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sábado, 28 de julho de 2012

Distância

Eu vejo, inaudível, o silêncio dos homens
perambulando como elefantes rumo à morte esperada.
Capturam o esmo como companhia de sufocar a solidão.
O homem preso em si mesmo.

E não há nada de especial ou tragédia
que assole as vitrines,
que o esconda, que o arranhe
com um espinho e trace uma ferida de engano
pela atmosfera invisível de ser.

Rompe com a vigilância de ser criança,
a síndrome absoluta de viver,
de ter, de ir à luta, de vencer.

Eu percebo nas cirandas da minha memória
o orvalho que umedeceu
as pálpebras de alegria. A vida grata.

Um homem sentado num banco de praça,
a própria graça prisioneira em personagens
criados para divertir as horas vagas,
a cabeça intacta
para esvaziar da estafa de ser sozinho.

Não deixe só o teu destino
na masmorra que  te divide de ti mesmo.
Não te agrades das grades que crias
para delimitar que a rua, tão cheia de gente,
fique vazia.

Perímetros urbanos são invisíveis,
como são surdos os gritos
que a voz, silente, brada numa delicada
tentativa de dizer bom dia!
Para se fazer existir?

Homens e mulheres de botas pretas
escolhem as cartas que amanhecerão sobre a mesa
e agora, como um mofo,
esperam a hora do jantar
para se constituírem em família.
E as xícaras, souvenires de viagem,
com os nomes inscritos,
revelam o lugar de cada um.

A vida é presa em etiquetas.

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