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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Diário de um ébrio

Andam dizendo por aí que o poeta está morto, que sucumbiu aos cuidados e zelos que, talvez, o amor proporciona. Pois bem, poeta que é poeta não morre. Neruda disse: "se nada nos salva da morte, ao menos o amor nos salva da vida". Assim, na comiseração dos atos do poeta, antropofagicamente atestando sua lucidez, digo que o mesmo não morreu. O poeta é cosmopolita, não flerta com a unimidade. O poeta, antes, entregue à sua inconfidência, é uma larva no mundo. Perambula aos zelos, seus e de outrem, para confeccionar uma plataforma poética diante de uma realidade ou utopia que só ele enxerga. Agora quero dizer de liberdade. Essa palavrinha estapafúrdia sempre me foi um tanto estranha. Propagam a liberdade dos seres pelos quatro cantos do universo. Mas esse conceito filosófico de liberdade é retrógrado e vil. Pois no âmago da alma, nenhum ser é capaz de aceitar a liberdade do outro sem configurar no seu ego um sentimento de perda. Cria-se um elo de ligação tão extrema que, ao menor sinal de ruptura, o alarme da mesquinhez soa aos ouvidos dos elfos e anões do mundo dos contos de fadas. Liberdade é, antes de tudo, aceitação do outro. Isso é o mais difícil e que nenhum livro especializado consegue dá a receita. Liberdade não é andar por aí nú, fazendo o que bem entende, entregando-se à prevaricação do instante para dizer-se livre. Liberdade é assumir uma condição consciente no mundo, assumir desafios, assumir diante do outro que é capaz de ser diferente diante de tantos iguais. A filosofia não existe no mundo para explicar as coisas, existe para entendê-las. E o poeta, que não é bobo nem nada, apenas utiliza de todas as ferramentas para disseminar a poesia nos corações mais duros. Sim, o amor não é uma prisão, é uma forma de construir poesia pelos olhos em febre. Ter medo do amor é ter medo de sorrir. Sofrer é apenas um instante sobreposto por outro de alegria. Ou Vinícius de Moraes, que foi o Rimbaud do amor brasileiro (quesito liberdade para amar, não comparem estilo literário) não era poeta. Ou Drummond que, na sua pacata condição de viver, escrevia divinamente. Sim, eu bebo, sou poeta sim senhor. Mas a davassidão da minha alma nada tem a ver com a minha forma de viver a vida. Cada poeta reflete na sua arte sua condição de vida. Pois bem, ainda falando de liberdade: "Quem for igual ao outro que o prove e só é digno de liberdade quem a sabe conquistar". - Baudelaire. Para finalizar, digo, o poeta está vivo, foi ao inferno e voltou e ainda bebe com os amigos que ainda o aceitam como tal: "Para não serem os escravos martirizados do tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher". - Baudelaire. O poeta Maranhense Nauro Machado que o diga. Eu prefiro me embriagar com cerveja de boa qualidade, poesia e virtude. Poeta que é poeta tem personalidade de assumir sua condição no mundo, seja ela velha ou nova.

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