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domingo, 5 de agosto de 2012

Ausência

Quantos aviões preciso
para levar embora meu desespero?

Meu medo de altura, minha falta de fé
de que abaixo do chão não há precipício.

Caio, sob o peso da ausência,
pelos buracos e pedras
que encontro pela calçada da minha rua.

E os balaústres vigiam, do alto das fachadas,
o caminhar cocho das pernas sem esperança
ao encontro do que adiante é bonito.

As portas ornamentam, entre trincas e correntes,
mais do que uma fechadura - são grades -
prisão que acolhe para si
como sentinela a espreitar o que ocorre lá fora.

E as janelas, entreabertas, revelam o esconderijo
que salta por detrás dos olhos famintos
de gente.

A rua é silente, apenas o silvo do vento
e o espectro da fumaça esvaindo-se
a cada trago no cigarro do jornaleiro.

Quantos maços são preciso
para alimentar o vício e a fome
de apascentar a angústia, o que não tem nome?

Vou-me embora; e retorno cedo
e assisto a ópera sem segredo algum
que se revela pelos gritos da rua de paralelepípedos.

Trancos, solavancos, carroças onde encontro,
na pujança dos meus dias,
a minha sorte de ser feito de ferro por fora e, por dentro,

derramo, visceral, um sentimento maior desse mundo.


Um comentário:

Quintal de Om disse...

Creio que a ausência seja ainda, aquela que pinta os olhos, colorindo-os de distâncias sem que haja pranto algum por isso.

Texto muito (bem) expressivo, como todos os teus escritos.

Beijo na alma,
Sam

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