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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A memória do garçom

“Putz, passamos da estação!” Essa era a sensação após desembarcarmos na Estação Trianon-Masp, em plena Avenida Paulista para um happy hour de meio de semana, quarta-feira, para ser mais exato. Segundo minha bússola interna de botequeiro casual, deveríamos ter descido na Estação Brigadeiro, que fica mais próxima do espaço cultural Haroldo de Campos, mais conhecido como “Casa das Rosas”, que era o ponto de referência para o boteco do Márcio. Pasmem, o nome do garçom também era Márcio. Ora, será que os Márcios possuem uma leve tendência a desenvolver suas aptidões voltadas para o lado boêmio da vida? Não confundamos, ele, o Márcio, estava a trabalho, nós (esse nós eu ainda não identifiquei aqui) estávamos de bobeira, dando seqüência de uma botecagem iniciada na Vila Mariana, onde estivéramos antes.
Mas juro, minha intenção não era sair pela cidade, apesar de que nada implica para mim, já que estou em pleno gozo de minhas férias, primeira semana, e ainda não havia feito nenhum programinha desse tipo. Mas, para relaxar, segundo convite auspicioso do meu amigo Adê e seu irmão Ivâ, (se fossem russos, diria que o patronímico dos dois era (nildo), pois ambos possuem essa terminação, mas é uma abreviação que cabe apenas aos amigos, como assim me considero...) resolvemos dar uma esticada. Concordei, afinal, tivera eu um lapso de estresse num cartório momentos antes, num processo de reconhecimento de firma, e essas burocracias todas e, normais. Então, vamos lá...
Ah, putz... mais um (putz). Pior que descemos e, a passos largos, fomos andando de volta, rumo ao boteco. Mas o putz era pelo fato dos meus dois amigos estarem apertados (desejo argüindo na bolsa de suas bexigas de se explodir num mictório qualquer). E você? Podem me perguntar! Ah, agora eu os pego, não bebo, apenas suco e refrigerante, rs. Peguei vocês. Eu estava tranqüilo quanto a essa sensação desagradável de querer (mijar) a qualquer custo. Sou botequeiro, sou boêmio, mas não consumo bebidas alcoólicas, pelo menos nessa minha fase da vida. Mas já consumi em outros tempos.
Bem, ok, vamos ao que interessa. Chegamos lá, o Márcio, nosso conhecido já foi logo dizendo:
- Vão ter que esperar, o bar (boteco) está lotado e não há mais mesa. Mas aguardem um instante somente, que já tem três (mesas) sendo desocupadas.
Decidimos que iríamos esperar e assim o fizemos. Nosso bom garçom não era dado a mentiras e, logo, surgiu com uma mesa. Foi quando ficamos a contemplar seu trabalho entre um gole de cerveja, a minha sem álcool, e uma beliscada num tira gosto. O rapaz era ágio por demais, diria minha mãe. Sozinho, atendia cerca de vinte mesas sem perder a conta dos pedidos. E ia para lá, e vinha para cá, com uma bandeja numa mão, garrafa na outra, quando não era a famosa porção de batata frita, ou com um x-salada cortado em quatro partes, ou com uma lata de refrigerante, além de se preocupar em limpar alguma mesa que acabara de se desocupar para outros clientes que estavam na espera.
- Caraca Adê, esse cara é foda! Atende todo mundo sozinho e não perde o rebolado, nem esquece nada, nem confunde as mesas!
- Ah, ele é bom mesmo! Respondeu meu amigo.
Esboçamos uma conversa acerca da valorização do trabalho, sobre distribuição de renda, essas coisas, e ficamos a bebericar admirando os transeuntes, melhor dizendo, as transeuntes passarem com suas belezas deselegantes de roupa de trabalho e postura de mulheres bem sucedidas (só postura, pois sabemos que o ambiente de trabalho da maioria dos escritórios requer esse tipo de refinamento na vestimenta, além do mais, sabemos que todos estão na batalha pelo ganha pão).
Lá pelas nove e tanto da noite, resolvemos fechar a conta. Antes porém, havíamos pedido a saideira. E ficamos aguardando. Foi quando começamos a duvidar da destreza do nosso querido garçom.
- Será que ele se esqueceu das nossas cervejas? Perguntei com cara de incredulidade.
- Acho que sim. Respondeu o Ivâ, com a cabeça.
Mas, tal qual não foi a nossa surpresa, lá vinha ele com uma garrafa na mão, a lata de cerveja sem álcool na outra, dando atenção para um cliente que o esbarrou no meio do caminho. Ficamos parados, de boca aberta. Pois tínhamos certeza de que ele havia se esquecido. Mas, triunfante. Entregou-nos nossa bebida, e, com um sorriso, disse:
- Pensaram que eu havia me esquecido?
E, com outro sorriso pediu desculpas e trouxe a nossa conta, não se esquecendo de dizer também sobre a caixinha do garçom, que fizemos questão de deixar, pela memória e ótimo atendimento de um profissional tão entregue àquilo que faz e tão desvalorizado diante de alguns clientes idiotas que acham que possuem o rei na barriga. E saímos satisfeitos pela noite ganha, não pela bebedeira, mas pela felicidade de sabermos que há tantas pessoas dignas no mundo.

3 comentários:

Quintal de Om disse...

rsrs... Putz!

Putz, putz, putz!

Gostei hein, me rendeu algumas risadas e por fim, admito que fechou com chave de ouro.

Bom seria se o trabalho de cada um fosse reconhecido assim, mesmo que anonimadamente.

Abraços, boêmio! rs

Eu disse...

Oi Márcio!

Impossível não sorrir lendo as suas palavras.
Os garçons trabalham muito...as vezes fico observando o vai e vem deles e a forma de conduzir as bandejas...Não é fácil!

Gostei muito de te ler!

Um abraço carinhoso

Beatriz disse...

Trbalhei uma noite como garçonete em um evento e vi o quanto essas pessoas trabalham... e quanto tem que aguentar dos clientes ignorantes...
bjo bjo

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