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domingo, 7 de dezembro de 2008

Quem me dera ser a flor e a vida

Quem me dera eu fosse o cerne
Que me conduz em cada passo
Do meu dia malogrado.
Quem me dera eu fosse o veneno
Que corre em meu sangue
Num fluído mais calado.
Quem me dera ainda fosse pequeno
Um sonho que em cada dia fana
A esperança da minha carne.
Seria eu meu defensor
Meu escravo e senhor
Nas horas estúpidas
E fúteis sem motivo de calar.
Quem me dera o mundo
Saindo livre do meu medo
E da minha inércia.
Eu não seria um reles mudo
Nem atiraria meu corpo
Às garras da ilusão.
Quem me dera eu fosse a pena
Que escreve os meus textos
E a palavra que reveste o meu saber
Num encontro dissonante
Entre o som e a beleza
Da poesia sem lírica e rima.
Quem me dera eu fosse um facho de luz
Nas sombras esguias que se camuflam
Na expectativa de um novo amanhecer.
Eu seria a áurea dos belos dias
E não entregaria o meu cansaço
Às mãos da ganância.
Estaria eu a sorrir junto das crianças
Ensaiando uma cantiga
Para colorir as horas meninas
No quintal da minha casa.
Escreveria um poema de amor
À minha amada
E deixar-me-ia levar pelos rumos
Da longa estrada
Que me levariam até ela.
Eu seria feliz
Se a canção que estou ouvindo
Chegasse aos corações
Mais brutos e toscos.
Eu seria melhor do que sou
Numa súbita inversão
Dos meus valores.
Eu seria a menina nua
Que posa para o artista
Numa sublime pincelada.
Seria o entardecer
Na paisagem mais encantada.
Quem me dera eu fosse um verso
Que reveste a vida dos poetas.
Quem me dera eu fosse a amor
Que emana do coração dos amantes
Mais afoitos e felizes.
Eu seria a mistura perfeita
Da essência que veste a vida
Num simples respirar.
Eu seria você a sorrir para mim
Numa junção transcendental
Entre o brilho dos meus olhos
Com esse nosso amor ardendo em chamas
Transbordando pelas beirados dos nossos corações.
Quem me dera ser a flor
E a fragrância mais sutil
De uma orquídea.
Quem me dera ser a pétala
E o pólen.
Eu seria fruto maduro
Numa grande árvore
Que me fornece o aconchego da sua copa.
Quem me dera eu fosse o vento
Entre as asas das grandes águias.
Eu seria a vida
E seria tão livre quanto o próprio viver.

2 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo poema !

Abraços de sua amiga, Juliana S. Valis

Dauri Batisti disse...

O bom disso tudo é que toda as vezes que a gente diz um "quem dera" desses que você disse, estamos nos treinando para ser aquilo. O "quem dera" é o reconhecimento dos limites, mas aponta para um horizonte. Avancemos!
Bonitas palavras.

Um abraço.

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