes luminosas resplandecentes no cetim,
O vime como cetro que rege num trono de marfim,
Caçando um fim, dançando a hora, mastigando o tempo num lapso de existir?

Quem são eles, fios e farrapos como pratos na mão,
Como vermes que cuspiram a sujeira nas faces mais cândidas
E rodopiaram os vestidos das mocinhas que se recusam a digerir a abundância
E ainda estão no limite, ninguém tolera?

Quem são os “malditos”, quem são os Beneditos
Nos olhares de ébano que lustraram nossa carne
Que rosada virou parda, que parda virou o tom,
Que ditou o som da nossa dança mais moleca?

Quem são os tambores que estão na cor, ação
Conjunta que move a máquina do mundo,
Que agora é apenas um sonho de liberdade
Pois a herança ainda se faz presente
E o capitão não precisa de mais mato?

Quem é essa gente que não sabe que a carne mais podre
É ainda mais pura do que aquela que já apodreceu a alma
Por não saber que o melhor trono é a inconsciência mais plena
Regida pelas sombras majestosas da eternidade
E que faz a tudo a e todos apenas meros nadas?

Quem é? Quem são? Quem se importa
Com uma porta que está sempre fechada,
Com uma casa sempre vista pela fachada,
Com uma veste que é apenas anágua
E a água mais limpa é sempre vertida pelo suor?

Quem são? Ioruba, caboclo,
Curumim com a palma da mão aberta,
Um sorriso rosado por trás dos vidros escuros,
Um olhar assustado, um limite imposto pela ignorância
Dos mais sábios, pela sabedoria dos mais simples?

Quem aceitou toda essa merda?
Quem foi que disse que é preciso haver campos delimitados,
Que é preciso mentir para conquistar a verdade,
Que é preciso matar para conquistar a liberdade,
Que é preciso vencer para conquistar a vitória?

A vitória... a vitória minha gente, a vitória?
De quem é a vitória, de quem é a glória de andarmos na lama?
De quem é esta cama de gato feita por nós mesmos?
É tudo cinza, ninguém ver, mas é tudo cinza.

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