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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Olhar de vidro

Todo dia se arrastava para fora do casulo, o bicho ainda zonzo, mas não alçava voo. Quisera, dentre as melhores condições, não empalidecer com a consciência ainda turva diante do tilintar teimoso do relógio, que registrava cinco horas. Morrera de mal súbito no dia anterior e ressuscitava sempre com o esqueleto ainda doído de preguiça. Era um vertebrado que, em dias de sol, pairava sobre a pressão atmosférica do dia. Estafado e inconsciente rumava indisposto, mecanicamente para o que chamavam de sucesso. Era um sucesso estremecedor, pois seu casulo, espécie de abrigo ancestral, era cúmplice de seus martírios e dores que a vida gasta lhe proporcionava. Por isso não havia fragmento algum de riso ou de lágrima em seu olhar de vidro.

Um comentário:

Sueli Maia (Mai) disse...

Olhar despido e só. Mas o olhar tem sempre algo de nudez.

beijos

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